EDUCAÇÃO APÓS NOVA YORK



No dia 11 de setembro de 2001, estava em minha casa e comemorava naquele dia o aniversário de minha mãe. Por acaso, abri a televisão e vi o segundo avião derrubando as torres gêmeas. Até achei que fosse reprodução de cena de um filme. Passados tantos
anos, não consigo tirar da minha cabeça o desespero das pessoas em chamas, sendo jogadas e se jogando no alto dos prédios. Não quero ser reducionista ou simplista com relação ao que representa o terrorismo na contemporaneidade, mas aponto a educação como uma das causas da tragédia americana.

O terrorismo não é de hoje. Já em 1836 se falava em terrorismo na Europa enquanto emprego sistemático da violência para fins políticos, especialmente, a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo era a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder. O terrorismo também pode ser entendido como atitude de intolerância e de intimidação adotada pelos defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos literário e artístico, em relação àqueles que não participam de suas convicções. É sobre essa faceta cultural do terrorismo que desejo fazer uma reflexão mais demorada.

Quero, aqui, analisar os motivos que aproximam o terrorismo político e o terrorismo pedagógico, sustentando a tese de que, assim, como o fenômeno Auschwitz, onde pelo menos 2,5 milhões de pessoas foram duramente massacradas, e que levou a Alemanha a rever seu sistema educacional no pós-Guerra, o fenômeno NY deveria levar, também, as autoridades norte-americanas a repensarem sua educação política após a destruição do World Trade Center e parte do Pentágono.

A tragédia, no centro do mundo, merece um demorado olhar dos educadores e de todos que operam com a alma coletiva. Todos devem ter uma compreensão do fenômeno do terrorismo político e de suas manifestações desagregadoras como resultantes de um longo processo de formação de atitudes no meio escolar.

No caso dos Estados Unidos, o terrorismo está há muito presente no cotidiano norte-americano. Vez por outra, vemos, na mídia, o que tem acontecido com as high schools (escolas de ensino médio). As high schools americanas são as principais responsáveis pelo ambiente feroz na escola e pelo clima tenso e beligerante sobre as minorias dentro e fora dos Estados Unidos. São esses modelos de instituições de ensino que forçam seus alunos a se agruparem de acordo com o prestígio e seus talentos. Quem não segue as regras e os ritmos dessas ''escolas nobres'' são considerados perdedores.

Quando os jornais do mundo inteiro estampam em suas manchetes que Bush promete vingança e que os Estados Unidos vão entrar numa monumental luta do bem contra o mal, esse clima de resposta automática não é obra de ocasião, mas vem do aprendizado da beligerância adquirido no meio escolar.

Não há como separar terrorismo político do terrorismo pedagógico, presente nas instituições de ensino, de modo a exigir, de todos nós, uma discussão e uma reflexão a fundo sobre o papel social da escola na formação de valores de crianças e adolescentes, que vai muito além da preocupação de professores, alunos e pais com os altos escores alcançados nos vestibulares. Ainda que a primazia nas provas seja a cobrança do aprendizado dos conhecimentos formais, a tolerância recíproca, o respeito às diferenças, enfim, o desenvolvimento humano deve ser o principal objetivo da educação pós-moderna.

O primeiro sinal do terrorismo pedagógico, que nasce na escola e que pode chegar ao centro do mundo, através do terrorismo político, está na prática dos docentes. A realidade no meio escolar indica que muitos professores são mais instrutores e menos educadores e o mais grave: muitos são maus professores, capazes de cometer muitas atrocidades contra seus próprios alunos. Em Auschwitz, nos relata Adorno, em seu Dialética do Esclarecimento, muitos professores judeus, vítimas do genocídio, reconheciam durante execuções, seus ex-alunos entre os soldados mais ferozes.

O terrorismo psicológico, envolvendo agora toda a civilização moderna, não é diferente do terrorismo político. O terrorismo psicológico, bem exemplificado na ameaça de vingança de Bush, é sinal de intransigência de atitudes de quem patrocina a barbárie ou de quem a sofre na pele.

Quando as pessoas, sejam políticos ou professores, embargam a voz, algumas vezes pode não significar emoção, mas repressão que logo se lançará, como flecha, num alvo certo: os seres humanos. Todos os dias, nas escolas do mundo inteiro, são destruídos Worlds Trades Centers e Pentágonos no coração e na alma das crianças, adolescentes e adultos.


Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral.
Autor: Vicente Martins


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