O grande Eugéne Atget



Nascido em 12 de fevereiro de 1857, na França, Eugéne Atget perdeu seus pais ainda criança e foi educado por um tio. Se tornou marinheiro, viajando por rotas americanas; posteriormente optou pela carreira de ator. Atget era um fotógrafo dedicado a documentar as artes, a arquitetura e os monumentos da cidade de Paris. Suas fotografias formam um roteiro quase pedagógico de como apurar a precisão da percepção visual. Em 1889 se dedicou à pintura e acabou desenvolvendo sua capacidade observatória. Tornou-se fotógrafo para sobreviver. Especializou-se em postais e vistas cotidianas de Paris. Em 1926 participou da Review la Revolution Surrealiste. Por trinta anos, fotografou basicamente Paris, a cidade que era seu principal tema, fazendo o que uma placa na porta de seu escritório chamava de "Documentos para Artistas". Entre 1898 e 1910, Atget trabalhou também para arquitetos, decoradores e editores. Em 1911, seu projeto de fotografar Paris e a vida moderna da cidade iniciou um processo de mudança, quando morreu, em 1927, Atget era conhecido apenas pelos amigos e por um grupo seleto de artistas de vanguarda, entre eles o fotógrafo surrealista Man Ray.

Os critérios técnicos que determinavam se uma fotografia é boa ou má há muito deixaram de ser referência para se julgar uma fotografia. Exatamente por isso, o fenômeno da recente "redescoberta" do trabalho do fotógrafo francês Eugène Atget não aconteceu por acaso: hoje, o que era considerado regra para se chegar a uma boa fotografia passou a ser feito pela imensa multidão de fotógrafos amadores com suas Olympus automáticas.

A imensa quantidade de imagens que produziu, mais de 10.000, incluindo fachadas, ruas que seriam mais tarde demolidas pelas intervenções urbanas do Barão Haussmann, espaços públicos, parques e bares, descrevem uma Paris que parece surreal, mas ao mesmo tempo bastante concreta. Sua idéia era, acima de tudo, produzir um material simples e definido que servisse para que outros fizessem arte: não havia traços de virtuosismo, de maneirismos ou de manipulações. Era objetivo, abordava seu tema de forma crua e sabia como adaptar suas fotografias à função que elas desempenhariam mais tarde, nas mãos de artistas a procura de imagens da cidade. As imagens de Atget nos dão um painel da modernidade, um cenário onde o aleatório se manifesta, e onde o olhar imóvel do fotógrafo nunca está claramente definido. Atget não procurava apreender a cidade visualmente, revelar a periferia de forma mística, embelezar a feiúra, mas talvez "deixar a feiúra em paz". Evitava monumentos, boulevards e a charmosa vida noturna deliberadamente, buscando a Paris ainda não representada, buscando um lugar onde ele mesmo poderia se sentir caminhando pela cidade real.

Talvez devido à aparente ausência de perseverança, talento e concentração, suas fotos passaram a ser valorizadas em nossa época de questionamento da utopia moderna. O fotógrafo modernista, sempre procurando o melhor ângulo, limitava sua experiência a uma procura pelo fotogênico, em converter sua percepção da cidade em um souvenir. Contrário a isso, Atget aceitou a cidade como um imenso espaço onde não caberia maiores esforços como belas composições de vielas ou detalhes de muros abandonados. Ele não acrescentava nada a seu tema: nenhuma ideologia, nenhuma polêmica, nenhuma excitação estética. Seu distanciamento do mundo dos grandes fotógrafos o separou do fotojornalismo convencional e das novas naturezas mortas da modernidade, recusando as extravagâncias técnicas de fotógrafos "comprometidos" que davam a suas fotos belos jogos de luz e sombra e sedutores ângulos inusitados.

Nas fotos de ruas desprovidas de qualquer presença humana, Atget delineava um estranhamento entre as cidades e seus habitantes, descrevendo espaços urbanos como enigmáticos e inóspitos. Ao mesmo tempo, essas fotos não trazem um conceito de beleza original ou algum segredo fotográfico revelado pelo olhar privilegiado de um fotógrafo talentoso. A periferia de Paris é o que ela é, e não o que Atget queria que ela fosse. Sua fotografia, descrevia coisas, artefatos e volumes; porém, ela também subvertia o caracter secundário da fotografia descritiva. O inusitado, o acaso e as próprias manifestações casuais das cidades foram retratadas com a mesma contingência das fotos de pontos turísticos de Paris, revelando assim uma beleza única, puramente fotográfica e simultaneamente realista. Sente-se que suas imagens são incompletas, que lhes falta equilíbrio, que parecem desajeitadas e amadoras. Fotos que apresentam o incômodo ponto de fuga celeste, e onde o assunto poucas vezes é apresentado em sua integridade: a cidade representada como fragmentos desconectados, distantes da organização simplificada desejada pela ideologia do urbanismo funcional.
Autor: Laura Ferraz


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