AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO DENVER II



AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO DENVER II ELAINE CRISTINA BELCHIOR.; FLÁVIA VAZZOLER BISCAIA; IVONE ZAHNN SAMPAIO Resumo Este trabalho, um estudo exploratório com abordagem quantitativa e de campo. Teve como objetivo avaliar o desenvolvimento das crianças de 0 a 24 meses, atendidas pelo PSF na UBS do Jardim Macedônia São Paulo, utilizando Denver II nos 4 aspectos: motor fino, motor grosso, pessoal social e linguagem. A população foi constituída de 216 crianças, do sexo masculino e feminino. A coleta de dados se deu no período de setembro e outubro de 2008. Resultados entre as crianças avaliadas observou-se que houve diferenças nas quatro áreas avaliadas como suspeito, totalizando (8,3%). A avaliação do desenvolvimento pessoal social mostrou o maior percentual, ou seja, todas as crianças apresentaram comprometimento neste item da avaliação, em seguida foram linguagem e motor grosso (6,0%) e, em menor proporção, o item motor fino (3,2%). Devido a pequena proporção de questionáveis em algumas das áreas avaliadas não seria possível uma avaliação adequada caso houvesse a divisão por áreas Conclusão com este estudo, pudemos observar a importância deste teste para acompanhar o desenvolvimento infantil e as possibilidades de prevenção e intervenção do enfermeiro no programa saúde da família. Palavras chave: desenvolvimento infantil, puericultura, Denver II, Abstract: Evaluation of the infantile e development according to Denver II Abstract This work, an exploratory study with a quantitative approach and field. The aim was the development of children aged 0 to 24 months, assisted by the PSF in the Garden UBS Macedonia Sao Paulo, using Denver II in 4 areas: fine motor, gross motor, personal social and language. The study population consisted of 216 children, male and female. Data collection took place between September and October 2008. Results between the children, it was observed that there were differences in the four areas assessed as suspect, total (8.3%). The evaluation of social development staff showed the highest percentage, ie, all children showed an impairment in this item of assessment, then were language and gross motor (6.0%) and to a lesser extent, the item fine motor (3, 2%). The low proportion of questionable in some areas could not be assessed an appropriate assessment of the case were divided into areas conclusion to this study, we observed the importance of this test to monitor child development and possibilities for prevention and intervention program in nursing family health. Keywords: child development, childcare, Denver II, INTRODUÇÃO Com intuito de melhorar o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde (MS) resolveu ampliar a rede de atenção primária em saúde que nos últimos anos, se tem observado uma redução significativa da mortalidade infantil no Brasil, que se deve pela melhora da política nacional de atenção a saúde da criança e principalmente pelo aumento da abrangência do Programa Saúde da Família (BRASILa, 2007). Através do Programa Saúde da Família (PSF). Este programa surgiu para aumentar o acesso aos serviços de saúde, reafirmando os princípios do SUS de universalização, eqüidade, integralidade e participação social, principalmente para os grupos de maior vulnerabilidade socioeconômica, favorecendo a diminuição das iniqüidades relacionadas à saúde (BRASILb, 2007). O Programa Saúde da Família vem aproximando os serviços de saúde à realidade de cada região, o que contribuiu para a melhoria nas resoluções dos problemas da saúde do adolescente, criança, mulher, adulto e idoso (BRASIL1, 2000). Segundo um estudo realizado pelo MS no período de 1991 a 2002, foi observado que para cada 10% de aumento da cobertura do Programa Saúde da Família, a mortalidade infantil caia para 4,5%. O declínio da taxa de mortalidade infantil vem sendo uma realidade no Brasil nos últimos anos, podendo ser verificada uma redução de 20,5% no período de 1996 a 2000 e 15,9% de 2000 a 