Um desabafo contra a ignorância ambiental



Não preciso provar pra ninguém que a nossa região é muito quente. Sentimos na pele o calor dos dias de verão. No forte calor não há algo mais agradável do que uma majestosa sombra de uma árvore. Cobertos por sua sombra o ar parece ser outro, mais fresco e mais puro!

É embaixo desse “chapéu de sombra” que muitas vezes paramos para bater um saudável papo com os amigos, nos refrescar, descansar e até mesmo tirar um cochilo. Quando saímos com os nossos automóveis pela cidade logo procuramos uma vaga para estacionarmos, preferencialmente uma vaga com a sombra de uma árvore, assim no momento que retornamos ao carro ele estará mais fresco. É notório que todos querem usufruir dessa dádiva que a natureza nos presenteou, mas é difícil presenciarmos alguém plantando uma simples árvore.

Num dia desses tivemos em nossa região uma forte ventania no início da noite que derrubou muitas folhas das árvores. Meus amigos e amigas por mais incrível que pareça no outro dia pela manhã na quarta-feira estive visitando meu amigo Edú da banca, e em passagem pela famosa “praça do Jacaré” infelizmente ouvi uma senhora dizer algo que me assustou. Acho que seria melhor não ter ouvido para não ficar tão desapontado com o egoísmo do ser humano. Ao meu ver foi uma tremenda besteira, mas confesso que devo passar isso adiante através desse texto. Ela conversava com um senhor, acredito que deva ser seu marido, pedindo ao mesmo para que mandasse cortar o pé de Oiti que estava plantado defronte sua casa, ou seja, pedia para cortar o seu pé de sombra. Motivo: a árvore estava incomodando, produzia “sujeira” e todo santo dia ela era obrigada a limpar a frente da casa. Tadinha... não agüentava mais varrer a “sujeira” da árvore.

Reclamava inclusive que em Jales não há mais varredores de ruas. Que absurdo cortar uma vida por não querer perder alguns minutos varrendo a frente da casa. Como o ser humano é complicado!

Naquele momento eu me contive, mas minha vontade era perguntar a essa senhora tão ocupada diariamente, e sem tempo de varrer a calçada de sua casa quando o sol está quente ela lembra da “sujeira” que a árvore faz? Será que essa senhora nunca se refrescou embaixo de uma produtora de “sujeira”? Será que essa senhora quando está caminhando pela cidade no escaldante sol do meio dia anda somente nas calçadas sem a produtora de “sujeiras”?

É minha gente, tem muitas pessoas que não pensam no que dizem! Pior ainda, muitos não pensam no que fazem e realmente cortam as produtoras de “sujeiras”, mas aposto que gostam das sombras e das frutas que as mesmas produzem.

Temos que valorizar a nossa flora e lembrarmos mais da importância das árvores para a melhoria na qualidade de vida. As árvores embelezam nosso ambiente; dão frutos, sombra e amenizam a temperatura nas épocas mais quentes do ano, dessa forma, são fundamentais no equilíbrio dos vários tipos de ecossistemas; os peixes que vivem nos rios dependem da queda das folhas e frutos das árvores para se alimentar e os pássaros e mamíferos também têm nas árvores suas fontes de alimento.

Atualmente o que sempre presenciamos é o corte indiscriminado de árvores, ou mesmo a omissão do plantio de uma árvore defronte a sua residência, sítio ou chácara. Os motivos são muitos por essa omissão do plantio de árvores, iniciamos aqui lembrando de um dos sete pecados capitais “a preguiça”, isso mesmo, a preguiça muitas vezes é tamanha que para plantar uma árvore não existe a chamada coragem. Outros dizem que as árvores fazem “sujeira” com suas folhas e frutos e em razão disso não as plantam.

Por outro lado também existem aqueles que constróem seus “palacetes assobradados” e não plantam árvores para não escondem a “moderna” arquitetura deixando a fachada à mostra de todos. Agora nós vos perguntamos: o que é ser moderno? Será que é melhor mostrar a fachada de seu palácio do que contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população em geral? Continuando nessa mesma linha de raciocínio devemos lembrar do cidadão que aproveita da situação social e manda cortar a árvore que se diz ser sua em razão da violência. Isso mesmo parece piada mas é verdade, alegam que a sombra da árvore poderá ocultar um bandido durante a noite. Isso nos abriga a fazer pergunta irônica: Para que existem as árvores se as mesmas atrapalham tanto a humanidade? Responda quem se julgar capaz!

Marçal Rogério Rizzo – Sócio fundador da Ong EcoAção, Economista, Professor Universitário, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Economia Social e do Trabalho.

Artigo publicado no Jornal de Jales (SP) no dia 26 de outubro de 2003 – Página 1-02 - Caderno Principal
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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