UM CASO DE SUICÍDIO



Eu fui um cara muito perverso durante a minha vida. Fui mau mesmo. Tinha uma força tremenda, talvez quinze homens não me venceriam pela força. Vivia xingando, falava mal, brigava e até matar gente cheguei a matar. Trabalhei no garimpo de um homem que ainda hoje está na terra, mas me proíbe falar o nome. Ele também trabalhava no garimpo.Tive muita sorte em todos os garimpos por onde andei. Dinheiro nunca me faltou no bolso.

Andava sempre sozinho bebendo pinga e tudo que viesse. Tinha uma cara fechada e não conversava com ninguém.

Nasci mesmo em Catalão, Estado de Goiás e fui apelidado pelo nome de minha cidade, mas acabei meus dias no Estado de Mato Grosso. Eu era mau por fora, mas não por dentro. No fundo eu me sentia inferior aos outros.Não sabia viver no meio de sociedade. Minha vida parecia um inferno. Quando eu bebia ficava louco, pois brigava, xingava e só faltava suicidar-me.

Uma vez indo ao garimpo, vi uma moça muito linda. Era bonita mesmo,toda branquinha, de pele aveludada. Senti um desejo imenso por ela e cheguei a falar-lhe. Seu nome – era Clarice. Ela era muito rica. Apaixonei-me completamente. Lutei imensamente, mas ela não me queria. E tinha razão, eu era um bruto.

Mudei de patrão e num pedacinho de garimpo fui trabalhar. Peguei um bocado de xibius (diamantes pequenos) e uma pedra rara. Fiquei rico. Fui à casa dela, mas ela não me quis ainda.Deixei muito dinheiro na mala para meu enterro e comprei um revólver. Tomei muita pinga e atirei em meu ouvido.Caí na hora e saí do corpo, mas toda hora que me lembrava de mim, aquela dor imensa vinha em meu ouvido. Eu caía de novo e perdia os sentidos. Três anos se passaram assim.Tiro, choque, tombo, tiro, choque, tombo. E uma tremenda dor invadia todo o meu ser.

Aqui tenho uma vida infernal, sem sossego. Vivo fugindo de mim, os vermes comem a minha carne, a podridão invadiu-me completamente, nado num monte de vermes podres, vago sozinho no escuro, não vejo ninguém, não ouço nada, a não ser otiro, ochoque eo tempo, além da grande dor do ouvido, pois meus miolos estão estourados.Fico revoltado comigo mesmo,mas já não adianta se lamentar de nada. O jeito é esperar que alguém venha-me socorrer, enquanto isto continuo sofrendo muito aqui onde estou.

Obs.Este conto é verdadeiro e se a família deste senhor,estiver à sua procura, fique sabendo que ele se suicidou no município de Nortelândia-MT em 1973.Ele deveria ter 34 anos na época e dizia que sua família residia em Catalão e adquiriu o apelido de Catalão.


Autor: Henrique Araújo


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