Jogue a toalha sim, mas jogue-a no devido lugar



Infelizmente nosso país é um país racista e preconceituoso. Não tanto quanto os Estados Unidos, a África do Sul e mais alguns em que o racismo é assumido e talvez até mais honesto, uma vez que nós, embora racistas, em geral não admitimos sê-lo. Sou racista, apesar de odiar isto em mim e lutar sempre contra o racismo. Fui criada por uma família racista, em uma sociedade racista e apesar de ser contra esta posição, pego-me várias vezes sendo preconceituosa. Me culpo por isto e tento, de todas as formas, superar este meu erro.

Ao ler o texto "Eu jogo a toalha" de Azuete Fogaça, me empolguei com o início, pois acho que a melhor forma de acabarmos com este mal é denunciá-lo e acho transformar o racismo em piada de repente pode ser uma boa saída. Acho que fica completamente evidente no texto o quanto é ridículo o posicionamento de "nós brancos" com relação aos "negros".

Neste ponto já há uma grande controvérsia porque no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, África do Sul e outros, não podemos dizer que existem realmente "negros" e "brancos". Como aqui o racismo nunca foi tão declarado e até mesmo pela natureza do povo brasileiro, não existe esta separação de raças tão determinada. Quase todo brasileiro trás no sangue um pouquinho de português, de africano, de holandês, de índio, de italiano, de japonês e mais algumas gotas vindas dos mais diversos lados do planeta. Creio que, ao sermos brasileiros, perdemos, graças a Deus, esta “pureza de raças”. Julgo que nos tornamos melhores por sermos a mistura de tantas raças (Bendito seja Darwin! Maldito seja Hitler!).

Deixando de lado esta questão de pureza de raças, suponhamos que ao invés de sermos esta maravilhosa mistura, fossemos muito bem divididos em raças. Creio que destinar x% de vagas em qualquer lugar para uma raça e não o fazer para as outras seja um dos maiores racismos que pode existir. A menos é claro, que fossemos destinar x% de vagas aos negros, w% aos índios, y% aos brancos e z% aos mestiços, porcentagens estas, proporcionais à parcela de cada uma destas raças na sociedade, aliás, na região em questão visto que esta proporção varia muito em função da região do país. Se fosse assim, julgo que seria uma postura justa a ser adotada nas universidades.

No entanto, a atribuição de vagas a certa raça, como foi feita, é como dar analgésico para uma pessoa que tenha câncer e achar que solucionou sua doença. O "analgésico", quando bem administrado, pode ajudar o processo, mas, se mal administrado, pode até ser prejudicial ao tratamento por camuflar sintomas e/ou causar outros problemas como efeito colateral. Sem dúvida, o Brasil é um país racista e preconceituoso, mas seria a determinação de cotas raciais em universidades a solução deste problema ou uma forma de agravá-lo?

Creio que as coisas funcionam assim: definimos cotas para cada raça em comercias, em universidades, depois virão os espaços reservados em ônibus, teatros, cinemas, a seguir definimos porcentagens das cidades definidas para cada raça bem como sua localização e em pouco tempo estaremos vivendo exatamente com Hitler gostaria. (Deus nos livre de tal desgraça!)

Tenho consciência plena de que hoje a maior parte das vagas das universidades públicas, bem como a maior parte das boas vagas de emprego estão ocupadas por pessoas "brancas". Ainda esta semana, conversava com um amigo e ele comentava de uma amiga inteligentíssima que formou em engenharia, fez mestrado, tem um conhecimento vastíssimo de engenharia e só arruma emprego mais ou menos, porque as pessoas, infelizmente, ainda pensam que uma "negra" não pode ser uma engenheira competente. Eu me envergonho de nossa sociedade por tal atitude e tantas outras que se mostram diariamente, entre elas o ato preconceituoso de estipular cotas para negros em faculdades. Fica parecendo que não são capazes de conseguir entrar em uma faculdade por conta própria e que num ato de caridade a sociedade lhes concede x% das vagas. É, simplesmente, ridículo!

Creio, que devíamos lutar por ensino de base igual para todos. Isto sim! Se negros, índios, brancos e mestiços tiverem acesso ao mesmo padrão de escolas fundamentais, todos terão igual chance de entrar nas universidades. Além disto, acho que a melhor forma de uma pessoa ver outra como igual é, desde crianças, conviverem nos mesmos ambientes. Se crianças "brancas" convivem na escola fundamental com crianças "negras" aprendem, desde cedo, que não há uma série de diferenças preconceituosas e abomináveis que a sociedade nos ensina hoje.

Vivemos em um país racista e devemos fazer algo urgentemente para mudar esta realidade, mas o que fazer para conseguir esta mudança deve ser devidamente pensado para que não corramos o risco de aumentar o preconceito ao invés conseguir uma sociedade igualitária.

Catarina A. Roscoe
Autor: Catarina de Azeredo Roscoe


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