Manoel 'batanga'



Manoel José Mendes ...  Por esse nome pouca gente há de lembrar, mas se eu disser que estou falando do "Batanga", logo todos saberão de quem se trata ... é do pai da Luiza ... Avô do Jorge "Gonga" ... Êle era funcionário do Departamento de Limpeza Urbana no tempo em que, para a limpeza das ruas, eram usadas carroças puxadas por uma parelha de burros e os burros eram conduzidos quase sempre por um funcionário "movido a álcool" , como era o caso do Manoel "Batanga" , típico representante desse enorme grupo social – o dos bebedores populares de Paquetá ...

Até hoje eu ainda não consegui saber com certeza a origem do epíteto "Batanga" ... Talvez tenha alguma raiz africana, à semelhança do "Gonga" do seu neto ... Mas o que importa aqui não é a origem do seu nome e sim, as estórias pitorescas que sempre resultavam dos seus homéricos "pifões", regularmente intercalados por um constante estado de semi-embriaguez ...

O "Manoel Batanga" cuidava do jardim da casa do Dr. Paiva e da dona Anália e, durante a tarde inteira - tempo que gastava para aguar dois ou três canteiros de meio metro cada um, na esquina das ruas Comendador Lage e Pinheiro Freire – ficava resmungando um sonoro "ANAUÊ", antiga saudação integralista que certamente lhe impressionara ...

Há quem se lembre também do "Batanga" cutucando os burros da carroça de lixo com o cabo do chicote e conversando compenetradamente com êles, perguntando e respondendo à perguntas que só êle ouvia ...

Mas a estória mais lembrada do "Batanga" é a das suas "conversas" com o busto do Pintor Pedro Bruno, na praça principal da nossa Ilha ...

Diàriamente êle passava pela Ponte das Barcas e, alcoolizado como sempre, parava diante da estátua, tirava o chapéu, e conversava com Pedro Bruno:

- "Boa tarde, seu Pedro Bruno... Como vai a sua pessoa?... O senhor deseja alguma coisa ? Pode deixar que nós estamos cuidando de tudo bem direitinho: varrendo as ruas e cuidando das flores ...".

Colocava novamente o seu chapéu na cabeça e seguia cambaleando, sem saber por onde ia, pelo que, já acostumados a verem essa cena pitoresca quase todos os dias, alguns meninos resolveram dar "um susto" no"Batanga" e, certa tarde, quando viram que o "Batanga" já estava chegando para conversar com a estátua, ficaram todos sentados num dos bancos da pracinha, enquanto um deles escondeu-se por detrás da estátua e logo que o "Batanga" disse "Boa tarde, seu Pedro Bruno", êle respondeu com uma voz bem cavernosa:

-  "BOA TARDE MANOEL BATANGA ! ... VOCÊ ANDOU BEBENDO DE NOVO ?"...

E o "Manoel Batanga" deu um pulo p'ra trás, arregalou os olhos, olhou fixo p'ro busto de Pedro Bruno e, antes de sair resmungando coisas que ninguém entendeu, disse bem alto: "CRUZ" ! ...

E dizem que depois desse dia êle passou uma longa temporada sem beber ... 


Autor: Marcelo Cardoso


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