2004 (BRASILc, 2007). Corroborando com a citação acima, o protocolo de saúde da criança (SMS de SP) afirma que a sistematização de enfermagem no contexto do PSF deverá contemplar que a criança seja avaliada em relação aos riscos socioambientais, sociecômicos, nutricionais, desenvolvimento, crescimento. Quando se fala sobre riscos, a classificação do risco de crescimento e desenvolvimento abrange diversos itens, dentre eles “o desenvolvimento não compatível com a idade” (BRASILc,2007). De acordo com Veríssimo e Sigaud (1996), “desenvolvimento é o processo vital que engloba crescimento, maturação e aprendizagem”, além de ser uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva. A inter-relação desses três fatores provoca alterações no indivíduo como um todo, ou seja, nas esferas psicológica, biológica, espiritual e social. O desenvolvimento ocorre a cada instante na vida do ser humano, porém a fase onde há maior intensidade desse processo é na infância, sendo este o período de maior vulnerabilidade em todos os aspectos: físico, emocional, intelectual e espiritual. Quando ocorre algum impedimento intrínseco ou extrínseco durante este processo, pode ocorrer comprometimento temporário ou permanente do desenvolvimento da criança (VERÍSSIMO, SIGAUD, 1996). De acordo com HALPERN et al, 2002 as crianças que vivem em países em desenvolvimento estão expostas a vários riscos, entre os quais o de representarem gestações desfavoráveis e/ou incompletas e o de viverem em condições socioeconômicas adversas. Tal cadeia de eventos negativos faz com que essas crianças tenham maior chance de apresentar atrasos em seu potencial de crescimento e desenvolvimento. Por essa razão, o impacto de fatores biológico, psicossociais (individuais e familiares) e ambientais no desenvolvimento infantil tem sido objeto de inúmeros estudos nas últimas décadas. Historicamente, os estudos sobre desenvolvimento têm colocado as características biológicas da população infantil como determinante principal nos atrasos intelectuais da criança. Isso pode ser verdadeiro para crianças gravemente comprometidas, mas não para a maioria das que apresentam um atraso moderado. De acordo com o modelo transacional imposto por Sameroff e Chandler, os problemas biológicos podem ser modificados por fatores ambientais, e determinadas situações de vulnerabilidade podem ter etiologia relacionadas com fatores sociais e do meio ambiente (HALPERN et al, 2002). Percebendo que o desenvolvimento é um dos fatores primordiais de avaliação adequado na primeira infância gera um resultados positivos na vida da criança a curto e a longo prazo, para garantir o adequado desenvolvimento infantil, vários profissionais têm atuado para esse fim, dentre eles o enfermeiro do PSF, buscando acima de tudo promover entre outras coisas, o crescimento e desenvolvimento adequado. Este compromisso deve ser realizado periódica e continuamente, sendo assim cabe questionar: será que as crianças atendidas na Unidade Básica de Saúde apresentam desenvolvimento compatível com a idade cronológica e maturidade? A avaliação do desenvolvimento é um importante instrumento para se conhecer a saúde da criança, no entanto, é bastante complexo avaliá-lo, pois é necessário conhecer não só as habilidades que a criança tem em um determinado sistema (motor, perceptivo, linguagem, etc.), como a sua maturação neurológica e também o ambiente na qual está inserida. É importante ressaltar que as crianças sofrem influências intrínseca e extrínseca durante o seu desenvolvimento, o que gera variações entre elas, tornando-as únicas nesse processo (BRASIL2, 2002). METODOLOGIA Foi realizado um estudo exploratório com abordagem quantitativa. Foram estudadas crianças de ambos os sexos, com idade entre 0 a 24 meses, cadastradas na Unidade Básica de Saúde e que compareceram as consultas pré-agendadas. Foram excluídas do resultado da pesquisa crianças que apresentaram qualquer doença mental ou indisposição (cansaço, febre, sono, timidez, insegurança) e as que não possuíam autorização dos pais ou responsável. O