As Melhorias como Alimento da Inovação - Envolvimento da Equipe na Geração de Idéias



Publicado na Gazeta Mercantil

*Feito em parceria com Luciana Annunziata

De onde vêm as boas idéias? Esta é questão especialmente relevante para as empresas que precisam inovar. Hoje, sistemas de avaliação de idéias em etapas sucessivas, tais como os Funis de Inovação, são muito utilizados. Esse tipo de sistema avalia propostas de inovação, mas nem sempre estimula ou estrutura os processos prévios à seleção, ou seja, a geração de idéias.

Entretanto, as inovações se alimentam das boas perguntas feitas pelos integrantes de uma organização, aquelas que enfocam principalmente paradoxos, dilemas, oportunidades ou dúvidas encontradas no trabalho cotidiano. Grande parte dessas contribuições tende a vir das “terminações nervosas” da empresa. Vendedores, atendentes, personagens anônimos podem, se estimulados, dar grandes contribuições, já que o contato com o mercado em “tempo real” se dá por meio deles. Entretanto, normalmente o público envolvido nos projetos de inovação é predominantemente gerencial ou acima. É imprescindível que a cúpula esteja envolvida com a avaliação e implementação das inovações de grande porte, mas concentrar a geração de idéias apenas nos níveis gerenciais pode significar perda de oportunidades.

Como então estimular as contribuições dos colaboradores em todos os níveis?

Os programas de sugestões não são uma idéia nova, mas poucas vezes são pensados como um mecanismo a ser integrado a processos de inovação. Se nos questionarmos do porquê dessa ausência de integração, encontraremos alguns pontos interessantes: há uma diferenciação entre projetos de inovação e projetos de melhoria, reforçada pela crença de que pensar em melhorias significa deixar de ver oportunidades de inovações mais amplas e vice-versa. Outro fator para esse afastamento seria a idéia de que as melhorias dificilmente apontam questões suficientemente globais ou profundas para afetarem um processo de inovação.

Podemos estar perdendo, nesse caso, contribuições particularmente interessantes, já que o questionamento do óbvio e a observação inocente são alavancas poderosas do processo criativo.

Como então formatar um programa de gestão de idéias amplo, que provoque esse tipo de contribuição? Aqui temos um paradoxo: o volume de idéias pode tornar inviável não só o programa como o próprio dia-a-dia da empresa, pois avalizar e adequar idéias requer tempo e dedicação.

Além disso, um alto índice de rejeição ou negligência às idéias apresentadas pode gerar uma frustração tão grande entre os colaboradores que inviabilizará o programa.

Entretanto, é interessante que os funcionários possam contribuir não só com idéias acabadas, mas também apresentar questões, mesmo que pareçam inviáveis ou fora do foco da empresa. Elas podem indicar fatos novos ou estranhos que estão acontecendo no mercado.

Há formas de administrarmos esse paradoxo, iniciando com a criação de sistemas que mostrem ao funcionário como se articulam as políticas de inovações e melhorias e como as sugestões podem, sim contribuir para projetos maiores.

Assim é possível:

1)Iniciar um programa de gestão de idéias dentro do espectro das pequenas melhorias contemplando processos, atendimento, adaptações em geral. 2)Estimular, desde o início, uma atitude mais validadora do que avaliadora, ou seja, pessoas mais preocupadas em aprimorar idéias do que em julgá-las. 3)Estabelecer processos que conectem o sistema de melhorias ao sistema de inovação, criando um canal pelo qual podem fluir as idéias que tiverem maior potencial para inovação. 4)Quando o programa estiver mais maduro, ampliar o espectro das sugestões solicitadas e montar equipe de análise de potencial das idéias, que poderá selecionar: a)idéias com potencial para multiplicação – uma boa idéia que beneficiou uma loja pode beneficiar todas as demais? b)idéias com potencial para grandes inovações – uma idéia que visa apenas uma melhoria poderia se ampliada e aprimorada, tornar-se uma inovação? c)áreas ou situações sensíveis a grandes inovações - uma avalanche de idéias que apontam para a mesma área pode ser um indicador de potencial para inovações; d)idéias não-prioritárias – são idéias que estão fora do foco estratégico, mas que podem eventualmente representar oportunidades; e)provocações – para o especialista em criatividade e inovação Edward de Bono, uma provocação é uma má idéia que nos estimula a pensar criativamente.

Não podemos permitir que os programas de gestão de idéias repitam os padrões não participativos das empresas autocráticas. Precisamos garantir que a gestão de idéias seja ao mesmo tempo fruto e gerador de empresas inovadoras, e não uma adequação tecnológica da velha caixinha de sugestões.

A questão-chave talvez seja o próprio preconceito que está na raiz da separação entre os programas de melhorias e inovações. Será que grandes descobertas são exclusividade gerencial?



Luciana Annunziata é mestre em Criatividade Aplicada e diretora da DobraRh
Autor: Gisela Kassoy


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