O EXTRATIVISMO VEGETAL DO LÁTEX DO CAUCHO NO VALE DOS RIOS: PARAUAPEBAS E ITACAIÚNAS



Arão Marques da Silva1

As primeiras atividades econômicas do vale dos rios Itacaiúnas e Parauapebas foi o extrativismo: da borracha do caucho (Castillôa elástica). O extrativismo do caucho é descrito por Henri Coudreau em 1897, quando este juntamente, com sua esposa percorre os rios Itacaiúnas e Parauapebas da sua foz nas proximidades do Burgo Agrícola do Itacaiúnas que ficava a 8 km do Pontal2. Durante a sua excursão ele depara com uma fauna e flora rica em diversidade de plantas e animais. Observa a presença de uma árvore semelhante à seringueira. O caucho encontrado na região produzia látex de inferior qualidade, e pouco coagulável, em relação à borracha produzida pela seringueira, cientificamente, denominada de Hevea brasiliensis (MONTEIRO, 2006).

É descrita ainda por Coudreau uma grande quantidade de árvores da castanheira que se espalhavam pelas de mata de terra firme. As árvores de castanheiras eram ou são bem mais do que as do caucho. No final do século XIX já havia não-índios (caucheiros e castanheiros) trabalhando com o extrativismo. Estes são chamados de os últimos "civilizados" que ficavam nas matas durante a época da exploração da borracha do caucho e da castanha. Naquela época, a extração da borracha era realizada no período menos chuvoso, pois assim, se produzia uma borracha de boa qualidade.

É bom notar que a atividade econômica da extração da castanha era praticada no período chuva, pois os rios eram os caminhos naturais mais utilizados pelos homens que se aventuravam na mata em busca daquele produto florestal.

Naquela época, havia uma escassez de não-índios na região. No entanto, nas margens dos rios e igarapés foram identificadas barracas de extrativistas passageiros. As atividades econômicas desenvolvidas ao longo Parauapebas pelos não-indígenas eram passageiras.

É importante perceber que exploração do caucho foi à primeira atividade econômica predatória na região. A extração predatória da borracha do caucho é responsável pela extinção desta árvore que teve no início da colonização importância socioeconômica para a região. Ou seja, na literatura do aventureiro Coudreau, a exploração do caucho foi responsável pela extinção desta árvore que teve valor econômico e social para a região, pois a extração do seu látex possibilitou que os primeiros aventureiros se deslocassem para cá.

Os viajantes e naturalistas que desbravaram o rio Parauapebas relatam a presença de barracas de extrativistas de caucho nas margens dos rios: Parauapebas e Itacaiúnas, sendo essas atividades econômicas praticadas na região por não-índios. Assim esses extrativistas permaneciam pouco tempo nas barracas. Isso pelo fato das árvores de caucho eram poucas, a produção também, da borracha era pequena, levando esses extrativistas a subsistirem por pouco tempo nesta atividade econômica.

Naquela época já havia habitações temporárias, pois a exploração do caucho era predatória, ou seja, a árvore era sacrificada e produzia apenas uma vez. Além disso, o extrativismo era sazonal. Os extrativistas ainda tinham que ter muito cuidado para não serem surpreendidos por bravos indígenas que habitavam a floresta. Por isso, estes atores sociais não permaneciam muito tempo na mesma colocação3.

É importante verificar que o extrativismo se sobressai em relação agricultura camponesa. O próprio Burgo Agrícola do Itacaiúnas4 foi um fracasso pelo fato do extrativismo vegetal do caucho ser mais rentável do que a agricultura camponesa. No entanto, os sujeitos que ocuparam as margens dos rios tinham seus roçados, mesmo àqueles que se dedicavam ao extrativismo. Todos mantinham uma relação larga com o extrativismo vegetal e animal, sendo que este último consistia na pratica de mariscar5.

Portanto, no final do século XIX e na primeira metade do século XX no território que compreende o vale dos rios Parauapebas e Itacaiúnas, as atividades econômicas que predominaram estavam diretamente relacionadas ao extrativismo vegetal da borracha do caucho. É evidente que quando Coudreau navegou pelos rios Itacaiúnas e Parauapebas, não conseguiu associar as anomalias geológicas à existência de algum tipo de minério. Os caucheiros, castanheiros e mariscadores que exploravam a região, por não terem conhecimento geocientífico, também não conseguiram identificar na Serra dos Carajás qualquer anomalia que os levassem a imaginar a presença de minérios e nem mesmo, a presença de savanas metalóficas no platô da serra. Ficando, então, o feito da "descoberta" da mina de Carajás à equipe de pesquisadores do geólogo Breno Augusto dos Santos em junho de 1967.

FONTES:

MONTEIRO, Maurílio de Abreu; COELHO, Maria Célia Nunes e SILVA, Regiane Paracampos da. Alterações entre natureza e sociedade em Áreas do Sudeste do Pará – Brasil: III ENCONTRO DA ANPPAS. Brasília-DF, 23-26 de maio de 2006.

MENDONÇA, Deodoro Machado. Viagem ao Rio Tocantins. Belém, Pará: Editora Grafisa, 1983.

1 O autor deste ensaio é cientista social (sociólogo) com pós-graduação latu-sensu em Tecnologias, Linguagem e Educação Inclusiva pela UFPA; docente na rede de ensino das disciplinas: SOCIOLOGIA, Estudos Amazônicos, Geografia, Educação para a Cidadania.

2 Pontal foi o primeiro nome dado à vila de Marabá. Local onde Francisco Coelho e Francisco Casimiro instalaram em 1896 o barracão Marabá, que deu origem à cidade Marabá.

3 Acampamento no meio da floresta e perto das árvores de caucho, seringueiras e castanheiras.

4 Burgo Agrícola, construído a 8 do Pontal (Marabá) por Carlos Leitão com o apoio do governo do Pará em 1896. A partir deste Burgo que o território do Médio Tocantins passa a pertence ao Pará. Antes essa área era disputada pelo Maranhão, Goiás e Pará. A disputa por terras entre Carlos Leitão e outros coronéis em Tocantinopólis (GO), hoje (TO), para criação de gado bovino para atender a economia da borracha e mais a expulsão da família Leitão de Tocantinopólis e que vai possibilitar a ocupação desse território por não índios.

5 Trabalho realizado por mariscadores, estes sujeitos audaciosos passavam longos períodos na floresta, caçando onça, gato do mato e outros animais. Estes animais eram mortos, suas peles já secas eram comercializadas nas vilas e cidades da região, assim como, na capital do Estado do Pará.


Autor: ARÃO MARQUES DA SILVA


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