E se eu estiver errado?



O ser humano é e será eternamente ignorante. A quantidade de coisas que não sabemos e não entendemos é interminável e infinitamente superior às que sabemos e conhecemos. Isso é um fato. Pois foi justamente a tomada de consciência dessa característica humana que me levou, há anos, a deixar de ser um militante socialista e seguir o rumo que me trouxe à atualidade.

Em geral, esquerdistas têm uma compreensão de mundo de que só eles desejam o bem e o melhor para todos e seu caminho é o único que pode conduzir a isso. As ideologias de direita não visariam a um mundo melhor, ao bem comum ou a qualquer coisa boa. Há os bons, bem intencionados e preocupados com os outros (esquerda) e há os maus, insensíveis e que só pensam em si mesmos.

Durante algum tempo, compartilhei de tal visão. Os escritos socialistas eram incontestáveis. Tinha convicção disso e esse era meu principal erro. Até então, nunca tinha cogitado a possibilidade de estar errado. Até então, se Saddam era um ditador facínora, mas enfrentava os Estados Unidos, merecia crédito de certa forma. Cuba atentar contra os direitos humanos e contra as liberdades individuais era um preço baixo a ser pago em nome de um bem maior, que era a resistência ao capitalismo.

Pois, tão logo me fiz a pergunta derradeira (“e se eu estiver errado?”), dei-me conta de que concessões de princípios só são feitas em nome da convicção cega. E percebi que concessões desse tipo eram feitas o tempo todo, em nome dos nobres ideais esquerdistas. E se eu estivesse errado? Não poderia saber. Somos eternamente ignorantes. O mundo inteiro tinha convicção em cima do absolutismo, do feudalismo e alguns países não tinham dúvidas de que o nazi-fascismo era o que de melhor a sociedade havia produzido. O Universo girou em torno da Terra, por anos, em nossa ignorância.

Se eu estivesse errado, teria apoiado milhões de homicídios na União Soviética em nome de uma convicção equivocada; teria achado tolerável que curdos fossem atacados com armas químicas e biológicas por um louco que enfrentava o mesmo inimigo que eu; teria apoiado terroristas que ceifam vidas inocentes, como anarquistas imbecis que diziam que “ninguém é inocente”. Enfim, reconhecer nossa ignorância é o maior risco à convicção cega.

Durante as cruzadas, nenhum papa cogitou a possibilidade de estar cometendo um ato criminoso perante Deus ao exterminar milhares de muçulmanos. Eles eram contra Deus. Bin Laden nunca imaginou que pudesse estar errado ao matar cristãos (ou mesmo ateus, agnósticos e outros) a esmo. Eles eram infiéis. Jovens que apóiam o extermínio dos burgueses (como se soubessem definir isso) nunca tentaram ver se essa classe não faz um imenso bem para o crescimento de qualquer país. E se eles estiverem errados?

Hoje, rejeito os ideais ditos de esquerda (no Brasil) e abomino os delírios socialistas. Mas, e se eu estiver errado? Se estiver errado, tenho consciência de que defendo o direito de que divulguem suas idéias criminosas até o limite da democracia. Não podemos rejeitar a possibilidade de estarmos errados nunca. Nem de os outros estarem certos.
Autor: Felipe Simões Pires


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