INDIVIDUALISMO PREDATÓRIO E A PERDA DA CREDIBILIDADE



A sociedade brasileira tem colhido exatamente o que plantou, nos últimos 500 anos.
Nossa cultura sempre deu ênfase a algumas atitudes que embora sejam consideradas
ultrapassadas e “anti-éticas”, continuam a ser praticadas e são potencialmente
perigosas. Vamos enumerar algumas:

A famosa “lei de Gerson”: levar vantagem em tudo.
Primeiramente, para que alguém leve vantagem, deve existir uma contraparte que não
leva, seja prejudicada. As pessoas não gostam de ser ludibriadas. As inimizades
surgem desta forma e levam a atritos que podem, em alguns casos, gerar sérias
conseqüências como morte, por exemplo.

Também é conhecido como “passar a perna”, “ser malandro”, “jeitinho brasileiro”
termos que são glorificados em nossa cultura. O outro, passa a ser o “otário”.

Essa atitude, infelizmente generalizada, é adotada por empresas, governo e o povo em
geral:
É o comerciante que “erra no troco”, o amigo a quem se empresta algo e que “dá o
cano”, o político que cobra “pedágio” dos empregados contratados, o aluno que “cola
porque senão não sai da escola”, o motorista que cruza o farol quando não há guardas
olhando, o fisco “aliviando-nos” 0,38% de nossa movimentação bancária, sem
dar nada em troca etc, são os “vilões” da tragicomédia brasileira.
O consumidor enganado, o amigo ingênuo, o empregado lesado, o próprio tolo aluno
que colou para virar um analfabeto funcional, o pedestre atropelado, o erário público
ao não receber os impostos sonegados, são as “vítimas”.

Entretanto, as coisas não são assim tão preto e branco. Esses personagens nem
sempre são apenas vilões ou vítimas. Eles mudam de “pele” quando surge uma
oportunidade. Não há inocentes na sociedade brasileira. Há hipocrisia, disputa,
rivalidade.

Essa competitividade exacerbada gera desunião. Um exemplo são os esportes.
Inicialmente idealizados como integradores, são vistos como uma guerra, na qual não
basta ganhar, tem de se humilhar o adversário. Esse pensamento é nocivo, basta
notar o que se passa nos estádios entre as torcidas. Homicídios ocorrem facilmente.

Nossa pretensa “sociedade democrática” gosta de alardear sua “ausência de
preconceito”. Se acreditarmos que, uma mentira, quando repetida e repetida, torna-se
uma verdade, poderemos até concordar. Mas, sem ilusão. O pior preconceito é o
velado. O preconceito que sabota as possibilidades. O preconceito que o rico tem do
pobre, que o branco tem do negro ou do índio, que o morador da zona sul tem do da
zona norte, que o palmeirense tem do corinthiano e por aí vai, são apenas duas faces
de uma mesma moeda. Acaba sendo o preconceito do brasileiro contra si próprio.

Ele não sente que faz parte de uma sociedade. As atitudes que nota nos outros e em
si mesmo, força-o a enxergar o próximo como uma ameaça, portanto, deve atacar
antes de ser atacado. Essa acaba sendo a triste conclusão, que pode ser observada no
dia a dia em praticamente todos os lugares, desde numa fila de banco ao trânsito na
metrópole. A vida humana torna-se muito barata e sem maior sentido para nós – basta
ler os jornais para comprová-lo.

Não ter palavra.
As promessas, para o brasileiro, significam muito pouco. Fazer uma coisa e dizer outra
completamente diferente, nos é ensinado desde o berço:
- Não devemos falar a verdade e sim o que o interlocutor quiser ouvir. Se você é um
político, faça promessas aos tolos de seus eleitores e não as cumpra. Dê desculpas.
Isso acaba funcionando. A “memória do brasileiro” realmente é muito fraca e eles
acabarão votando em você mesmo nas próximas eleições. Só não vale morrer de rir na
cara deles...
- Caso te desmintam, não se abale, negue até a morte, mesmo que haja uma tonelada
de provas contra você, faça expressão de ofendido e diga esta frase maravilhosa: “Em
que você confia mais: minha palavra ou seus olhos ?” – afinal tudo pode não passar de
uma ilusão de óptica...
- Se a questão for mulher, não há problema, diga que ela é linda e você a ama.
Geralmente resolve.
- Empresário, prometa distribuição de lucros e depois, mascare os balanços para não
cumprir com o trato.
Como vimos, há inúmeras formas de dizer algo e voltar atrás. Afinal, a “cara-de-pau” é
uma “qualidade” nossa.

Marcar uma hora com alguém, seja para uma reunião de negócios ou apenas bate
papo entre amigos, e chegar atrasado, não é visto como pouco caso em relação à
pessoa que espera, isso apenas “faz parte do brasileiro” – deixar algo para fazer na
última hora, obtendo um pobre e porco resultado, ou pior, esquecer completamente
dessa obrigação e dar uma desculpa (nem que seja para você mesmo) é mais fácil.

O caso mais gritante dessa barbaridade está na participação brasileira na construção
da Estação Espacial Internacional (ISS). Não consigo deixar de citá-lo.

O Brasil participa da construção dessa estação desde 1997. “Nunca conseguiu tirar do
papel o seu compromisso com os outros 15 países participantes e construir partes da
espaçonave - laboratório.” Essas palavras, do astronauta brasileiro Marcos Pontes
ilustram essa total falta de comprometimento de nosso governo. E com o passar do
tempo, nossa participação ficou apenas nas belas palavras de cooperação
internacional. Com isso, perdeu a indústria nacional a oportunidade de mostrar que é
capaz de empreitadas mais arrojadas. Perdeu o país a oportunidade de receber US$
110 milhões, nas palavras de Pontes e de capacitar seus técnicos. