Conservar as matas gerando renda



Na escola, aprendemos que o Brasil é um país imenso de dimensões continentais. Aprendemos também que o verde é necessário. Entretanto, o que ainda prevalece nesta amada terra são os problemas relacionados às questões agrária e ambiental.
O Brasil tem uma diversidade ambiental de causar inveja a qualquer outro país do mundo, mas, não sabe-se utilizar dessas vantagens comparativa e competitiva que existem. Despreza o que a natureza oferece. Ainda, pensando em Brasil, nota-se a hegemonia do modelo de desenvolvimento que vem desde o período do Brasil Colônia, que se baseia na monocultura exportadora, que prevalece em alta, especialmente no que diz respeito à cana-de-açúcar. As fronteiras agrícolas não param de avançar. Cada vez mais, as matas vão para o chão, dando lugar às plantações e à pecuária.
Este artigo vem chamar a atenção para a necessidade de uma inovação. Os interesses econômicos sempre privilegiaram e esse atual modelo de desenvolvimento econômico só privilegia o lucro. Temos que criar um novo modelo de desenvolvimento, um modelo que dê chances de sobrevida ao meio ambiente e, conseqüentemente, às futuras gerações.
Pensamos numa “coisa” bem simples que é explorar a mata, mantendo-a “em pé”. Onde não há mata, por que não plantarmos? Não estou afirmando que devemos parar de produzir o açúcar, o álcool, a soja, a carne, o leite, entre outros, mas, certamente, temos que diversificar. Hoje, existem culturas que têm por base o extrativismo, que pode muito bem ser mais uma fonte geradora de renda como, por exemplo, a seringueira. Podemos pensar em espécies de árvores que poderão servir para a indústria de fármacos, de cosméticos e, se bem gerenciadas, até alimentícias, além do manejo sustentável da madeira.
Quero encerrar este artigo, lembrando de heróis ambientalistas que vivem e viveram em lugares remotos deste país e lutam e lutavam contra esse atual modelo exploratório. As denúncias de degradação ambiental nunca pararam de surgir e, na maioria das vezes, o governo não é capaz de investigá-las. Nesse sentido, é necessária a participação efetiva dessas pessoas que lutam para a mudança desse modelo.
Chamo a atenção para o ecologista paraense Tarcisio Feitosa que ganhou recentemente o Prêmio Goldman 2006. Lembro também da freira americana, Dorothy Stang que foi morta com seis tiros no dia 12 de fevereiro de 2005 em Anapu (Estado do Pará) e, claro, não poderia deixar de lembrar do nome de um líder que deixou saudade, Chico Mendes, líder dos seringueiros e ecologista que foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 em Xapuri (Estado do Acre). Outro exemplo de luta pelo meio ambiente é o ambientalista Francisco Anselmo de Barros, que no dia 12 de novembro de 2005 ateou fogo no corpo na cidade de Campo Grande (Mato grosso do Sul) durante um protesto contra o projeto de instalação de usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai (Pantanal), que era defendido pelo governo de Mato Grosso do Sul. O ambientalista faleceu no dia 13 de novembro.
Os povos das florestas, os ribeirinhos, os pioneiros, as comunidades tradicionais necessitam de heróis e batalhadores em prol do meio ambiente. Esse atual modelo de desenvolvimento busca a ocupação das terras, mas, para isso, tem que pôr a mata abaixo e privilegiar os grileiros, a especulação imobiliária, e a monocultura exportadora. Temos que transformar o atual modelo de desenvolvimento econômico em um modelo que olhe para a mata de forma sustentável, ou seja, temos que manter as árvores “de pé”, pois as gerações futuras agradecerão.

Marçal Rogério Rizzo: Economista, Professor Universitário da UniToledo, Especialista em Economia do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Artigo publicado no Jornal Folha da Região de Araçatuba (SP) no dia 29 de junho de 2006 – Página A-2 - Caderno Principal - Ano 35 - no. 10625.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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