Resumo do livro ''O que é política''



Wolfgang Leo Maar no seu livro "O que é Política", aborda temas e questões do universo político de forma didática, a leitura do livro é facilidade por ter uma linguagem clara, não há dificuldade de compreensão do livro. Dividido em quatro capítulos, o autor de início nos faz uma breve apresentação, depois faz um panorama histórico do mundo da política do no Ocidental, para enfim discutir conceitos e instituições políticas.

Algumas questões discutidas pelo autor na obra merecem ser destacadas, como das relações políticas que são estabelecidas dentro da sociedade. O autor coloca que as relações com a política não se dar apenas com a política institucional, estatal. Nos seres humanos, somos seres políticos, praticamos no nosso cotidiano política, pois seja dentro do âmbito institucional ou nas relações sociais do nosso dia-a-dia estamos desenvolvendo relações de poder, atividade política fundamental. Para o autor o que existe na verdade são "políticas", diferentes e variadas propostas de política dentro da sociedade, que almejam alcançar o poder, o seu objetivo.

O autor também trata dos agentes políticos presentes nas sociedades modernas, que são os partidos políticos. A política partidária apresenta-se de lado uma relação com a sociedade e suas interesses; outra como política de disputa pelo governo, de seu controle na ocupação a frente do aparelho do estado. Outra questão levanta é o papel dos intelectuais, pensando a partir do trabalho do filósofo e cientista político italiano Antonio Gramsci, que reflete a respeito da função dois intelectuais na atividade política, para ele o papel do intelectual é elaborar uma proposta cultural e política, para transformação da consciência dos sujeitos visando uma transformação do mundo objetivo.

A política é vista por Leo Maar como resultado de um processo histórico. Assim este considera a atividade política, como uma atividade aberta ao movimento e a transformação constante. Trazendo uma visão histórica da política desde a Grécia e Roma Antiga, comenta atividade política destes homens precursores da democracia no caso dos gregos. O termo política foi cunha a partir da atividade social dos homens que viviam nas polis (cidades-estado) grega. Faz referência a Platão e Aristóteles filósofos gregos, que deram grande contribuição para o mundo ocidental com as suas idéias sobre a política.

Apresenta também o pensamente de Nicolau Maquiavel sobre o Estado e o governo. Este faz uma distinção entre política de Estado e de governo. Para Maquiavel o governo é agente da atividade política do Estado. Assim o dirigente deste governo – o príncipe - deve ter virtude, ou seja, capacidade política para poder se sobressair diante os acontecimentos políticos, para se permanecer no poder. Além disso, o príncipe deve possuir força e astúcia para se governar e ter sorte. O autor considera que estas idéias de Maquiavel podem ser acessíveis a todos, sejam os que lutam para alcançar o poder ou os que estão no poder e nele querem permanecer. Citando novamente Gramsci, lembra que para ele o príncipe moderno é o partido político, e sua meta é ser governo, assumir o poder do estado.

Outro pensador apresentado por Leo Maar é o alemão Karl Marx, que no século XIX elaborou a sua teoria os modos de produção. Segundo Marx a política – é uma disputa entre as classes sociais, aqui para ele o Estado representa uma classe, que o submete aos interesses dessa. Nesse sentido a atividade política deixa de ser espaço exclusivamente do Estado, para passar a ser luta de classe. Para Marx, a "política" é atividade que resulta da luta entre as classes sociais, dominados e dominantes, exploradores e explorados, assim cabe a classe explorada, o proletariado desenvolver uma atividade política que vise superação da sociedade de classe, o capitalismo, na busca do socialismo.

Depois de feita está retrospectiva histórica da política e dos teóricos mais conhecidos o autor, passa a discutir a atividade política o Estado e o cotidiano. Questionando qual o significado da política na sociedade brasileira atual, qual o seu papel na vida das pessoas. Utilizando como exemplos vários momentos da história do nosso país, demonstra como a política é um terreno sujeito a imprevisibilidade, a mudança, a transformação. Destacando que a atividade política deve ser entendida como ação prática, transformadora da realidade, da história, deste modo Leo Maar nos mostra que existe diversas orientações possíveis na política, que almejam ao poder.

Comentando sobre o Estado, a atividade política institucional em torno deste – mostra que este foi desenvolvida pelos homens ao longo da história – como forma de organizar a vida coletiva e o atendimento dos interesses comuns. Destaca funcionamento do Estado para com a sociedade, a forma que este pode atuar sendo poder agente de coerção, dominação e imposição ou pode ser agente a persuasão, do consenso, ou seja, pode agir através da coerção ou da hegemonia.

Assim o Estado pode agir de forma coercitiva impedindo uma passeata de protesto de estudantes, como por exemplo, a situação que ocorreu no Estado da Bahia em 2001, que foi retrata pelo documentário "Choque", gravado mesmo no calor dos acontecimentos, em que a polícia militar, instituição de repressão do Estado, invadiu a campus universitário da Escola de Direito da Universidade Federal da Bahia, que protestavam contra a corrupção e mandonismo político do governo do Estado e pedia a cassação do senador Antonio Carlos Magalhães acusado de fraude no painel eletrônico do senado federal.

Nestes momentos que devemos nos questionar sobre o poder e a legitimidade do poder do Estado, dito democrático, mas que em nome da ordem, se impõe com o uso da força do seu aparelho repressivo. Situação como está nos lembra dos anos da ditadura militar no Brasil, que vivíamos em Estado de extremamente autoritário, repressivo, não admitia a oposição popular, mas está situação na Bahia em 2001, passados 16 do fim da ditadura, nos provoca pensar se vivemos em um Estado de fato democrático, em que a liberdade de expressão e manifestação é respeita. O vídeo ecoa as explosões das bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta, e os manifestantes exprimem o seu grito de ordem "Polícia é pra ladrão, pra estudante não", são cenas de horror na ação da polícia e desrespeito a própria constituição federal que prever que em área federal no caso o Campus Universitário da Universidade Federal a força policial dos Estados não pode adentrar.