estudo foi realizado na Unidade Básica de Saúde do Jardim Macedônia, localizada na região Sul do Município. Os dados foram coletados por meio de uma ficha de registro composta pela identificação para registrar a idade, sexo e número de prontuário e o teste de Denver II (anexo 1). Na avaliação do desenvolvimento foi utilizado o Teste de Triagem de Desenvolvimento – Denver II. O Denver II foi escolhido por ser o mais utilizado pelos profissionais da área de saúde para triagem e por permitir fácil treinamento e administração rápida (20 minutos). O teste, delineado para aplicação em crianças desde o nascimento até a idade de 6 anos, consiste em 125 itens, divididos em quatro áreas: a) pessoal – social que contempla aspectos de socialização da criança dentro e fora do ambiente familiar; b) motora fina-adaptativa que avalia a coordenação olho/mão, manipulação de pequenos objetos; c) linguagem cujos itens estão relacionados a produção de som, capacidade de reconhecer, e entender e usar a linguagem; d) motora-grossa representada pelos seguintes itens: controle motor corporal, sentar, caminhar, pular e todos os demais movimentos realizados através da musculatura ampla. Esses itens foram registrados através da observação direta da criança e, para alguns dos pais/responsável foi solicitado que informassem se a criança realiza ou não determinada tarefa. Foram considerados casos indicativos de suspeita de atraso aqueles em que a criança apresentou dois ou mais itens de risco (a não realização da tarefa especificada quando 75 % a 90% das crianças da faixa etária a realiza) e /ou dois ou mais itens de falha (não realização do item quando 90 % ou mais das crianças da faixa etária realiza), independente da área em que a falha ocorreu (FRANKENBURG, 1992). Cada item do Denver II testado foi codificado conforme orientação do próprio manual do instrumento, colocando-se: P (passou) – quando realiza o item com sucesso ou quem cuida da criança afirma que o realiza bem; F (falhou) – quando não realiza o item com sucesso ou quem cuida informa que a criança não realiza bem; NO (não observado) – quando a criança não tem a oportunidade de realizar o item e R (recusa) quando a criança se recusa a realizar o item. Em alguns itens que dependem de atividades do dia - a- dia foi solicitado à informação dos pais/responsável (FRANKENBURG, 1992). Quanto ao desenvolvimento das crianças, as mesmas foram classificadas de acordo com as respostas obtidas no Denver II. a) Quanto à interpretação dos itens: Itens avançados – passa em um item totalmente a direita da idade; Itens normais – falha ou recusa um item totalmente a direita da linha da idade; Itens de risco – falha ou recusa itens entre 75 e 90% na linha da idade; Itens de atraso – falha ou recusa um item totalmente à esquerda da linha da idade. b) Quanto à classificação das respostas como: Normal – nenhum tipo de atraso ou um item de risco; Suspeito – dois ou mais itens de risco e/ou um ou mais itens de atraso (FRANKENBURG, 1992). Este teste foi realizado na presença dos pais/responsáveis pela criança, no momento da consulta com enfermeira ou médico. O referido projeto foi submetido à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e após a aprovação da mesma e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 2) pelos pais ou responsáveis, foi iniciado o estudo. Na elaboração do relatório técnico foram utilizados os softwares: Msoffice Excel versão 2000 para o gerenciamento do banco de dados; SPSS for Windows versão 10.0 – Statistical Pachage for the Social Science, para a execução dos cálculos estatísticos, elaboração e edição de gráficos e elaboração das tabelas e redação foi usado o Msoffice versão 2000. Para a análise estatística dos resultados foram aplicados os seguintes testes: Teste Qui-quadrado de Pearson, para confrontar as distribuições de freqüência das variáveis quantitativas dos grupos. Este teste baseia-se nas diferenças entre valores observados e esperados, avaliando-se as proporções em cada grupo, podendo ser consideradas semelhantes ou