Justiça do Trabalho
Saindo de uma grande empresa tomou sua indenização e montou um restaurante. Uma fina casa. Cozinha italiana do Vêneto e ótimos vinhos. Entusiasmado pelo sucesso, a cada noite convidava seus funcionários a partilharem com ele as meias garrafas sobradas, as travessas que haviam restado, e se comprazia ao vê-los regalarem-se.
Um belo dia, depois de anos de sucesso, fui ao seu restaurante e atendeu-me um dos garçons. - Onde está Roland? O rapaz esclareceu satisfeito: - A casa agora é nossa! Encurtando o relato: os funcionários haviam movido uma ação trabalhista e como meu amigo, inadvertido, esquecera de cobrar pelas refeições, pouco que fosse, estas foram integradas aos salários, e pela “sábia” interpretação do juiz aos preços do cardápio! Ao proprietário nada restou senão entregar as chaves, os bens e seus sonhos. Como me disse ele, nada teria acontecido se ele jogasse vinhos e travessas no lixo e mandasse a todos comer cachorro quente na esquina.
Esqueci de dizer que em meses os novos sócios foram à falência. Olvidei que uma cozinheira recusou-se a participar da trama, foi chamada de trouxa pelos colegas e dispensada pelos novos donos, desempregada e sem ficar sócia do negócio. Deve ter apanhado em casa também. Isto tudo nos leva aonde eu queria chegar. A Justiça do Trabalho do Brasil é uma máquina de ensino. Vê capital e trabalho como inimigos, protege um em detrimento do outro. Expressa uma luta de classes, deletéria como todo combate. E o que ensina? Ensina que o patrão que deseja beneficiar será punido, e que o funcionário honesto que quer cumprir o combinado, que entende as intenções, é um tolo. Meu exemplo é apenas típico, todos os leitores conhecerão várias histórias desta extração. Muitas vezes assisti reuniões empresariais em que patrões foram aconselhados por advogados a não criar benefícios por causa dos riscos trabalhistas envolvidos, e com a nossa justiça, lamentavelmente, estavam certos.
Meu amigo deixou de ser empresário. Os que foram ensinados, pela nossa justiça trabalhista a serem trapaceiros, e premiados por ela por seu ato, afundaram a casa que os empregara. Todos perderam, empreendedor, empregados, sociedade. Não precisamos desta máquina judicial que poucos países tem, e nenhum dos bem sucedidos. Falta-nos justiça civil ágil, e todos os seus recursos humanos e materiais poderiam ser deslocados para esta.
A Canção de Roland narra que nosso herói morreu ao tocar sua trombeta. Partiu sua espada, a famosa Durandarte, fazendo uma fenda na montanha. A sociedade brasileira precisa se dar conta do desperdício desta máquina pública, transferir suas questões para o âmbito civil. Quebrar esta espada que pune os bem intencionados e premia os malandros. Roland precisa tocar sua trombeta, tentar tirar mais esta montanha que nos atravanca o caminho.
Petrucio Chalegre
Dir.Pres. da Chalegre Consultoria www.chalegre.com.br
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Autor: Petrucio Chalegre
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