A Igreja De São Roque



Acapela original foi construída em 1698 por Manuel Ferreira Camelo sob a condição de que ela fosse dedicada a São Roque, o santo da sua devoção pessoal , no que foi atendido pelo padre Manoel Antunes Espinha, que a inaugurou solenemente em 24 de novembro de 1698. Edificada nas terras da grande fazenda que ocupava toda a metade setentrional de Paquetá e em atenção ao que condicionara o seu construtor , ela foi então consagrada ao santo da sua devoção e passou assim a ser chamada de "A Capela de São Roque". 

Mas foi só em 1728 que , por concessão do Bispo D. Antônio de Guadalupe, ela obteve o privilégio de poder possuir uma pia batismal e também de poder guardar os santos óleos da Extrema Unção pois, até então, nenhum batizado podia ser realizado em Paquetá e nem os moribundos podiam receber os sacramentos da Extrema Unção.

Foi em fevereiro de 1761 que ela ganhou o privilégio de Capela Curada, podendo então guardar no sacrário o Santíssimo Sacramento e também contar com o seu primeiro Cura designado, o Padre Antônio Ramos de Macedo.Até então ela ainda era uma capela particular e pertencia aos donos da Fazenda onde fora construída e só em 17 de agosto de 1912 é que ela foi doada para o Arcebispado do Rio de Janeiro.

A capela original tinha três entradas:  uma escada exterior que dava acesso ao Coro; uma porta lateral junto à sacristia e uma porta na frente, que dava acesso ao pequeno espaço que existia embaixo do Coro.No meio da escada de acesso ao Coro havia um patamar com uma porta que se abria para uma tribuna, reservada exclusivamente para os donos da fazenda e os seus familiares.A porta lateral junto à Sacristia dava acesso à parte anterior da igreja, que era a maior delas e que ,  por um muro baixo sobre o qual se erguia uma pequena grade de ferro , ficava separada da parte posterior que ficava sob o Coro.A parte anterior era reservada exclusivamente para os brancos (pessoas livres) e, por isso, era assoalhada e guarnecida com bancos e genuflexórios. A outra sessão, isolada pelas grades e situada embaixo do Coro, era ladrilhada com tijolos e destituída de bancos, sendo destinada aos negros escravos, que entravam na capela pela porta da frente.

A capela de São Roque já passou por várias reformas. A primeira delas , quando em 1848 faleceu o Capitão de Navio Joaquim José Pinto Cerqueira, proprietário da Fazenda de São Roque e, na partilha dos seus bens, a Capela coube ao seu filho, o Comendador Pedro José Pinto Cerqueira que, ao ver as condições precárias do pequenino templo, mandou reformá-lo, demolindo o seu muro divisório e assoalhando toda a nave, com o que suprimiu, cristãmente, toda distinção entre brancos e negros ; livres e escravos ...

A segunda reforma foi em 1861, quando foram acrescidos à nave principal dois nichos laterais onde foram colocadas as imagens de N. S. das Dores e a de São Sebastião, em cumprimento de promessas pela cura de enfermidades. A imagem de N. S. das Dores foi feita em Portugal, a mando do Comendador Pedro José Pinto Cerqueira, em agradecimento pela cura da sua filha única, Adelaide Adelina Pinto Cerqueira e consta que a cabeleira dessa imagem era feita com os próprios cabelos da filha do Comendador ...

A terceira reforma foi iniciada pelo Padre Juvenal David Madeira em 1905 e concluída por Miguel Bruno (irmão do Pintor Pedro Bruno) em 1910. Acima do altar de São Roque foi colocada uma tela de Pedro Bruno representando o orago da capelinha. Em concepção de muita felicidade, o artista escolheu para fundo da sua tela, uma paisagem paquetaense:  São Roque e o seu cão representados ao lado do Poço , que também leva o nome desse santo. Ao redor desse Poço desenvolveu-se a LENDA de que quem bebesse da sua água certamente apaixonar-se-ia por alguém de Paquetá e, assim, eternamente enamorado, ficaria para sempre vinculado à nossa Ilha ...Também é importante assinalar que em 1893 a Capela de São Roque funcionou como Necrotério, durante a Revolta da Armada que irrompeu na Baía do Rio de Janeiro sob o comando de Custódio José de Melo e contra o governo de Floriano Peixoto, ao tempo em que, na Chácara dos Coqueiros (na Praia Pintor Castagneto) funcionou um Hospital de sangue improvisado. Os cadáveres ficavam empilados no chão da capela e à noite uma carroça os transportava para o cemitério local, onde eram enterrados em vala comum.Contudo, quando havia sobrecarga de corpos, coveiros improvisados faziam os sepultamentos ali mesmo, na vizinhança da capela, onde também, em tempos mais remotos, já haviam sido enterrados os escravos da fazenda, como era costume de então.

A reforma iniciada pelo padre Juvenal em 1905 teve como principal objetivo recuperar o que fora danificado pela Revolta da Armada, principalmente o assoalho, muito afetado pelas secreçõescadavéricas e pelo sangue, o que originou uma série de nódoas onde ninguém queria pisar, medindo os passos e se esgueirando pelos cantos da capela.

Finalmente, vale assinalar que em 1973 foi pintada por um seminarista da Ordem dos Mercedários, que se assina apenas como FRANCHICO, uma "Santa Ceia" que foi colocada na Capela de São Roque quando era Vigário de Paquetá, o Padre Gregório Gabíola Lenis.


Autor: Marcelo Cardoso


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