O EMPREGO DO ZECÃO



O EMPREGO DO ZECÃO

 

          Zecão era um sujeito tranqüilo, sem  trabalho, sem  preocupação  alguma. Ficava o tempo todo sem fazer nada e queria por força saber quem foi o sujeito que inventou o tal de trabalho para ter uma boa conversa  com  ele. Provavelmente este sujeito não tinha outra coisa que fazer. Como o tal sujeito não  aparecia por ali, muito menos alguém dava informações sobre o mesmo, ia o nosso Zecão  levando  a  vida  ou  a vida o ia levando. Os dois sem preocupação alguma.

 

          Tornou-se conhecido na cidade inteira. Todos davam notícia  do  homem  mais preguiçoso da cidade. Vivia porque era obrigado a viver. Comia ora  na  casa de  um, ora na casa de outro. Não era má pessoa. Uma coisa, porém era certo: ninguém  poderia  contar com ele para nada. Quisesse se tornar inimigo dele, era só convidá-lo  para  fazer alguma  coisa. Ninguém poderia saber no que aquilo tudo ia dar.

 

          O fato é que certa vez um pequeno fazendeiro da região precisou fazer uma viagem para os Estados Unidos e lá iria ficar   exatamente um ano. Como já estava em cima da hora da viagem, ele  procurou  alguém  na  cidade para tomar conta de sua fazenda até a sua volta, mas não encontrou ninguém. Começava a ficar meio desesperado, pois a  viagem  era um pouco urgente.

          Foi então que indicaram o Zecão. Rapaz forte, vigoroso, honesto, um pouco preguiçoso, mas... O fazendeiro foi procurar o tal homem,  mesmo  porque na fazenda não tinha quase nada para fazer. Era só olhar a fazenda.

 

          Zecão era muito gentil. Recebeu o homem com todo o carinho. Tratou-o com todo o decoro possível. Para isto ele mostrava uma boa educação, aliás boa educação ele tinha, o que ele não tinha mesmo era coragem.

 

          Ali acertaram tudo. Zecão ficaria na sua fazenda, durante um ano, só olhando. Existiam muitos malandros por aquelas bandas. Tudo era preciso ser muito bem olhado.

 

          Tudo certo, o patrão levou Zecão e a bagagem para a  fazenda. Zecão foi todo contente. Era a primeira vez que ele arrumava um emprego  e dos bons.

 

           Na fazenda o moço mostrou a sua grande casa, toda  bonitinha,  a  piscina, o campinho de futebol, o chiqueiro de porcos, o curral, o alojamento das galinhas, tudo tudo para ele. Zecão se inteirou de tudo. Que maravilha! Que casa mais  bonita! Que piscina! Aquilo tudo iria ficar nas mãos do Zecão, aliás dos olhos. Era muito luxo para um sujeito só, mas ele iria cumprir a sua missão. Sim, aquilo era  uma  missão  sagrada. Fez questão de que o homem lhe mostrasse as provisões para passar  um  ano  ali. Precisaria de  muita comida e bebida. Quanto a isto não precisaria se preocupar. Tinha ali comida para muito tempo. Tudo averiguado, tudo correto, o homem partiu com a mulher e os dois filhos para os States.

 

          Zecão ficou ali sozinho com aquele casarão. Que  coisa maravilhosa! Era a vida que ele pedira a Deus. Ali tinha de tudo, do bom  e  do  melhor. Que mais lhe faltaria? Ah sim! Uma mulher. Precisaria de uma  mulher  ali, mas... não. Isto não constava do contrato. Ele fora contratado para olhar a fazenda e mais nada. O patrão poderia achar ruim.

 

          O tempo foi passando. Zecão ficava só dentro  de  casa  assistindo  televisão. Ouvia música. De vez em quando saía de casa e ia passear  pelo quintal. Ia passear na vizinhança. Ia por alguns botecos que existiam pelas estradas. Não fazia absolutamente nada.