não (VIEIRA, 1998) Teste exato de Fisher, que foi utilizado nas situações onde os valores esperados forem inferiores a 5. Os resultados da significância do teste foram apresentados através do p-valor, sendo que, para valores menores do que 0,05 (p-valor <0,05) considera-se que não existe homogeneidade entre os grupos (VIEIRA, 1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Características da população A idade das crianças pesquisadas variou entre 0 e 24 meses, sendo que 34,3% estavam dentro da faixa etária de 0 a 12 meses e 65,7% delas estavam na faixa etária entre 13 a 24 meses de idade. Considerando o gênero das crianças avaliadas, não houve prevalência significativa, com 111 (51,4%) representantes do sexo masculino e 105 (48,6%) do sexo feminino. Perfil do desenvolvimento Quanto ao resultado da aplicação do Denver II, entre as 216 crianças pesquisadas, 198 (91,7%) foram classificadas como normais e 18 (8,3%) como questionáveis (Gráfico 1). Gráfico 1: Resultados globais do TTDD-II das crianças na Unidade Saúde da Família – São Paulo, 2008. Houve diferenças nas quatro áreas avaliadas como suspeita. A avaliação do desenvolvimento pessoal social mostrou o maior percentual (8,3%), ou seja, todas as crianças apresentaram comprometimento neste item da avaliação, em seguida foram linguagem e motor grosso (6,0%) e, em menor proporção, a avaliação motor fino (3,2%). Tais resultados são contrários a diversos estudos brasileiros de crianças com a mesma faixa etária, um estudo realizado em Florianópolis-SC, no qual usaram Denver-II onde encontraram suspeita de atraso no desenvolvimento 65 crianças estudadas 9 (13,85%) apresentaram suspeito de atraso para a área motora , um índice que pode ser considerado baixo em relação as outras pesquisas com a mesma faixa etária (CAON,G.; RIES, L. G. K). Conclusão Os resultados obtidos neste estudo possibilitaram-nos alcançar os objetivos propostos, especialmente ao comprovarmos a aplicabilidade do Denver II em Unidade Básica de Saúde e as possibilidades de prevenção, detecção e intervenção do Enfermeiro no acompanhamento do desenvolvimento infantil no programa saúde da família. Referencias Bibliográficas BRASILa, Ministério da Saúde. Redução da Mortalidade Infantil. Disponível em:. Acesso: 11.11.2007. ______b. Governo do Distrito Federal. Secretaria de Estado de Saúde. PSF- Programa Saúde da Família. Disponível em: < http://www.saude.df.gov.br/003/ 003 01009.asp?ttCD_CHAVE=31415 >. Acesso: 11.11.2007. ______c Ministério da Saúde. Evolução da Mortalidade Infantil no Brasil. Disponível em:< http://portalweb05.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto. cfm?i dtxt=24437 >. Acesso em: 11.11.2007. BRASIL1. Ministério da Saúde. Mortalidade Infantil. Informe da Atenção Básica. N.02, ano I, agosto, 2000. _______2. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Série Cadernos de Atenção Básica n.11. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília, 2002. VERÍSSIMO, M. de La Ó R; SIGAUD, C.H. de S. Enfermagem Pediátrica:o cuidado de enfermagem à criança e ao adolescente. São Paulo, E.P.U,1996.p. 12-14. HALPERN R.; GIUGLIANI ,E.R.J; VICTORA,C.G., BARROS,FC; HORTA,B.L. Fatores de riscopara suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de vida. Rev. Chil. Pediatr. 73(5), 529-539, 2002. FRANKENBURG, W.K; DODDS, J; ARCHER, P; SHAPIRO, H;BRESNICK, B. The Denver II: a major revision and restandardartdization of the Denver Developmental Screening Test Pediatrics.V.89, n.1, 1992. P. 91-97. VIEIRA, S. Introdução à Bioestatística. 3.ed, Rio de Janeiro, Campus,1998. CAON, G. ; RIES, L. G. K. . Triagem do desenvolvimento motor nos dois primeiros anos de vida. ediatria Moderna V.XXXIX, p. 248-252, 2003.
Autor: ivone zahnn


Artigos Relacionados


As Dificuldades De Leitura E Escrita Nas Séries Iniciais

Anemia Falciforme X Triagem Neonatal

Criança Tem Que Estudar,brincar E Também Trabalhar!

O Brincar Na Educação Infantil

A Perspectiva Construtivista De Ensino

O Papel Do Professor De Educação Infantil

Os Jogos Na Clínica Psicopedagógica