A Sabedoria Das Sucuris



O noticiário dá conta de queestudantes ocuparam as dependências da Câmara Legislativa de Brasília, para protestar contra o chamado"mensalão candango" ou "mensalão dos panetones".

Vi algumas cenas pela TV, e gostaria de saber que estudantes são esses. Custa-me crer que representem a mesma entidade que assistiu, a filosófica distância, ao "mensalão-chefe" de Roberto Jefferson e José Dirceu, de 2005, assim como aos recentes escândalos no Senado de José Sarney, para não falar em outras escaramuças de menor porte.

Custa-me aceitar que representem a mesma entidade taciturna, porque, para crer nisso, eu teria de compará-los a bombeiros velhacos, do tipo que não apaga o incêndio pelo fogo, mas pelo perfil do incendiário. Teria, em consequência, por natural curiosidade, de buscar os motivos da discriminação, sendo provável que, na busca, tropeçasse em siglas partidárias distintas, uma em cada tipo de incêndio. A possibilidade de topar com essa classe de lixo, francamente, me encaminha a outras considerações.

Por isso, prefiro imaginar que os estudantes revoltados contra José Roberto Arruda representam outra entidade. Melhor ainda: que talvez não representem entidade alguma, mas sejam espontâneos. Nesse caso, o protesto ganharia contornos da mais alta dignidade, e reforçaria a crença de que nem tudo está perdido.

Agrada pensar assim. Assusta imaginar que a manifestação contra José Roberto Arruda reflita uma jogada ensaiada em má fé, na mesquinhez de interesses partidários.

De todos os modos, uma coisa é certa: o escândalo do "mensalão candango", ao contrário do que poderia parecer a ingênuos, não conseguiu mobilizar o povo. E nem poderia fazê-lo.

Mobilizar como? Se o povo ainda digere o "mensalão-chefe", aquele mesmo de Roberto Jefferson e José Dirceu, engolido em 2005, e que permanece indigesto na memória e no estômago de doutas e supremas cortes.

Aquilo lá ─ o chamado "mensalão de José Dirceu e Roberto Jefferson" ─ deixou o povo paralisado, como se fora uma cobra sucuri que engoliu um boi chifrudo, e aguarda, chafurdada no lamaçal, a decomposição da presa.

Do ponto de vista da cobra, firmado na sabedoria de instintos primitivos, mais cedo ou mais tarde, putrefacta, a cabeça do boi rolará, e com ela os chifres. A  espera, então, terá valido a pena.

Do ponto de vista do povo, por ora, nada pode ser dito com segurança. Nem que a espera seja sábia, nem que sobrevenha alguma recompensa. Aliás, para falar a verdade, nem mesmo que haja um ponto de vista.


Autor: Osorio de Vasconcellos


Artigos Relacionados


Pra Lhe Ter...

Eu Jamais Entenderei

Dor!

Tudo Qua Há De Bom Nessa Vida...

Nossa Literatura

Midas

Soneto Ii