Manutenção das Linhas de Transmissão de Energia Elétrica: um estudo de caso na COTESA Engenharia



Introdução

Atualmente, pressões por alta produtividade e competitividade no mercado têm sido devastadoras. As organizações preocupam-se, cada vez mais, em satisfazer seus clientes da melhor maneira possível, eliminando falhas e concentrando suas atenções na qualidade de seus produtos e serviços. Nesse contexto, a manutenção surge para reduzir essas falhas.

No caso das organizações ligadas ao fornecimento de energia elétrica, a manutenção é ainda mais importante, já que a grande maioria das organizações e a sociedade moderna dependem da mesma para realizarem suas atividades.

Dessa forma, o presente artigo objetiva analisar uma empresa de manutenção de linhas transmissão, a Cotesa, verificando os tipos de manutenção utilizados na empresa e se esses são adequados para o tipo de atividade exercido.

Toda a atividade produtiva da sociedade moderna necessita de um insumo básico, a energia elétrica. A energia elétrica está tão presente no cotidiano que se torna difícil mencionar uma tarefa que não dependa, ainda que indiretamente, desse tipo de energia. Portanto, as organizações do setor de elétrico detêm uma grande responsabilidade, fornecer o principal insumo da sociedade moderna.

Os aspectos relacionados a esse recurso não se restringem a sua geração. Tão importante quanto gerar energia é disponibilizá-la aos consumidores. Nesse sentido, ressalta-se o papel da transmissão e da distribuição de energia elétrica e da manutenção de todo o sistema necessário para esta atividade.

Isto justifica a relevância do processo de manutenção da produção para estas organizações. As conseqüências de falhas na transmissão de energia elétrica envolvem não somente custos com reparos e multas, mas também causam transtornos e inviabilizam grande parte das atividades dos seus consumidores, pondo em risco, inclusive, a saúde e vidas humanas.

Por tais motivos, o esclarecimento sobre o tema manutenção transforma-se no principal objetivo desse artigo, particularmente, a manutenção das linhas de transmissão de energia elétrica realizada pela empresa Cotesa Engenharia.

A metodologia utilizada para a consecução desse objetivo consiste em entrevistas realizadas com o diretor operacional da empresa e com o gerente de linhas durante o segundo semestre de 2005 e do relato da experiência adquirida por um dos autores ao trabalhar para a mesma organização. Foge do propósito desse artigo a apresentação de termos técnicos utilizados pelos que atuam na área, de modo que grande parte dos termos utilizados é meramente didática, facilitando a leitura por pessoas leigas no assunto.

1. Conceituando Manutenção

O conceito de manutenção possui diversos enfoques: alguns o apresentam como uma tarefa ou atividade, outros o relacionam a um processo. Seguindo a primeira linha, Slack et al. (1997: 635) definem manutenção como “[...] o termo usado para abordar a forma pela qual as organizações tentam evitar as falhas cuidando de suas instalações físicas.” Constitui também um fator importante de grande parte das atividades de produção, uma vez que tomam parte considerável do tempo e atenção dos administradores de produção.

Ainda conforme os autores são inúmeros os benefícios proporcionados pela manutenção. Dentre eles pode-se citar:

a) segurança melhorada: instalações bem mantidas tendem a apresentar um menor desvio do comportamento previsto e a proporcionar menores riscos ao pessoal;
b) confiabilidade aumentada: menos tempo perdido com consertos e menores gastos com interrupções da produção;
c)maior qualidade: representada pelo melhor desempenho dos equipamentos que se comportam segundo um padrão determinado, de modo a não comprometer a qualidade dos produtos ou serviços;
d) tempo de vida mais longo: os cuidados direcionados aos equipamentos permitem uma redução de problemas de operação, desgastes, deterioração e outros que podem reduzir o tempo de vida das instalações;
e) custos de operação mais baixos: instalações que recebem manutenção regularmente funcionam de forma mais eficiente.

Fabro (2003) prefere relacionar a manutenção a um processo, cujo desempenho depende dos seguintes fatores: documentação técnica, elaborada com base na recomendação dos fabricantes dos equipamentos e no acúmulo de conhecimento da equipe de manutenção, facilitando a ação em situações que exigem decisões rápidas e precisas; engenharia de manutenção, responsável pelo gerenciamento das ferramentas para atualização técnica de sistemas, processos, equipamentos e pessoal de manutenção; informatização, para permitir a interligação do setor com as demais áreas da empresa; planejamento da manutenção, que envolve todos os fatores citados anteriormente e treinamento, ou aprimoramento técnico dos funcionários, como resposta às contínuas mudanças tecnológicas.

