O Relacionamento entre as Assessorias de Comunicação e de Imprensa e a Mídia



O relacionamento entre as Assessorias de Comunicação e de Imprensa e a Mídia.

Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti é Relações Públicas, foi Vice-Presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas, seção Alagoas – ABRP – AL, é jornalista e foi e monitor da disciplina Assessoria de Comunicação ministrada pelo Professordoutor Boanerges Lopes da Universidade Federal de Alagoas.

         É público e notório que existe há muito tempo uma rixa e preconceito dos jornalistas que trabalham na mídia, principalmente na imprensa, em relação aos profissionais da área de Assessorias de comunicação ou de imprensa. Tudo começou a partir da década de 80 com o fim do regime autoritário, com a expansão dos negócios – a lógica do negócio se sobrepôs a do jornalismo - e do surgimento da Internet. Como no regime arbitrário não havia liberdade política e de opinião para se divulgar os assuntos que os jornais achassem do interesse público, não havia alternativa senão a de publicar as famosas matérias pagas encaminhadas pelos órgãos públicos e por empresas desejosos de anunciar suas marcas e produtos de outra maneira as redações. Além disso, matérias de conteúdo comercial começaram cada vez mais a serem enviadas as redações para publicação, ocupando um espaço considerável.
         Embora o trabalho das Assessorias de Comunicação já seja valorizado pelos seus colegas, ainda há segundo o professor e jornalista Wilson da Costa Bueno equívocos que precisam ser solucionados.
         Ainda que existam manuais de Assessorias de Imprensa ou de Assessorias de Comunicação que relatem sobre o relacionamento entre elas e a mídia em geral, ainda não havia na bibliografia brasileira dados satisfatórios que delineassem de forma concreta e tão completa sobre esse assunto. Porém, uma pesquisa realizada pelo portal de comunicação Comunique-se – www.comunique-se.com.br - entre os dias 27 a 31 de março deste ano durante o Congresso de Jornalismo Empresarial, Relações Públicas e Assessorias de Comunicação, realizado no Estado de São Paulo pelo MegaBrasil, quando foram ouvidos 1094 participantes, a maioria atuando como repórteres, diretores, editores e free-lancers, coordenado pelo jornalista e seu presidente, Rodrigo Azevedo, com 22 perguntas, utilizando sete tópicos básicos como: 1) Utilização do E-mail como forma de contato; 2) avaliação dos releases encaminhados pelas assessorias; 3) o assessor visto pelos jornalistas; 4) a presença e eficácia das coletivas; 5) a importância e adequação das Salas de Imprensa; 6) a participação dos jornalistas em auditorias de imagem e 7) a legitimidade dos brindes, foram obtidos os seguintes resultados:
®    E-mail como a forma preferida pelos jornalistas de redação para receber as informações das assessorias, reclamando, no entanto, do excessivo número encaminhado, muitos dos quais não sendo lidos por absoluta falta de tempo;
®    A importância da escolha de um bom título para o release, a identificação do nome do cliente e a personalização e identificação da assessoria e do seu responsável, admitindo serem eles [releases] necessários e fundamentais desde que possuam qualidade e atendam e preencham alguns pré-requisitos como o seu conteúdo, foco e oportunidade;
®    A baixa qualidade de alguns textos encaminhados pelas assessorias acaba penalizando os jornalistas de redação pelo desconhecimento do processo de produção jornalística nos vários campos da mídia como jornal, revista, rádio, televisão e Internet, assim como a respeito de alguns assuntos que são abordados que não é do agrado do veículo de comunicação;
®    Os assessores não são considerados como parceiros autênticos uma vez que estão comprometidos com seus clientes, valendo-se da mídia para divulgar seus releases e não colaborando com ela;
®    A pouca participação dos jornalistas nas entrevistas coletivas, em média de 30%;
®    O amplo uso da Internet como meio de obtenção de informações, bem como a desconfiança em relação às Salas de Imprensa por ter um caráter nitidamente comercial, sendo, portanto, de pouca utilidade para a atividade jornalística;
