O Gato Malhado de Jorge Amado



Em 1948 Jorge Amado escreveu para seu filho, como presente de aniversário de 1 ano, o livro “O gato malhado e a andorinha Sinhá”. O texto ficou sem ser publicado por anos e só em 1976 conseguiu provavelmente como um presente de Jorge Amado a todas as pessoas que acreditam que exista algo mais em um ser do que aparência, cor ou credo.

O diretor Vladimir Capella, participando do projeto literatura no teatro, patrocinado pelo Centro Cultural Grupo Silvio Santos, uma entidade social e sem fins lucrativos, conseguiu adaptar essa obra literária para o teatro de uma maneira que sem dúvida nenhuma deve estar fazendo Jorge Amado sorrir, aonde quer que ele esteja.

As duas primeiras palavras que me vêm em mente quando eu penso no espetáculo são leveza e delicadeza. A trilha sonora, o maravilhoso figurino, belíssimos cenários e iluminação deixam a platéia especialmente as crianças hipnotizadas, pois não só oferecem uma viagem visual pelas estações do ano, como se utilizam dos efeitos da luz para auxiliar na descrição do estado de espírito personagens. Isso é só uma parte da proposta dessa montagem tão especial do delicioso romance que vem comovendo milhares de pessoas de geração a geração.

Os espectadores podem se preparar para encontrar um mundo encantado, que é constituído de ótimos atores e diálogos bem humorados. A atriz Gabriela Cerqueira empresta sua graça e leveza à andorinha Sinhá, que se apaixona pelo não tão carismático personagem interpretado pelo ator Daniel Morozetti, o gato malhado. Os dois decidem viver um relação proibida, que vai causar rebuliço entre todos os outros personagens da história que não conseguem aceitar o amor entre esses dois, de espécies tão diferentes. A andorinha, que é absorvida pela sua condição de fazer parte a um grupo; e o gato malhado, um ser livre, pronto para se entregar a essa paixão conturbada que vai definitivamente mudar a vida de ambos.

Provavelmente você vai associar algumas partes desse drama com o clássico shakespeariano Romeu e Julieta, e os espectadores mais ousados ainda vão poder adicionar uma pitadinha de a Bela e a Fera. As crianças, especialmente as mais novas, irão adorar os momentos em que todos os animais estão no palco, com destaque para o divertido sapo cururu com seus comentários literários, e os adultos vão se divertir com a ambigüidade de várias falas.

Não é a toa que “O gato malhado e a andorinha Sinhá” já ganhou 2 Prêmios APCA (Melhor Espetáculo Infantil e Melhor Direção para Vladimir Capela em 2003) e 4 Prêmios Coca-Cola Femsa (Melhor Espetáculo Infantil, Melhor Produção para Cintia Abravanel, Melhor Direção para Vladimir Capela e Melhor Figurino para J. C. Serroni em 2003), valendo muito a pena conferir. A peça é uma ótima sugestão para pais, mães e responsáveis que querem preparar seus filhos para um amanhã diferente, um amanhã a onde as pessoas não serão julgadas pela cor de sua pele, pela sua religião ou pela sua condição social. Um amanhã onde o respeito pelas diferenças entre indivíduos tome o lugar da hipocrisia, preconceito e intolerância.

A peça é recomendada para crianças maiores de 7 anos e está em cartaz até o dia 26/11/2006 no Teatro Imprensa, localizado na Rua Jaceguai, nº 400 - Bela Vista, aos sábados e domingos as 16:00 horas.
Autor: Adriana Zimbarg


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