O MACACO DA MULHER
O MACACO DA MULHER
Bicho mais esdrúxulo mesmo é o macaco. Faz cada coisa de arrepiar cabelos de careca. É o bicho que faz mais caretas, que dizem que se parece com o homem. Bem, salvo algumas diferenças, ele se parece muito mesmo com o homem. Ele apenas é mais completo, pois às vezes anda de quatro e possui um belo rabo, coisa que o homem não tem. Por outro lado o macaco não fala, bem que ele tenta, mas não consegue. E o homem é um tagarela desnaturado.
Conheci um macaco sapeca. O bicho era terrível. Mexia com todos que passavam perto dele. As mulheres tomavam distância dele, pois era só ele ver uma delas que já pegava naquilo.Parece que não pensava em outra coisa. Imitava todas as pessoas nos mínimos detalhes.
Este macaco pertencia a uma velha gorducha que amava o macaco mais que ao marido. Era só Manoel daqui, Manoel dali em todo canto e a qualquer hora.
O marido da dita cuja é que morria de raiva do terrível macaco. O bicho não deixava o homem sossegado. Bastava ele chegar em casa que o macacão já vinha puxar-lhe no colo, espantar o cabelo, puxar-lhe as orelhas, tirar as coisas do bolso e assim por diante.
O homem tentou matar o macaco de qualquer maneira, mas a mulher virava uma fera. Dar o bicho ela nem pensava. Para não perder a velha, ele tinha que suportar o macacão.
O macaco se tornava cada dia mais impertinente. Imitava o homem o mais que pudesse. Se ele ia ao banheiro e ficava lá, o macaco ia também e se sentava no vaso tranquilamente. Na hora do almoço o macaco fazia questão de se sentar à mesa. Quem disse que ele gostava de comer bananadas? Lá isto é comida de gente, aliás, de macaco? Ele queria comer mesmo eram coisas finas, comida de gente rica, bife à cavalo, strofonoff, arroz carreteiro e assim por diante.
Bem, tudo o que o homem fazia, o macaco fazia também. O bicho ficava prestando atenção como o homem fazia e fazia do mesmo jeito.
E foi assim que ele descobriu um meio de eliminá-lo. Aproveitou que a mulher estava assistindo televisão. Entrou no banheiro, deixou a porta aberta. O macaco sentou-se perto da porta e ficou observando. Em seguida o homem abriu a navalha e fez a barba calmamente. Depois assobiando, lavou o rosto, virou a navalha e passou as costas da mesma no pescoço. Fechou a navalha e guardou-a no porta-espelho. Foi assistir televisão com a gorducha.
O macaco veio de lá, abriu a navalha, ensaboou a cara e fez o mesmo tranquilamente, pegou outra vez a navalha e passou-a fortemente no pescoço. Só que passou-a com o corte. Foi uma vez só. Ele deu um grande berro e caiu numa enorme poça de sangue.
O casal veio correndo ver o que era, mas o macacão acabava de morrer. A mulher ficou desesperada. Abriu a boca no mundo. Reclamava de tudo e de todos, principalmente do marido. Xingou dos mais belos nomes. O homem disse não ter culpa. Nem imaginava que aquilo fosse acontecer um dia.
Em seguida eles pegaram o cujo, colocaram num grande saco de plástico, levaram no a um matinho e lá o enterraram. A mulher voltou toda chorosa e o homem veio satisfeito. Por uns dias a gorducha sofreu um pouco, mas foi-se acostumando e a paz voltou ao lar. Hoje o homem está satisfeitíssimo e quem quiser procurar briga com ele, é só oferecer lhe um macaco.
Autor: Henrique Araújo
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