®    A necessidade da participação permanente dos jornalistas em pesquisas de auditoria de imagem, tendo como exemplo a que foi realizada para essa pesquisa, e que sejam principalmente feitas por E-mail, oferecendo a oportunidade de liberdade ao jornalista para que o mesmo possa interagir no exato instante em que julgar adequado, após o fechamento da edição do jornal, da revista, do telejornal, etc.
®    O recebimento de brindes, mesmo que tenham um valor elevado, observando, contudo, o contexto em que se inserem. Fora disso, o brinde se transformaria em "jabá", sendo repudiado por todos.
         Do ponto de vista do relacionamento entre as assessorias e a imprensa, dois aspectos importantes observamos:
1)    Que os assessores não são vistos como autênticos parceiros da imprensa, em virtude de estarem comprometidos mais com seus clientes – respostas dadas por 85% dos entrevistados – valendo-se da mídia de modo egoísta para publicar suas informações – comunicados, releases, etc., - do que realmente colaborar com ela;
(2) O desconhecimento por parte da maioria dos assessores quanto ao processo de produção jornalística utilizada no rádio, na televisão, no jornal, na revista, na Internet, etc., assim como de alguns assuntos que se divulgam, aliados a baixa qualidade do material encaminhado, penalizando os jornalistas.
         Porém as queixas dos assessores de imprensa ou de comunicação para com seus colegas são inúmeras. Que o diga a "Carta de Atibaia", resumindo as conclusões do encontro de assessores de imprensa e de comunicação em nível local realizado em São Paulo e ratificado na reunião nacional de Fortaleza, afirmando o seguinte: "os assessores não aceitam discriminação profissional, pois o segmento tem atuado, em sua grande, de forma ética, séria, e profissional". E ainda segundo o documento exigindo uma postura ética dos colegas de redação, afirmando textualmente: "hoje a mídia em geral não prescinde dos trabalhos das assessorias e, portanto, deve respeitá-las".
         Essa é também a opinião dos jornalistas Eduardo Ribeiro e Josafá Dantas, este último representante da região Centro-Oeste na Conjai – Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa, da Fenaj.
         Em depoimento ao site Imprensa, Assim se pronunciou o jornalista Josafá Dantas: "O assessor de imprensa não é o bicho-papão do jornalismo, não esconde informação, apenas preserva a empresa onde trabalha". E dia mais: "Isso também acontece às vezes com o repórter. Ele tem informações, mas a empresa não permite a publicação sob pena de perder um contato publicitário. O jornalista de redação apenas pensa que tem liberdade, que é um profissional liberal. Ledo engano. Não passa de um assalariado. O assessor, pelo menos, tem a consciência de que trabalha para traduzir de forma mais simples os informes que devem ser passados para a imprensa", conclui.
         Encerro este artigo com as seguintes perguntas, por sinal muito bem elaboradas e formuladas pelo Site Imprensa sobre o relacionamento entre as Assessorias de comunicação ou de Imprensa e a mídia: "o que é bom para a empresa é ruim para a imprensa" deve ser tomada como verdade absoluta e incontestável? Será que não há assessor honesto e comprometido com a ética e a verdade? Será que toda informação incorreta que parte da empresa tem conivência do assessor? Os jornalistas das redações são os donos da verdade? Tudo o que chega de release nas redações é lixo? Será que as redações hoje, da forma como estão estruturadas teriam condições de se manter sem o material fornecido pelas assessorias? [Por incrível que pareça há editoras, como a Sigla, que tem redações com um único editor.] É possível estabelecer um relacionamento cordial entre jornalistas e assessores? Como? O assessor é muitas vezes esnobado nas redações? E o jornalista de redação continua mantendo sua soberba, mesmo quando equivocado?
         É, pelo visto essa questão ainda vai perdurar por muito tempo. Com a palavra nossos irmãos da mídia e das Assessorias de Comunicação e Imprensa para se pronunciar.




Autor: Roberto Ramalho


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