Para o autor, o objetivo primordial da manutenção é “[...] manter os processos produtivos disponíveis à produção, quando existe a necessidade de produzir com qualidade ao menor custo possível” (FABRO, 2003:26), Por sua vez, Tavares (1999) afirmam que a essência da atividade está na geração de condições adequadas para que equipamentos, instalações e serviços funcionem corretamente, visando atingir objetivos e metas da empresa atendendo assim, aos clientes, ao mais baixo custo, sem perda de qualidade.

Já Slack et al. (1997) descrevem tal objetivo como o cuidado despendido pelas organizações na tentativa de evitar falhas que ocorrem em suas instalações. Esse pode ser alcançado utilizado três abordagens distintas. Na primeira delas, chamada corretiva, o trabalho de manutenção só ocorre após a falha ter ocorrido, sendo empregada em condições onde as falhas não são catastróficas nem tão freqüentes.

A segunda, manutenção preventiva procura eliminar ou reduzir as probabilidades de falhas por manutenções em intervalos pré-planejados e, diferente da primeira, é aplicada quando as falhas decorrentes são consideradas mais sérias. A última delas, a manutenção preditiva, é realizada de acordo com necessidade das instalações, calculadas com base na monitoração contínua de cada componente do sistema produtivo.
No caso da manutenção preventiva, Riggs (1976, p. 402) ressalta que “o problema é saber se a manutenção preventiva é mais econômica do que fazer reparos à medida que são necessários e, se for mais econômica, qual a freqüência das manutenções mais importantes”.

Uma alternativa é a utilização de manutenções que combinem os tipos de abordagens apresentadas pelos autores. Sendo que as abordagens mais atuais têm como foco não o reparo, mas a prevenção de defeitos.
Contudo, a própria atividade de manutenção está sujeita a erros. A fim de amenizá-los Fabro (2003) sugere a melhoria das condições de trabalho, aprimoramento das ferramentas e equipamentos utilizados nos reparos, preocupação com um planejamento bem elaborado e o treinamento dos executores das tarefas.

A recomendação de um planejamento bem elaborado desperta para a percepção estratégica da manutenção, uma vez que com afirma Pinto (2001:22 apud FABRO, 2003:17): “Para que a manutenção possa contribuir efetivamente para que a empresa caminhe rumo a excelência empresarial, é preciso que sua gestão seja feita com uma visão estratégica”.
Assim, mais do que a preocupação com os aspectos técnicos da atividade, a manutenção envolve o alcance das metas da organização que a realiza, sendo uma atividade de grande relevância para a Administração da Produção.

2. Sistema Elétrico

Sistema elétrico é um conjunto de usinas, subestações, linhas de transmissão e outros equipamentos que possibilitam a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica em uma área específica.

A energia elétrica só pode ser gerada em usinas classificadas conforme os recursos que utilizam (hidroelétrica, termoelétrica, eólica, nuclear, etc.). Devido a motivos de segurança para a população, condições naturais e instalações físicas, estas usinas muitas vezes não podem estar localizadas próximas às regiões consumidoras da energia gerada.

Assim há a necessidade que a energia elétrica percorra longas distâncias, saindo das usinas geradoras, onde o nível de tensão da energia é elevado (subestação elevadora) para valores muito mais altos do que aqueles em que foram gerados, visando uma transmissão de energia elétrica de modo econômico e com menores perdas.

A energia percorre as linhas de transmissão até outras subestações de empresas distribuidoras que, por sua vez, reduzem o nível de tensão ao necessário pra o consumo (indústrias usam média tensão, até 15 kV e residências usam baixa tensão, até 600 Volts). Percebe-se que a atividade elétrica é composta por três etapas principais: a geração, onde certo tipo de energia é transformada em energia elétrica; a transmissão, onde a energia elétrica é transportada em altas tensões; e a distribuição, onde a energia e distribuída ao consumidor final em baixas tensões.

