Entre os relacionamentos saudáveis e os de assédio moral, o que existe?



Fazendo um apanhado geral sobre relacionamentos no ambiente de trabalho, verificamos que existem os saudáveis e muito produtivos e também os disfuncionais. Para denominar e tratar a tortura psicológica originada do segundo tipo de relacionamento criou-se o termo “assédio moral”. Sem querer minimizar a importância de cada uma destas situações, talvez valha a pena lembrar que estes dois pólos representam as minorias.
E o que acontece entre estes extremos? Partindo do princípio que conflitos, menores ou maiores, são absolutamente comuns e que a maioria das pessoas não sabe resolvê-los, noto uma maioria de relacionamentos não satisfatórios, mas não suficientemente perturbados para serem considerados doentes. Alguns são mais suportáveis do que outros, e as pessoas seguem “levando”, considerando, talvez, que isso seja o normal... Por isso, alguém poderia argumentar: mas assim é o ser humano, este ser que tem dificuldades de conviver por causa de sua complexidade, da dificuldade de aceitar a diversidade, de se comunicar etc. Isto ocorre nas amizades, nos casamentos, com parentes, vizinhos etc. Então, o que há de estranho nisso?
Realmente, não há nada de estranho e este é justamente um dos problemas, pois se fosse diferente, talvez chamasse a atenção. Como não é, parece não merecer cuidados, mas vou aprofundar esta análise.
Muitas organizações pregam o discurso da excelência, do autodesenvolvimento contínuo, isto é, que seus colaboradores e líderes não meçam esforços para alcançar os melhores resultados. Aliás, este é um valor que se busca desenvolver por uma questão de sobrevivência no mercado. Então, como não priorizar e dar a devida atenção ao tema relacionamentos, já que ele permeia continuamente tantas tarefas? Afinal, pouco trabalho é produzido a partir de uma única pessoa. A maior parte é resultado de esforços conjuntos, da interdependência. Quando as empresas não trabalhavam com sistemas integrados isto era menos perceptível. Cada um fazia o seu serviço e, ao final do dia, sentia ter cumprido a sua missão. Estes sistemas trouxeram à tona esta realidade, de que a interdependência é, como sempre foi, a ordem básica da organização.
Dessa forma, para atingir resultados brilhantes, a empresa precisa, entre outras coisas, de fluidez, comprometimento e agilidade na prestação de serviços entre seus clientes internos. Então, pode-se deduzir que é necessário que estas pessoas tenham boa vontade nas ações individuais entre si. Mas como terão boa vontade, se têm relacionamentos insatisfatórios? Acredito e tenho visto continuamente que a motivação para a colaboração, nestes casos, é bastante baixa. Especialmente quando isto ocorre entre pares ou entre áreas, poucos sabem lidar e resolver. Além disso, muitos líderes não prestam a devida atenção e tomam algum tipo de providência para ajudar a resolver estas dificuldades, o que as torna crônicas e aparentemente insolúveis. Vale esclarecer que relacionamentos que evoluem para o assédio moral não se tornam assim repentinamente. Começam um dia com pequenos conflitos, relações insatisfatórias e hostis que evoluem para o pior.
E mais, vejo outro agravante. Por que se conformar com relacionamentos de baixa qualidade, quando, pela intensidade e número de horas de convivência diária, muitas vezes estes poderiam ser qualificados até como íntimos? Muitas pessoas convivem com outro profissional da organização mais tempo do que com seus próprios familiares.
Então, o que fazer com esta maioria de relacionamentos mornos, com conflitos discretos ou mais expressivos, que provocam atrasos nos prazos, lentidão nos processos, retrabalhos, desperdícios, tornando os profissionais incapazes de levar a empresa ao brilhantismo?
A resposta é simples: falta ensinar os profissionais a resolver conflitos e outras dificuldades e assim, se relacionarem satisfatoriamente. Reforço minha visão de que os conflitos são normais e não representam “o problema”, exceto quando atingem nível importante de gravidade. Considero que o fator mais complicador é não ter competência para solucioná-los, algo perfeitamente possível de ser reparado. Apesar de ter afirmado que isto seja simples, entendo que, para a maioria, esta questão se mostre como complicada ou difícil. Mas, creio também que a maioria que pensa assim, jamais fez algum treinamento ou curso específico para adquirir esta competência. Além disso, se pensarmos bem, cada vez mais o ser humano vivencia situações complexas e as supera. Por que não poderia vencer mais este desafio tão importante, pela melhora na qualidade de vida e resultados que isto pode trazer?
Naturalmente, pode ser mais estratégico melhorar a competência de relacionamento interpessoal primeiramente dos líderes. Isto já seria um passo gigantesco, olhando o cenário geral e lembrando que uma pesquisa recente da Hay Group mostrou que o relacionamento com o líder pode influenciar em 70% no clima da organização e em 28% nos resultados da empresa. Isto justifica o lançamento anual de tantos títulos novos sobre liderança, focados no comportamento do líder.
Mas, e as equipes, quando funcionarão de verdade? Quando serão sinérgicas? Talvez as empresas não possam esperar tanto tempo. Seus profissionais precisam compreender realmente o que é esta interdependência, para aprender a fazer bons acordos de convivência; a olhar para o outro de forma menos distorcida, com menos julgamentos, rótulos, expectativas e exigências; a se comunicar melhor e resolver conflitos, de preferência inicialmente, quando a carga emocional costuma ser mais leve. Precisam aprender a conviver, com menos jogos e mais sinceridade, com regras básicas que os ajude a focar e admirar os pontos fortes uns dos outros, entendendo que a regra de colher o que se planta é inexorável. Tudo isso se pode aprender.
Relacionar-se de forma saudável é uma arte, mas nem por isso precisa ser vista como um bicho-de-sete-cabeças. É preciso que os líderes da organização reflitam sobre isso. Eles, assim como cada colaborador, por conta própria, podem direcionar mais esforços nesta direção. A complexidade é real e assim é o ser humano, mas aceitar e conviver com isso é mostrar-se “pé-no-chão”. A realidade mostra os sinais e cabe a cada um abrir seus olhos, acreditar no seu potencial de mudança, decidir e agir.

Artigo da Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra, escritora, consultora em RH, especialista em Coaching Empresarial e Relações Organizacionais.
site: www.realizeosonho.com.br
Autor: Elizabeth Zamerul


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