Experiência e Premonição



O que levou-me a escrever sobre o tema foi uma discussão que tive com um colega, mas o resultado foi inócuo e como civilizados que somos a conversa acabou numa saborosa pizza. O assunto surgiu quando ele argumentou que uma pessoa experiente sempre leva vantagem, ao que contrapus de pronto:
- Depende!
- Depende de quê? Ele argüiu.
- Respondi: depende do contexto do ambiente, me faça um favor, defina o que é experiência.
- Ele disparou: “é uma forma de conhecimento abrangente, não organizado, ou de sabedoria adquirida de maneira espontânea durante a vida; prática, sistemática...”.
- Leu o dicionário pela manhã? Tomou o breakfart” com o Autélio hoje cedo? Quem me conhece sabe o quanto valorizo este instrumento, a ponto de não considerá-lo “o pai dos burros” e sim “a mãe dos esclarecidos”, mas há que se interpretar sem generalizações! Comecei a argumentar com um clichê muito conhecido sobre o termo: “experiência é como dirigir um carro guindo-se somente pelos retrovisores”, sabemos tudo pelo que passamos e nada sobre a próxima curva. (estava exagerando!)
- Ele riu e falou: Isto é muito simplório para a magnitude que encerra o conceito!
- Pode rir, falei, mas não antes de eu argumentar! E comecei:
A experiência se dá pela agregação de padrões do que é estabelecido como “correto”, “bom”, pois se temos sucesso adotamos aquele padrão, se erramos, não adotamos nenhum modelo, simplesmente fazemos de novo até acertar ou desistimos; a isto, Nonaka e Takeuchi (1995) denominaram aprendizado tácito, isto é, o conhecimento do corpo que se dá na forma prática, analógica, subjetiva, contribuindo na formação dos modelos mentais do indivíduo. Os modelos mentais são a nossa base para a ação. Os seres vivos são comodistas, imediatistas, preferem um mundo estável, constante, linear, previsível, maino; em contra-partida detestamos imprevistos, riscos, instabilidade, pois geram desconforto e isso não faz parte da natureza humana.
O mundo em que vivemos é um mundo de mudança conferidas por saltos quânticos, não linear. Nossas experiências tornam-se efêmeras e a demanda por conhecimento, premente. Isto está bem evidenciado no livro A Terceira Onda de Alvin Toffler.
- Mas o que tem haver isso com experiência? Meu colega argüiu.
- Eu explico: esse comodismo se dá em nível corpóreo, somos movidos pela lei do menor esforço e com mente não é diferente; existem vários exercícios que comprovam isso, (por exemplo o do teste das cores: um painel com vários retângulos coloridos porém com nomes diferentes da cor que o representa, por ex. um quadrado verde com a palavra “azul” escrita e que temos que dizer a cor que está escrita sem tempo para pensar. Tente fazer e verão que a tendência é dizer a cor do quadrado, não a palavra que a representa.
- Onde você que chegar? Meu colega perguntou.
- Tenha calma, já chego lá! O cérebro arquiva nossas experiências e quando percebe a eminência de uma ação que vamos realizar, compara com os padrões arquivados (estabelecido) - a experiência que temos sobre algo que precisamos empreender, tolhendo dessa forma, nossa capacidade criar coisas novas, de improvisar, de inovar. Vamos imaginar um ambiente instável, sujeito à ameaças, desconhecido! Como nossa experiência contribuiria? Pergunto e respondo: nossa mente não encontraria padrões estabelecidos para medidas satisfatórias nesse ambiente e aí agiria com posturas defensivas, na auto defesa (sobrevivência), manutenção do status quo (estabilidade), porém num ambiente de mudanças, estratégias reativas ou de adaptação não garantem ganhos, avanços e, se o que buscamos é a competitividade, precisaremos mais que a manutenção, necessitamos medidas arrojadas, impulsivas, corajosas, inovadoras. A melhor definição de insanidade que conheço é: “querer chegar à novos lugares trilhando caminhos já conhecidos. A experiência faz parte do componente “habilidade” que juntamente com os outros dois - a atitude e o conhecimento, estruturam nossas competências (vide artigo “Competências Organizacionais” do autor). Ideal seria o desenvolvimento da premonição (enxergar o futuro), o contraponto da experiência (enxergar o passado), contudo no estágio do desenvolvimento humano que estamos, esta capacidade não se encontra desenvolvida, disponível, não faz parte do portfólio de aptidões.
- Meu colega assentiu em parte, dizendo: meu avô é um homem muito experiente, vivido, inteligente mas vive me pedindo para programar o aparelho de DVD, seu celular, etc! Acho que toda experiência que ele acumulou foi válida até os anos 90 (risos). Não sei ele concodara ou estava tripudiando!
E fomos degustar a pizza. Por sinal, estava ótima.
XMMVI
Autor: Wagner Herrera


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