A energia elétrica no Brasil é derivada, predominantemente de usinas hidroelétricas e termoelétricas. As usinas hidroelétricas são inúmeras, devido à natureza privilegiada, às condições continentais e ao grande número de rios caudalosos capazes de gerar energia em grande escala. No caso do sistema elétrico brasileiro, torna-se imprescindível decorrer sobre o Operador Nacional do Sistema Elétrico.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, criada em 26 de agosto de 1998, responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). (ONS, 2005, p.1)

Conforme a ONS (2005) a produção de energia elétrica no Brasil é realizada por um sistema hidrotérmico de múltiplos proprietários, sendo que 96,6% dessa produção integra o SIN, formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Os 3,4% restantes encontram-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados, localizados, principalmente, na região amazônica.

O mercado consumidor nacional é composto por cerca de 47 milhões de unidades, sendo 56% nas regiões sudeste/centro-oeste, 22% na região nordeste, 15% na região sul, 5% na região norte e 2% em sistemas isolados.

O Sistema de Transmissão Interligado Nacional, nas tensões de 230 kV a 750 kV, é composto de cerca de 77.640 km de linhas de transmissão e cerca de 530 usinas e subestações.

3. Linhas de Transmissão

Linha de transmissão é uma linha usada para transmitir energia em alta tensão (de 230 kV a 750 kV). Esta transmissão não é irradiada, e sim guiada de uma fonte geradora para uma carga consumidora. A linha de transmissão é formada por cabos condutores de energia elétrica (principais componentes), torres e isoladores que sustentam esses cabos.

A energia gerada nem sempre será utilizada, ou consumida no lugar de sua geração, portanto a linha de transmissão precisa ter a maior eficiência possível. Esta é delimitada por diversos parâmetros, tais como indutância, capacitância, velocidade de propagação, constante de fase, entre vários outros.

A atividade de manutenção em linhas de transmissão é regulamentada pela ONS. Para um melhor desempenho do sistema elétrico nacional foram criados os “Procedimentos de Rede” referentes ao “Acompanhamento da Manutenção dos Sistemas Elétricos”. Estes têm como objetivo padronizar a operação, de modo a proporcionar um serviço de fornecimento de energia elétrica nos níveis e padrões de qualidade e confiabilidade requeridos pelos consumidores e aprovados pela ANEEL (ONS, 2005).

Conforme o documento citado considera-se que os agentes de geração e os agentes de transmissão, por serem os proprietários dos equipamentos e instalações integrantes do sistema físico, são os responsáveis pela manutenção dos mesmos.

Para que os níveis e padrões de qualidade requeridos sejam alcançados, é essencial que as atividades de manutenção realizadas pelos agentes nos equipamentos e instalações da rede de operação, garantam normalidade, confiabilidade e continuidade da operação dos mesmos nas condições nominais de projeto ou naquelas previamente comunicadas ao ONS, dentro dos padrões de desempenho homologados pela ANEEL.

Neste contexto, o acompanhamento da manutenção exercido pelo ONS consiste em (ONS, 2005):

a) Analisar os dados obtidos em ensaio operacional conduzido pelo ONS, para a certificação da capacidade de geração de unidade geradora declarada pelo Agente de Geração;

b) Empenhar para que haja a liberação de equipamentos e instalações da Rede de Operação para a execução das atividades mínimas de manutenção previstas pelos Agentes de Geração e Agentes de Transmissão;

c) Verificar, através do acompanhamento dos Programas Mensais e do Plano Anual de Manutenção da Rede de Operação, se as atividades mínimas de manutenção estão sendo executadas e analisar os indicadores de realização e cancelamento das programações;

d) Acompanhar o desempenho da manutenção da Rede de Operação através da análise dos indicadores de desempenho de linhas de transmissão, de equipamentos de subestações e usinas despachadas pelo ONS;

e) Atuar nos casos em que os indicadores de desempenho estejam situados dentro da faixa de alerta definida pela ANEEL, solicitando ao Agente um Plano de Ação para a recuperação desses indicadores e acompanhando os resultados dele decorrentes.

