Lixo urbano e economia
Vamos iniciar este artigo com alguns questionamentos, cujo tema principal é o lixo nosso de cada dia: a) Você sabia que tudo que é descartado em sua casa e vai para o lixo é ônus institucional das prefeituras? b) Quanto é que as prefeituras gastam com o lixo? c) A sociedade pode extrair algo de positivo do “lixo”? d) De que forma a coleta seletiva pode contribuir? e) Como e em que os governos podem auxiliar para diminuir o “lixo” e os problemas que ele causa à sociedade?’
Primeiramente, lembramos que o lixo – também chamado de resíduos sólidos – deve ser coletado, transportado e disposto de forma adequada pelas prefeituras municipais, tendo, como prioridade, não causar danos ao meio ambiente e à população, ou seja, as prefeituras devem coletar o lixo na porta de sua casa e depositá-lo de forma correta em aterros controlados e não em lixões, já que esses degradam o meio ambiente. O custo para esse processo de coleta até a disposição adequada do lixo é alto, basta pensarmos quanto custaria para manter caminhões, funcionários e um aterro em uso ininterrupto, visto que estamos gerando lixo o ano todo. Entretanto, é a sociedade quem paga. Há países que já estão pagando muito caro por isso. O jornalista Washington Novaes em uma de suas entrevistas citou exemplo do Canadá, onde a cidade de Toronto já leva seu lixo a 800 km de distância e tiveram que criar uma linha férrea para transportá-lo.
Um ponto que não deve ser esquecido e que tem ligação direta com o lixo é a coleta seletiva. A mesma traz inúmeras vantagens para toda a sociedade, no entanto, para que haja sucesso, deve haver investimentos no sentido de sensibilizar a população na separação de materiais que podem ser reaproveitados.
O poder público deve propiciar as condições necessárias à ampliação do espaço para o debate e para a participação social na defesa e na execução das políticas ambientais, notadamente em relação ao lixo, uma vez que todos podem e devem adotar o princípio dos 3R – reduzir, reutilizar e reciclar.
Se partirmos para a coleta seletiva podemos extrair pontos positivos do lixo. A partir do momento que ela funciona viabiliza uma qualidade de materiais os quais podem ser reciclados e que estariam indo direto para o lixo. Também harmoniza e estimula a cidadania. Permite um aumento na escala e amplia gradativamente a quantidade de materiais destinados à reciclagem, reduzindo o volume do lixo disposto no aterro, conseqüentemente, aumentando a vida útil do mesmo. A Revista da Indústria, publicada pela FIESP no mês de julho de 2005, traz alguns números interessantes sobre a reciclagem, afirmando que o aproveitamento de resíduos já é alto em alguns setores como, 97% em alumínio, 77,3% em papelão ondulado e 40% em PET.
Porém, atualmente, o que mais sensibiliza a população para a separação do lixo é a geração de renda para catadores, sucateiros e outros que estão envolvidos com a área da reciclagem.
Outro ponto que liga o lixo à economia diz respeito à geração de energia. Estudos mostram que a matéria orgânica quando se decompõe, produz o gás metano (CH4) que é um gás poderosíssimo de efeito estufa, pois é 21 vezes mais quente que o CO2. Esse gás metano “solto” na natureza pode causar mudanças climáticas. Infelizmente o Brasil é um grande produtor de gás metano. Das 180 mil toneladas produzidas por dia, 31% é abandonado a céu aberto. Entretanto, o Ministério de Meio Ambiente fez uma pesquisa analisando o lixo e os aterros de 91 cidades brasileiras em que constatou que o potencial energético a partir do gás metano produzido por esses 91 aterros é o suficiente para atender a 6,5 milhões de pessoas.
Vimos que o lixo tem uma forte ligação com a área econômica, mas ainda tem muito para ser feito por parte do poder público que, na maioria das cidades, não estimula a coleta seletiva. Há pontos na legislação tributária que devem ser mudados para estimular a criação de novos negócios e novas empresas na área de reciclagem de produtos. Precisamos estimular a mudança nos percentuais de cobrança do ICMS para empresas dessa área, sem contar com as leis de atração de novos empreendimentos empresariais, especialmente das empresas que atuam junto à reciclagem. Finalmente, além dos ganhos econômicos que destacamos neste artigo, temos os ganhos ambientais que são imensuráveis.
Marçal Rogério Rizzo é Economista, Professor Universitário, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Artigo publicado no Jornal Folha da Região - Caderno Cidades – página B-2 – Araçatuba (SP), 23 de junho de 2006.
Autor: Marçal Rogério Rizzo
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