Meu Amigo, Meu Sócio!



E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento. (Judas 22)

Estudos revelam que, embora home offices, micro e pequenas empresas, comecem com bastante entusiasmo e perspectiva de progresso, 80 porcento delas, descerá pelo ralo do fracasso, saindo do mercado antes de completar 5 anos.

Claro, existe uma infinidade de antídotos creditícios, para tentar salvar os novos empresários, com relatos de algumas apoucadas conquistas. Longe de ser uma panacéia, a recuperação de uma empresa, quando se consegue, dificilmente deixa de ser, atravessando a dolorosa via do sufoco.

Filemon estava feliz! Ria mais do que pinto no lixo. Sua gargalhada parecia a de um apresentador de tv, persuadindo incautos a responder perguntas, para arriscar tomar posse de alguma eventual mini-fortuna, perdendo-a após atingir a culminância do valor do prêmio, com malditas e pusilânimes pegadinhas.

A diferença entre o Bonitão da “idiot box” (televisão) e Filemon, equivale à distância entre o oriente e o ocidente, pois enquanto o primeiro se alegra com o infortúnio dos que lhe trazem cornucópias de dinheiro, o segundo, odeia do fundo de sua alma a exaltação à vileza. Pelo contrário, Filemon se compadece dos mais fracos.

-- E ai Fi? Valeu mesmo, cara! 2006 foi um anaço. Ultrapassamos as projeções e vamos bombar mais ainda com o Pan 2007.

Filemon, ria ainda mais, da alegria do empregado que se auto-elegera puxa-saco. Deixava rolar. Era um excelente colaborador, não precisava adular tanto o patrão. Não havia o que temer. Alguém vai querer cometer a loucura de dispensar o melhor funcionário?

Subitamente, Filemon sentiu uma cobrança da consciência, decidindo não rir mais do cara e, até mesmo dar uma explicação e agradecer a esse, pode-se dizer, amigo.

-- Onésimo, meu amado. No início estava rindo da sua cara, peço que me perdoe. Na verdade era como quem tira um sarro de um irmão menor que ainda não entende certas coisas. No fundo, querido amigo, escarnecia de mim mesmo.

A consciência puxou a orelha de Filemon e com lágrimas nos olhos continuou:

-- Onésimo. Sempre que você me via sem dinheiro, ficava duro junto comigo, não permitindo que eu fosse ao banco, descontar títulos para pagar aos empregados. Não poucas vezes, fiquei sem almoçar. Sabedor da minha situação, você passou a trazer comida para dois. Aquele pé-de-galinha feito pela sua mulher, como era gostoso. Você me viu passar por um sufoco tão grande, que nem aceitava receber o próprio salário.

-- Eu não sou seu empregado e sim um parceiro. A galera me chama de puxa-saco. O que ninguém sabe, é que você sempre pagou o colégio de minha filha e o material escolar durante estes cinco anos. O pessoal também não sabe que esse carro que uso, sem que eu pedisse nada, a firma passou para o meu nome. Agora a empresa está com dinheiro e eu não posso deixar de agradecer o plano de saúde que acabo de ganhar para a família e um aumento de salário com percentual superior ao pretendido pelos políticos. Sou grato sim por tudo. Você pode contar comigo para qualquer coisa. O que você lucrar eu participo e seu prejuízo também será meu. Vai por mim, meu amigo, meu grande amigo! Só não sou seu sócio no papel.

-- Onésimo. Estou muito satisfeito com você. Quero comemorar o fato de termos passado os 5 anos da empresa sem dívida, fechando no azul, desde o segundo ano.
Vamos celebrar a assinatura da alteração do contrato social. Por favor coloque seu jamegão.

E abraçando-o demoradamente concluiu Filemon:

-- Meu Amigo, Meu Sócio!
Autor: Gilberto Landim


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