4. Apresentação da Empresa

A Cotesa Engenharia é uma empresa que trabalha no ramo de construção e fiscalização e manutenção de subestações e linhas de transmissão de energia elétrica. Em dezembro de 1996, profissionais oriundos do Setor Elétrico Brasileiro fundaram a empresa que tem Sede no bairro Kobrasol, no município de São José/SC, e filiais (Unidades de Manutenção) localizadas nos municípios de Santo Ângelo/RS e Paraíso do Tocantins/TO. A empresa possui em seu quadro de pessoal, profissionais qualificados para atuar na supervisão de obras de transmissão.

Atualmente a empresa presta serviços de manutenção em três linhas de transmissão: A linha de transmissão 500kV Norte-Sul II e as linhas de transmissão 525 kV Garabí - Itá, circuitos paralelos I e II.

A Unidade de Manutenção de Paraíso presta serviços de manutenção na linha de transmissão Norte-Sul II em 500 kV de propriedade da Novatrans Energia S.A. A linha tem origem na subestação de Imperatriz/MA, passando pelos estados de Tocantins e Goiás, terminando na subestação de Samambaia/Distrito Federal, com extensão de 1278 km entre as subestações de Imperatriz/MA e Samambaia/DF. Faz parte do Sistema de Interligação Norte Sul do Brasil, com capacidade de transporte de mais de 1000 MW.

A Sede de Manutenção da linha de transmissão Norte-Sul II está localizada na cidade de Paraíso do Tocantins/TO. Alem dessa, existem seis sub-unidades situadas nas localidades de Porto Franco (MA), Colinas (TO), Paraíso (TO), Gurupí (TO), Minaçú (GO) e Padre Bernardo (GO), constituídas por equipes com quatro eletricistas cada uma, responsáveis pela inspeção e manutenção dos 1.278 Km da linha.

A Unidade de Manutenção de Santo Ângelo presta serviços de manutenção nas linhas de transmissão Garabí/RS – Ita/SC, circuitos I e II em 525 kV de propriedade da Companhia de Interconexão Energética – CIEN. Com extensão de 360 km cada um é o mais importante meio de interligação de energia entre o sistema elétrico argentino e sistema elétrico brasileiro, com capacidade de transporte de mais de 2200 megawatts.

As instalações de manutenção constituem-se de escritórios, almoxarifado de ferramental de linha desenergizada, almoxarifado climatizado de ferramental energizada, garagens para veículos, depósito/almoxarifado de acessórios, cabos e torres para reposição. Está em andamento a implantação de um campo de treinamento, em Santo Ângelo, para possibilitar a aplicação de treinamentos de formação, reciclagem e atualização de eletricistas nas técnicas de manutenção com a linha desenergizada ou energizada.

5. Manutenção de Linhas de Transmissão Realizada Pela COTESA Engenharia

O trabalho de manutenção das linhas de transmissão realizado pela Cotesa é dividido em aspectos principais: manutenção do terreno onde está instalada a torre, manutenção da torre e manutenção dos cabos condutores.

A manutenção do terreno onde está instalada a torre é importante para que a vegetação local não interfira no bom funcionamento da linha de transmissão e para que os acessos à torre estejam em condições que permitam o transito dos veículos de manutenção que transportam pessoal, ferramentas e instrumentos.

Com relação à manutenção da vegetação deve ser mantida uma distância (entre o topo das árvores e os cabos condutores) regulamentada por normas de projeto da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - para que não ocorra nenhum contato entre a vegetação e as torres ou cabos de transmissão que possa provocar o desligamento da linha por descarga elétrica. Este tipo de manutenção depende da vegetação local que determina o crescimento e a altura da vegetação na idade adulta.

A supressão das árvores depende de licença ambiental do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Em locais de mata nativa e espécies raras a vegetação deve ser podada e nos casos extremos em que for permitido o corte, o IBAMA exige que lhe seja apresentado um programa de replantio das espécies.

O serviço de limpeza de faixa (corte da vegetação comum a média altura) inclui o afastamento da vegetação cortada para longe dos cabos condutores, pois a vegetação seca amontoada facilita o surgimento de incêndio, principalmente na região do cerrado onde as temperaturas são muita altas e a umidade do ar baixa. A queimada, com altas labaredas e sob os condutores, provoca o desligamento da linha pela redução do isolamento do ar.

No que tange à manutenção das torres de transmissão existem várias operações destinadas à sua conservação. Dentre estas, tem-se: o aperto ou troca de parafusos, troca de isoladores, substituição de peças corroídas e retencionamento de estais (tirantes de aço que sustentam certos tipos de torres).

