O fenômeno da "replicação" de proteínas



A etiologia e epidemiologia de doenças como a BSE ou encefalite espongiforme bovina (doença da vaca louca) ou a doença de Creutzfeldt-Yakob (ou kuru, a forma humana da BSE) pode ser explicada a partir da produção de uma nova proteína de uma outra proteína semelhante na maior parte dos aminoácidos. É o que está sendo proposto por certos pesquisadores. O mecanismo proposto emprega a atividade exclusiva da proteína infectante que, uma vez encontrando uma proteína semelhante a ela, porém normal (em geral uma proteína da membrana do neurônio), a modifica de forma a transformá-la em uma proteína infectante igual a si mesma. O processo continua, cada vez que uma proteína infectante encontra outra normal, num processo que aumenta em proporções catastróficas.
Durante muito tempo o kuru e outras doenças semelhantes foram atribuídas ao lentivírus (grupo do qual faz parte o HIV), mas tal vírus jamais fora isolado. Na década de 80 a teoria da proteína infectante, ou príon ganhou força e em 1997 seu proponente, Stanley Prusnier, recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.  Sua indicação causou enorme polêmica, pois muitos cientistas ainda discordam da hipótese do príon e insistem na hipótese de que um vírus pode ser a causa destas doenças.
A doença da vaca louca ganhou bastante popularidade no fim da década de 90, depois de sucessivas epidemias na Europa, particularmente na Inglaterra. A transmissão se dá exclusivamente pela ingestão de produtos obtidos da carcaça de vacas doentes, o que implica que as vacas infectadas comeram carne ou outros produtos de vacas doentes, o que não implica que as vacas sejam canibais, uma vez que a pecuária moderna fornece a herbívoros ração produzida à base de carcaças de animais da mesma espécie ou de outras. A proibição do uso de produtos bovinos na ração de bovinos chegou, porém tardou, não evitando o enorme prejuízo e a mortandade aplicada ao rebanho bovino na Europa naqueles anos.
A transmissão entre seres humanos era devida apenas ao antropofagismo praticado nas tribos indígenas da Papua. Atualmente, entretanto, tem ocorrido pelo uso de hormônio de crescimento humano ou por transplante de órgãos de doadores infectados assintomáticos.
A doença aparece esporadicamente, como mutação do gene que codifica para a proteína do neurônio numa taxa muito baixa (< 1:1.000.000). Ainda não está claro se o prion da vaca ou da ovelha pode infectar o homem, todavia parece haver uma forte barreira entre espécies para este tipo de agente infeccioso.
Recentemente, um artigo publicado mostrou que príons de camundongo podem ser encontrados nos músculos do animal. A publicação provocou uma certa inquietação na mídia e um artigo do New York Times comentou as consequências se o mesmo for verdadeiro para outros animais, afinal, o mercado de carnes é muito lucrativo e uma confirmação deste tipo não seria nada boa à economia de muitos países e à situação financeira de muitos produtores.
Aliás, um trabalho mais avançado está demorando a sair. O que parece mais importante: a economia ou a saúde?
Autor: Bernardo M Cazella


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