ABERTURA DO SISTEMA FINANCEIRO
Os bancos privados, a exemplo das demais empresas comerciais ou prestadoras de serviços, são voltados para o lucro, mas não deixam de ter um compromisso social. Quanto ao sistema bancário, esse compromisso se acresce, por tratar-se de uma espécie de concessão do Estado. Seu papel não se limita à simples intermediação financeira. Cabe-lhe prover os meios para o fortalecimento do setor produtivo, gerar bens e serviços, aumentar a riqueza do País, contribuindo para ampliar a oferta de empregos diretos.
Ao longo da história, observamos que o sistema financeiro privado jamais cumpriu plenamente esse papel. A reforma do sistema a partir da década de 60, com o advento do instituto da correção monetária – Roberto Campos – contribuíram para o seu excepcional desenvolvimento. A oferta de crédito realmente se ampliou, no rastro da conjuntura internacional favorável, marcada pela solidez do mercado e por taxas extremamente atrativas.
Tudo isso favoreceu a consolidação do sistema bancário brasileiro, que só a partir da implantação do Plano Real, em julho de 1994, experimenta nova fase de sobressaltos, inclusive com um doloroso processo de fusões e de reestruturação que levaram algumas instituições – até mesmo tradicionais – à falência. Esse período de dificuldades para o –sistema financeiro – não para os – banqueiros- foi precedido da fase de euforia do chamado –milagre econômico -, no início da década de 70, quando as taxas de juros ainda eram atrativas.Mesmo nesse período,os bancos brasileiros não colocaram o financiamento da produção entre suas prioridades.E quando ocorria, grande parte do capital tinha origem no exterior, o que contribuiu para ampliar nosso endividamento externo.
Além de não darem preferência às atividades econômicas de maior relevância para o crescimento nacional, os bancos privados passaram a privilegiar somente as grandes empresas. Ampliaram suas redes de agências no interior do País, mas priorizavam com créditos as regiões mais desenvolvidas – sul e sudeste – O interior só servia como fonte de captação de recursos. Os bancos passaram também, a diversificar suas atuações financeiras nas mais diferentes áreas da economia, com recursos da poupança e depósitos à vista, criando conglomerados não financeiros. Essas mudanças não trouxeram, sem dúvida, maior eficiência e segurança ao sistema financeiro, pois, para fugir das possíveis incertezas do mercado, os bancos priorizam, valendo-se de juros reais negativos, seus próprios conglomerados, em detrimento das demais empresas necessitadas de recursos para alavancar seus negócios e o desenvolvimento do País.
O início dos anos 80 devolveu a euforia, permitiu a expansão do sistema financeiro para todos os quadrantes do País e trazendo consigo a explosão inflacionária que estimulou a – ciranda financeira -. Enquanto congelavam salários de trabalhadores, com a concentração de renda e a especulação dos preços, a inflação enriquecia inúmeros grupos econômicos da noite para o dia.. A primeira experiência de estabilização da economia veio com o Plano Cruzado, em 1986, que obrigou o sistema bancário a fazer ajustes. Todavia, o caminho escolhido foi o de corte de gastos, desativação de agências e dispensa de pessoal, resultando na redução de 100 mil vagas no setor. O naufrágio do cruzado trouxe de volta, mais uma vez, a inflação e a – ciranda financeira -.
Quando o capital não se alia ao trabalho e ao empreendimento para produzir riqueza e renda, temos apenas à perversa transferência de dinheiro de uma para outra mão. Prova disso é que em 1980, para cada cruzeiro aplicado em títulos públicos, havia cerca de 10 cruzeiros destinados ao crédito. Doze anos depois, com a volta da especulação financeira, de cada cruzeiro aplicado em título do Governo, os bancos aplicavam apenas um cruzeiro e cinqüenta centavos, em empresas privilegiadas e o resultado foi que a participação do setor financeiro no Produto Interno Bruto atingiu, em 1993, o inacreditável índice de 15,6por cento, contra 11,4 por cento do setor agropecuário. É lamentável dizer, mas os bancos continuam com a mesma filosofia. Basta analisar os resultados positivos do último si mestre, que registram lucros de três grandes bancos superiores a 10 bilhões de reais.
Com o advento do Plano Real, com a queda da inflação, era previsto uma mudança na filosofia norteadora do setor financeiro. E o golpe só não foi mortal porque os banqueiros participavam dos principais conglomerados não financeiros e consolidados com bilhões de reais de poupadores. Enquanto ajudam os bancos a auferirem expressivos lucros e ampliarem seus negócios particulares, as taxas de juros elevadas e as fabulosas receitas de serviços ameaçam comprometer o setor produtivo, o que, expressivamente, contribui, no que concerne às dificuldades enfrentadas pelo País. Por isso, insisto que o sistema financeiro tem que ser mais parceiro da produção e do desenvolvimento, do que algoz do setor produtivo.
Com a abertura do setor financeiro às instituições de crédito internacionais, os bancos privados passam a ter uma preocupação mais na sua missão de parceiros do crescimento sócio-econômico do País. Terão que adotar nova postura, efetivamente direcionada aos seguimentos produtivos nacionais mais promissores, visando, inclusive,fortalecer sua posição diante da concorrência feroz que terão pela frente, o que, por certo, implicará benefícios para tais setores de produção e, consequentemente, para a economia do País. Pratiquem senhores banqueiros, a verdadeira filosofia do Capital e Trabalho..
Autor: João da Rocha Ribeiro Dias
Artigos Relacionados
Fundo Soberano
Como SÃo FÁceis Os BÔnus E DifÍceis Os Ônus
Os Custos Da Dívida Pública Fragilizam O Estado Brasileiro
Tudo A Favor Da ProduÇÃo E Nada A Favor Da EspeculaÇÃo
Os Bancos E As Concessões De Créditos Para Empresas Sustentáveis
Finalmente, Os Culpados Pela Crise Aparecem E SÃo Indultados
O Povo Brasileiro Sempre Perdendo Com Crise Ou Sem Crise