Na manutenção dos isoladores e acessórios de cabos condutores e pára-raios, a Cotesa trabalha tanto em linha energizada (linha viva) quanto em linha desenergizada (linha morta).

Quando se trabalha com linha viva, não há a necessidade do desligamento da mesma. Isto significa uma grande economia de recursos financeiros, pois o desligamento da linha por quaisquer motivos programados ou não programados (acidentes/emergências), acarreta punições regulamentadas nos contratos de concessão da instalação pela ANEEL para a empresa proprietária da instalação. Contudo, para se trabalhar com linha viva requerem-se inúmeros cuidados, devido ao risco de morte para os profissionais. Somente uma equipe muito bem treinada, com bom conhecimento técnico e experiência na área pode realizar este trabalho.

Para isso, a Cotesa conta com uma equipe de manutenção em linha energizada constituída por profissionais capacitados, alguns oriundos do Setor Elétrico Brasileiro, mesclado com jovens profissionais treinados pela própria Cotesa. Esta atividade possibilita corrigir defeitos nos isoladores, espaçadores-amortecedores, cabos condutores e demais componentes com a linha energizada, ou seja, sem interrupção do fornecimento de energia.

Para fazer a manutenção com a linha energizada, alguns requisitos são necessários para manter a segurança do sistema de transmissão e dos profissionais que entram em contato com os cabos das linhas de transmissão. Os equipamentos que são utilizados para tal fim exigem alguns cuidados quanto a sua conservação. Entre eles estão: roupa metálica especial condutiva, bota condutiva, bastões e escada constituídos de fibra de vidro e resina epóxi, bastão para equiparação de potencial e corda especiais.

A programação das manutenções das linhas de transmissão é realizada anualmente e acordada com o cliente estabelecido em contrato, sendo a mesma baseada na experiência da empresa e nos dados históricos. A programação anual é subdividida em trimestres e posteriormente em programações semanais.

Todos os serviços de manutenção a serem feitos são descritos nesta programação, devendo estar de acordo com um cronograma predefinido. Esta programação serve como uma linha mestra para as atividades no decorrer do ano, podendo sofrer alterações de acordo com o que foi encontrado nas inspeções ou possíveis imprevistos e decorrências.

As inspeções ocorrem de duas formas. Nas inspeções gerais, as verificações são feitas com os eletricistas indo a campo e detectando anomalias observadas a distância (a olho nu ou com binóculos) cujo registro é feito em relatório próprio de inspeção. Nas inspeções específicas os trabalhadores sobem nas torres das linhas de transmissão e verificam o estado de cada componente ser revisado.

Para auxiliar no seu processo de planejamento, programação e controle da manutenção a empresa desenvolveu uma ferramenta para gerência e manutenção de sistemas de transmissão de energia elétrica – SIGMAN. Este software trabalha com a armazenagem de todas as informações técnicas relativas à manutenção das linhas de transmissão. Tais informações são coletadas em campo, através de inspeções periódicas, enviadas para a sede (São José/SC) onde são cadastradas e compiladas, para então reprogramar as seguintes manutenções.

O relatório de inspeção é baseado em uma tabela de anomalias com os diversos itens já codificadas ao longo dos anos pelas constatações da empresa. Este relatório alimenta o banco de dados do sistema de informação da manutenção das linhas de transmissão utilizado pela Cotesa – SIGMAN. A partir deste banco de dados são programadas as manutenções.

Conclusão

Com base na teoria e análise decorridas, verifica-se que a Cotesa possui os três tipos de manutenção em suas linhas de transmissão: a corretiva, a preventiva e a preditiva. É importante ressaltar que utilizar os três tipos de manutenção é o mais aconselhável em se tratando de manutenção.

Sendo a própria linha de transmissão considerada um equipamento de sistema elétrico, a manutenção corretiva ocorre geralmente em razão de fenômenos naturais como tempestade e vendavais. Ocorre também em casos de acidentes tanto nos cabos quanto nas torres; ou mesmo no caso de falhas em outro tipo de manutenção realizada.

Percebe-se que na Cotesa a manutenção corretiva é evitada a todo custo, pois se alguma vez se fizer necessária será pela falha do equipamento linha de transmissão. Esta situação representaria a interrupção de energia elétrica para diversas localidades, o que seria catastrófico.

