Repensar o sonho do biocombustível - a natureza agradece!



Autores: Marçal Rogério Rizzo* e Robson Antonio de Souza Silva**

O petróleo é uma fonte de energia não renovável e muito poluente. Quanto menor for sua oferta, maior será o seu preço e, neste ano, já bateu a casa dos US$ 75 o barril. Em relação ao meio ambiente, já tivemos vários desastres ambientais causados pelo derramamento de petróleo, além de sua queima contribuir para o efeito estufa e o aquecimento global.

Hoje, a humanidade caminha em busca de uma alternativa de combustível renovável e menos poluente, para reduzir o efeito estufa. Também, já há projeções de término das reservas mundiais de petróleo.

A pesquisadora Cristina Façanha elaborou um texto intitulado “Biocombustível: questão energética, social e ambiental” publicado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais em que afirma: “O Brasil tem capacidade para liderar o maior mercado de energia renovável do mundo. Isso, porque no país existe matéria-prima renovável em abundância para fabricar o biocombustível de origem vegetal, como cana-de-açúcar, óleos vegetais de madeira [...]”.

Os combustíveis renováveis, hoje, é uma realidade e pode significar muito nos âmbitos econômico e social. Façanha diz que o “uso do petróleo como fonte energética representa uma das maiores causas da poluição do ar e sua queima contribui para o efeito estufa. A energia renovável é uma alternativa para reduzir o efeito estufa”.

Entretanto, podemos afirmar que, para o meio ambiente, isso poderá se tornar um pesadelo. Vejamos o porquê dessa afirmação.

Os países desenvolvidos dependem, cada vez mais, do petróleo para continuar se locomovendo e o aumento de demanda pelo mesmo poderá pôr em risco as suas reservas.

O artigo de Hirsch Tim, publicado na revista Com Ciência Ambiental do mês de setembro de 2006, traz informações interessantes: “O aumento da demanda por biocombustíveis nos países desenvolvidos pode pôr em risco a conservação das florestas e a manutenção de áreas férteis para a produção de alimentos em todo o mundo”.

Ainda o mesmo artigo cita que a pressa dos países desenvolvidos para consumir combustíveis renováveis pode pôr em risco a conservação do meio ambiente. “A ironia é que estamos promovendo os biocombustíveis na Europa para que tenhamos ‘supostos’ benefícios climáticos, mas, no fim, é possível que causemos maior emissão de gás carbônico na atmosfera, ao cortar e queimar as florestas em outras partes do mundo”.

Essa problemática começa a preocupar os grupos ambientalistas e os tomadores de decisão na União Européia, pois a necessidade de consumo dos biocombustíveis já existe, no entanto, não pode ocorrer um aumento considerável da demanda que incentive a derrubada das florestas, especialmente das savanas, do cerrado e, claro, a Floresta Amazônica para o plantio de cana ou e outras culturas que produzam biocombustíveis.

O sonho da energia verde não pode ser transformado em pesadelo para a biodiversidade. Hirsch Tim lembra que “um estudo não publicado, desenvolvimento pela Convenção de Diversidade Biológica das Nações Unidas, resultados provisórios de uma análise de cenário sugerem que, na América Latina, a biodiversidade pode ser reduzida em 1,6% com a expansão dos biocombustíveis – principalmente nas regiões de campos naturais e savanas – mesmo considerando os benefícios à vida selvagem com um ritmo mais lento na mudança do clima”.

Lembramos que a queima da cana-de-açúcar antes da colheita ainda ocorre e, também, é um fator que degrada a natureza. Não há vida que resista a tantas queimadas! Se continuarmos nesse ritmo em breve viveremos no meio de um mar de cana-de-açúcar e, na melhor das hipóteses intercalado com culturas para a produção de biodiesel. O Brasil já pagou caro socialmente pelo incentivo as monoculturas de exportação.

Será que agora além do custo social teremos que pagar caro pelo ambiental?
A humanidade deveria discutir outras soluções mais profundas para o problema do petróleo. Deveríamos estar pensando na otimização do transporte coletivo para que tivéssemos um número menor de carros nas ruas consumindo petróleo, mas isso seria alvo de uma boa política pública, ou, melhor dizendo, essa seria a parte do governo.

* Marçal Rogério Rizzo: Economista, professor universitário, especialista em Economia do Trabalho pela Unicamp, especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP de Presidente Prudente - SP).

** Robson Antonio de Souza Silva: Acadêmico do 2º. Semestre do Curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário Toledo – UniToledo.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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