Leo Maar demonstrando a sua influência marxista da sua formação define de forma clara qual é o objetivo do Estado dentro da sociedade capitalista e da democracia representativa burguesa – "A finalidade específica da política institucional, do prisma do Estado, é a imposição de uma estrutura econômica à sociedade". (p. 55). Baseada em classes sociais, na imposição de uma estrutura econômica na qual se perpetua a miséria. Porém muitas vezes a política institucional do Estado, de classe, é apresentada como interesses gerais da sociedade. Mas apenas alguns cidadãos são de fatos representados, o Estado atende os interesses destes, da sua classe.

O autor também uma diferença sociedade política e sociedade civil. A sociedade política diz respeito à administração pública, poder judiciário, as forças armadas, já a sociedade civil é onde estão os partidos, escolas, empresas, os sindicatos, movimentos sociais e populares. A sociedade civil tem as suas próprias instituições para levar as reivindicações ao Estado, sendo os partidos políticos as principais instituições, mas também os sindicatos e os movimentos sociais. Ressalta ainda que não se dever confundir sociedade civil com oposição, deve-se entender como os agentes políticos que está fora de âmbito do governo. Portanto a atividade política do Estado visa obter o consenso da sociedade civil, torna-se hegemônico. Participando da sociedade civil estão os movimentos sociais, que fazem a política de base. Os movimentos sociais gozam de autonomia, diante a política institucional, tem objetivos e direção definidos, fazem pressão política diante o Estado exigindo o cumprimento de direitos sociais fundamentais. Entretanto na sua luta cotidiana seu objetivo não é a ocupação do Estado.

Também é discutido no livro a relação entre política, cultural e ideologia como se dar a manifestações da cultura no plano da política, certo de que manifestações culturais aparecem como meios para a realização de objetivos políticos, assim o autor destaca que a cultura não deve ser esquecida pois ela tem uma função política, ou seja, está pode ser usada com uma finalidade política. Assim sendo a classe dominante tenta impor uma cultura a sociedade, como se os valores fossem universais.

A cultura se torna em um apoio ideológico de orientação política, para legitimar o poder da classe dominante. È por isso que Georg Lukács filosofo e político húngaro, observar na cultural uma forma de estratégia política para tomar o poder, a partir da elaboração de uma nova política cultural, é possível desenvolver uma nova consciência de classe, através de uma revolução cultural, desenvolveria a própria sustentação ideológica da Revolução.Ver-se aqui a instrumentalização política da cultura com finalidade revolucionária.

Como a classe dominante também faz uso da cultura com uma função ideológica, assim a tanto o uso da cultura como ideologia serve tanto para quem está no poder, ideologia conservadora, como para os que desejam mudar o poder através de uma revolução, ideologia libertadora.Gramsci chama isso de "guerra de posição" política cultural e ideológica promovida antes da conquista do estado, na luta revolucionária. Aqui entra novamente o papel dos intelectuais, que produzem cultura. A classe dominante tem os seus intelectuais conservadora, a classe trabalhadora precisa dos seus também, a sua presença é decisiva na elaboração de uma proposta política de classe, estes são os chamados intelectuais orgânicos, responsáveis pela proposta política.

A política também possui uma missão civilizatória – para além de uma forma de governo e atividade política, ele produz uma serie de valores e referências para a humanidade. A política também é cultural, ela molda comportamentos e sentimentos subjetivos que motivam a atuação objetiva de transformação da realidade, de mudanças na história.

O livro de Maar, e bastante interessante para pensarmos a política e a sua atividade hoje. Questões a respeito da representação política são levantadas e problematizadas, de forma que nos leva a perceber como quem de fato o Estado representa a que interesse ele defende, que a uma classe dominante que gere o Estado, a política institucional funciona de acordo com os interesses de uma elite econômica e política. A questão da democracia, será mesmo que vivemos em um país democrático? Qual o papel do Estado perante a sociedade? Quais os limites das ações do Estado? São questões como estas que Leo Maar nos incita a pensar, o que estamos fazendo, como seres políticos, para mudar a realidade política que não nos favorece de forma nenhuma, a não ser as elites a frente do Estado.

Outro pensador que o autor não cita nem trabalha com as suas reflexões sobre o poder, é o filósofo francês Michel Foucault, que estudou as relações de dentro da sociedade capitalista. O filósofo coloca que poder não está ligado só ao Estado (o poder político), mas está presente dentro de outras instituições da sociedade, como nas escolas, nos hospitais, nas prisões, nos sindicatos, etc. Para Foucault existem formas de exercícios de poder diferentes do Estado, a que agem de maneiras variadas, o poder não está só no Estado, existem relações e práticas de poder que permeiam por toda a estrutural social. Existe dentro da sociedade o que Foucault chama de micro-poderes, as relações de poderes presentes nas instituições sociais nas quais molda os indivíduos de forma disciplinar e padronizada. Outro ponto interessante no pensamente de Foucault a respeito do poder é a relação que estabelece entre poder e saber, assim segundo o filósofo toda forma de saber ela produz poder. São questões como está que merecem ser pensadas também, já que todos nos somos seres políticos e produzimos alguma forma de saber, no nosso dia-dia nas relações sociais, na família, no trabalho, na universidade estamos tendo relações de poder também.


Autor: edson silva


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