O Uso Inteligente Da Avaliação



A avaliação consiste em um instrumento utilizado por educadores, que tem a finalidade de verificar, por meio de vários elementos, a evolução e o grau de conhecimento absorvido e processado por seus alunos durante a aprendizagem. Como conseqüências embutidas na avaliação, encontramos a classificação, o castigo e também o destino do aluno, portanto inseridas nas normas escolares.

A avaliação nos moldes tradicionalistas se trata de uma ferramenta cujos critérios de seleção são extremamente limitados, o que acaba excluindo aqueles que, a partir dela, podem ser rotulados como incapazes, quando podem ser vítimas de outros desajustes que necessitam de atenção, como: problemas físicos, afetivos, sociais, distúrbios de aprendizagem, falta de aptidão ou interesse para determinados assuntos, deficiências na assistência familiar.

Pensou Cipriano Luckesi 1 que a avaliação praticada nas escolas é a coerciva, provocando sentimento de culpa nos alunos. Por meio das notas é realizada a classificação dos alunos, deste modo comparam-se apenas os desempenhos, diminuindo a importância dos objetivos a serem alcançados. Limita-se o conhecimento a uma só verdade que deve ser igual para todos, descartando novas possibilidades e questionamentos.

Benjamim Bloom classificou três modalidades de avaliação, que fornecem ao educador subsídios para aperfeiçoar o processo educacional, sendo elas: somativa, diagnóstica e formativa, cada uma delas com uma determinada função.

A classificação da avaliação em três tipos foi idealizada por Bloom, com o intuito de aperfeiçoar os objetivos e resultados do sistema educacional, traçando diretrizes aos profissionais da educação nas tarefas de elaboração das avaliações e dos currículos, padronizando os trabalhos com a criação de facilidades na mensuração dos objetivos. Consideram-se ainda, o domínio cognitivo, os domínios afetivos e psicomotor.

A avaliação somativa traz o propósito de classificar o aluno utilizando a atribuição de uma nota ou pontuação, geralmente ocorre no término da instrução para que seja verificado o que foi aprendido efetivamente. Abrange os objetivos mais amplos e conteúdos mais relevantes, permite ao aluno perceber o nível de aprendizagem que alcançou e compará-lo com o grau de conhecimento atingido por outros alunos, com outros materiais de ensino ou métodos de estudo.

A avaliação formativa preocupa-se com o entendimento das diferenças e características individuais, permite a prescrição de alternativas e ocorre durante o processo de instrução. Inclui todos os conteúdos importantes de uma etapa da instrução: fornece "feedback" ao aluno, faz com que ele perceba o que aprendeu e o que precisa aprender; possibilita ao professor uma análise mais minuciosa em relação ao desempenho dos alunos e busca evidenciar quais diretrizes deve traçar para melhorar a instrução diante das falhas de aprendizagem.

Deste modo, o material didático pode ser modificado de acordo com o perfil e a necessidade dos aprendizes. Os instrumentos de avaliação não são específicos e várias atividades podem ser úteis. A importância desta avaliação pretende descobrir como serão usados os seus resultados, ensinando conforme corrige. Caso o resultado do processo seja negativo, há possibilidade de determinar mudanças para que se assegure a afetividade, como um sistema de controle de qualidade. É um processo sistemático e contínuo.

A avaliação diagnóstica não é punitiva, é mais elástica e flexível que a prova clássica e não tem como objetivo primordial contabilizar acertos e erros. Com ela o professor torna-se apto a encontrar o núcleo do erro ou do acerto, interpretando a produção do aluno, afinal, é por meio desta que identifica em que etapa do processo de construção do conhecimento encontra-se o estudante

O profissional agrega informações necessárias para realizar intervenções pedagógicas que estimulem a sua evolução no aprendizado. Com esta análise avalia-se a qualidade do erro ou do acerto e as estratégias de ensino podem ser adequadas às necessidades de cada aluno. De acordo com Luckesi (1999, p.43) "...para não ser autoritária e conservadora, a avaliação tem a tarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos.".

As classificações escolares geralmente criam desigualdades de competências, as escolas que utilizam o critérios exclusivamente classificatórios e de julgamento acabam inibindo o desenvolvimento do aluno e provocando constrangimento, sentimento de impotência e até acomodação. Desconsiderando as múltiplas aptidões e singularidades, homogeneizando as realidades, a escola acaba declarando o fracasso de muitos alunos. O papel de exclusão desempenhado pela avaliação é observada principalmente nos componentes curriculares que abrangem objetivos, conteúdos, metodologias, formas de relacionamento, etc.

A grande discussão gira em torno da real conseqüência que pode produzir uma avaliação, do objetivo que se tem ao aplicá-la. "O importante não é fazer como se cada um houvesse aprendido, mas permitir a cada um aprender." (Perrenoud, p. 165, 1999).

Será benéfica quando os conceitos não limitarem-se em aprovar ou reprovar um aluno, em mensurar com exclusividade o seu rendimento, afinal ela é eficaz para rever os processos de ensino-aprendizagem e melhorar as condições de acesso ao estudo que estão disponíveis aos alunos, para aperfeiçoar os procedimentos educacionais.

Modificar a forma de avaliar implica na reformulação do processo didático-pedagógico, deslocando também a idéia da avaliação do ensino para a avaliação da aprendizagem. Aplicar avaliações é uma prática comum, automática. Refletir profundamente sobre suas consequências, sua finalidade, aplicabilidade e eficácia depende do comprometimento do educador. Seguir exclusivamente uma norma escolar rígida e inflexível pode comprometer a possibilidade de diagnosticar interferências ajustáveis, pois cada estudante possui um conjunto de características individuais peculiares. Pensar em uma sala de aula com dezenas de pessoas como uma massa cerebral heterogênea é negar as diferenças culturais, sociais, econômicas, fisiológicas e psicológicas.

Pode-se concluir que perante as instituições legais a que devem submeter-se as escolas, a avaliação escolar deve ser simbólica e limita-se à fria e impessoal cultura da mensuração. Pondera-se então: mensuração de que elemento do processo de aprendizagem? Capacidade de adequação, grau de afinidade com a disciplina, flexibilidade?

Instituições de ensino superior oferecem concurso de bolsas de estudo para os candidatos melhores classificados. Assim podem obter descontos ou integral gratuidade dos seus estudos como forma de prestígio e investimento em prováveis talentos. Por um lado é uma forma de reconhecimento e incentivo aos alunos que debruçam sobre a vida escolar na busca e manutenção do conhecimento e também uma forma de tentar garantir a qualidade dos profissionais que carregarão o diploma grafado com o nome da Instituição. Por outro lado é uma medida com tendência à imprecisão, compenetrada apenas no conhecimento teórico ou conceitual do candidato, elemento este que pode ser meramente reproduzido por meio da "decoreba", quando a validade ou legitimidade do saber ocorre na interação que ele possibilita ou protagoniza com o meio.

1 LUCKESI. C.C.Avaliação da aprendizagem escolar. 9. ed. São Paulo: Cortez; 1999.

2 PERRENOUD P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. Porto Alegre: Artmed; 1999


Autor: Thalita Pacini


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