O tipo de manutenção mais empregado pela Cotesa na manutenção de linhas de transmissão é a manutenção preditiva. No caso de componentes simples, como parafusos e peças metálicas das torres, a troca ou regulagem é realizada após vistoria visual simples das inspeções gerais e específicas.

Existem casos de manutenções preditivas mais complexas que necessitam de instrumentos de medição específicos utilizados em inspeções específicas. No caso de torres estaiadas, os cabos (estaios) que sustentam a torre precisam estar tencionados em uma pressão específica. Contudo, os cabos de diferentes torres não perdem a pressão de forma regular. Isto torna impossível delimitar um tempo padrão de retencionamento dos cabos, consequentemente se faz necessário uma constante verificação deste componente.

Por diversos motivos, as linhas de transmissão podem apresentar pontos com temperaturas acima do normal que podem representar um perigo ao bom funcionamento da linha e devem ser corrigidos. Estes pontos são detectados com um termovisor.

Outros casos de manutenção preditiva com uso de instrumentos de medição são as medições de ruído elétrico, medições de resistência do aterramento e as medições de campo elétrico que podem resultar na troca de diversos componentes como cabos pára-raios, isoladores, conversores, entre outros. Outra manutenção preditiva é a manutenção da vegetação através da poda das árvores de acordo com a taxa de crescimento da vegetação local.

Existem poucos componentes do equipamento linha de transmissão que são trocados ou regulados em períodos regulares preestabelecidos. Deste modo, pode-se concluir que existem poucos casos de manutenções preventivas. Um caso de manutenção considerada preventiva é a programação das manutenções das linhas de transmissão que é realizada anualmente. Esta programação é revisada em intervalos regulares com base nos dados continuadamente tabulados no SIGMAN.

Neste contexto, o serviço de manutenção de linhas de transmissão realizado pela Cotesa pode ser relacionado a um processo, onde o acumulo de conhecimento e as documentações técnicas facilitam ações de rápidas decisões.

Portanto, conclui-se que, no caso da Cotesa, a manutenção das linhas de transmissão é um processo de extrema importância já que qualquer interrupção da energia resulta em gastos incomensuráveis, e como foi observado, os tipos de manutenção utilizados são adequados para a complexidade do serviço prestado pela empresa.

Por último, cabe retomar a verdadeira importância da manutenção como um fator estratégico para a empresa. Nesse sentido, a percepção da manutenção não está apenas no relacionamento da atividade fim da organização com a capacidade de proporcionar os benefícios citados por Slack et al. (1997), envolvendo fatores como segurança, qualidade e custos. Mais do que isso, constatou-se a prestação de um serviço bem planejado que atende às necessidades de seus clientes e desenvolvido de acordo com os estudos e as ações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) bem como com as determinações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Referências

COTESA Engenharia. Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2005.

FABRO, Elton. Modelo para planejamento de manutenção baseado em indicadores de criticidade de processo. 2003. 99 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003 Disponível em: . Acesso em: 21 de nov. 2005.

ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico. Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2005.

RIGGS, James L. Administração da produção: planejamento, análise e controle. São Paulo: Atlas, 1976.

SLACK, Nigel et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas,1997.

TAVARES, Lourival. Administração Moderna da Manutenção. Rio de Janeiro. Editora Novo Pólo Publicações, 1999.

Artigo desenvolvido em colaboração com os seguintes graduandos de Administração

Ana Paula Spinato Bressane
Bruno Vechi Junklaus
Cíntia Boava Rocha
Thaís Ikuhara Santos
Autor: Silvana Ribeiro dos Santos


Artigos Relacionados


Caracterização Da Transmissão De Dados Na Rede Elétrica

Interpretação Das Definições De Termos De Manutenção Estabelecidos Pela Norma Abnt Nbr 5462 - Manutenabilidade E Confiabilidade

Projeto Básico Para Verificação Da Viabilidade Econômica De Uma Unidade De Geração De Energia Elétrica

A História Da Evolução Do Sistema De Gestão De Manutenção

Termografia Em Manutenção

GerÊnciador EstatÍstico De Processos

Revendedores Autorizados Motorola – Confiança, Segurança E Praticidade Com Os Seus Produtos.