 

          O mato, com isto começou a crescer. Os porcos morreram todos, muitas vacas também morreram. As galinhas se acabaram todas.

 

          Os problemas da fazenda aumentaram tanto que Zecão quase nem podia chegar em casa. O mato não deixava.

 

          - Este patrão deveria ter deixado alguém para limpar a fazenda - dizia.

 

          Na verdade a fazenda estava completamente abandonada.

 

          Enquanto isto, para Zecão o tempo não passava. Que ano mais longo! O patrão não dava notícias. O dinheiro só seria pago no final do contrato. Ele teria que esperar.

 

          O tempo passou. O ano se completou. O patrão não veio.  Zecão  ficou  tiririca. Como é que o patrão fazia isto com Zecão? Um homem  sério,  honesto. Este patrão era gente boa? Não parecia. Não cumprira o contrato.  Zecão  pensava um monte de coisas, quando de repente o patrão apareceu.

 

          O pobre do homem ficou horrorizado quando viu  o  estado em que se encontrava a fazenda, produto de sua vida inteira. Totalmente abandonada. Ele não estava conseguindo nem mesmo entrar na casa da fazenda. Gritou bem forte para o capataz da fazenda:

 

          - Zecão, Zecão - onde está você?

 

          Zecão a esta hora da tarde estava dormindo o mais belo  sono.  Não estava nenhum pouquinho preocupado, mas ouviu a voz do patrão e correu a responder.

 

          - Aqui, Patrão. Você já chegou? Estava ansioso pela sua volta.

 

          - Que casa é esta, Zecão. Nem parece que é a minha.

 

          - Parece sim, é a sua mesma. Está do mesmo jeito que  o senhor  deixou. Não mexiem nada.

 

          - Isto está mesmo. Está parecendo  uma  floresta.  Não foi assim  que  deixei esta fazenda. Deixei-a toda organizada e limpinha.O que você fez aqui durante todo este tempo?

 

          - Olhei a sua fazenda.

 

          - Só olhou? Não era para só olhar. Era para fazer  alguma  coisa. Cuidar, zelar da fazenda.  Que mataria doida é esta? E as minhas galinhas, porcos, vacas, onde estão?

 

          - Mortos. Não tinha ninguém para cuidar deles.

 

          - E você? O que estava fazendo aqui? Paguei você para cuidar do que era meu. Nem sei se vou-lhe pagar alguma coisa. Você vai me pagar tudo o que eu perdi aqui.

 

          - Eu fui contratado para olhar, patrão. Não para fazer nada.

 

          - Olhar que se diz, é zelar. Você pode ir embora daqui. Não vou lhe pagar nada. Você é um morto em pé. Nem merecia estar  vivo. Vá  embora  antes que acabo matando você.

 

          O homem estava uma fera. Zecão teve que ir embora a pé, sem  nem  um  tostão no bolso. Chegando à   cidade ele pegou o contrato e deu parte ao juiz. O juiz analisou o contrato e intimou o patrão a vir acertar a conta.

 

          - Que conta, senhor juiz. Vou urgente aos EUA.,deixo Zecão cuidando de  minha fazenda, quando chego  encontro a fazenda em plena mata, os bois, porcos, galinhas  todos mortos, o camarada não fez nada e ainda quer receber.Ele tem é que me pagar tudo o que deixou auto-destruir.

 

          - O contrato diz que era para ele  olhar a fazenda. O senhor  vai ter que pagá-lo, caso contrário vou ter que mandá-lo prender.

 

          Houve uma luta ferrenha, mas o fazendeiro teve que pagar doze meses de serviço.

 

          - Doze meses não. Falta o 13o. salário.

 

          - Sim, senhor. O fazendeiro teve que pagar o 13o. salário.

 

          - E as férias?

 

          - O fazendeiro teve que pagar um mês de férias.

 

          - E 1/3 das férias?

 

 

 


Autor: Henrique Araújo


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