Biodiesel



PROALCOOL

Em 1975, no auge da primeira crise mundial de petróleo, quando o Brasil lançou o pró-álcool, o programa foi festejado pelos brasileiros e visto como uma esperança de diminuirmos a nossa dependência do “ouro negro”. Naquela época a nossa dependência de importações para o abastecimento interno de petróleo era de 80% do consumo. Mais tarde, na década de 1980, quando o preço do petróleo despencou e o subsídio à produção de álcool ficou explícita, numa época de falta de recursos para outras atividades, não faltaram críticos exigindo o fim do programa. Passados 30 anos o álcool brasileiro é referência mundial em termos de produtividade, competitividade e desenvolvimento tecnológico em todas as fases da cadeia de produção de açúcar e álcool.

NOVA CRISE DO PETRÓLEO

Os estudos atuais têm demonstrado que a produção mundial de petróleo chegou ao seu ápice, devendo declinar ao longo dos próximos 50 anos, até o seu desaparecimento como fonte de energia. O Brasil é um dos poucos países do mundo que aumentará a produção de petróleo ao longo dos próximos 15 anos, a ponto de nos tornarmos exportadores líquidos já a partir do ano que vem ou do ano seguinte (2006 ou 2007).

Essa queda mundial contínua da produção elevará os preços para patamares inimagináveis hoje. Em breve teremos preços em torno de US$ 100 o barril. No futuro, independentemente de sermos auto-suficientes e exportadores do produto, os preços internos acompanharão os preços internacionais, tal como ocorre hoje com a soja, o frango e demais produtos transacionáveis internacionalmente. Assim, plantar uma semente que intensifica a substituição do petróleo por fontes de energia renovável, como o álcool, a energia solar e agora o biodiesel é de suma importância.

BIODIESEL

Na semana passada, o governo brasileiro, através da ANP – Agência Nacional do Petróleo - realizou o primeiro leilão de compra de biodiesel do país. Foram negociados 70 milhões de litros. O objetivo dos leilões é garantir aos produtores de biodiesel e aos agricultores, especialmente os que praticam agricultura familiar, um mercado para a venda da produção. A previsão da ANP é que até o final do ano de 2007 sejam adquiridos 800 milhões de litros de biodiesel.

A partir de 2008, a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo será obrigatória. Embora neste início do processo de produção existam muitas regras, como a exigência de comprar entre 30% e 50% da matéria prima de produtores da agricultura familiar, dependendo da região do país, no futuro o mercado de matéria prima vai se estabelecer independentemente de subsídios, tal como ocorre hoje com o álcool. Portanto, é necessário incentivar o processo por uma década pelo menos, para mais tarde o país colher os frutos de uma tecnologia própria e competitiva neste setor.

NOVO MERCADO PARA A SOJA

A produção mundial de soja dobrou ao longo dos últimos 15 anos. Isso aconteceu porque o consumo também dobrou. Saímos de uma produção mundial de 100 milhões de toneladas em 1990/1991 para 200 milhões de toneladas atualmente. O aumento de consumo de todos os países e principalmente da China provocou essa possibilidade de expansão.

Agora o Biodiesel vem reforçar essa possibilidade de expansão da produção, pelo mercado contínuo e cativo que proporciona. Esse novo uso da soja será de extrema importância na medida em que aumentarmos a produtividade e reduzirmos custos de produção da soja ao mesmo tempo em que os preços do petróleo passem a aumentar. É muito provável que daqui a 30 anos tenhamos tanto orgulho do biodiesel da soja ou da mamona como temos orgulho hoje do nosso álcool. Os governos precisam ter coragem de fazer essas apostas no futuro. Parabéns aos idealizadores.
Autor: Edison Luiz Leismann


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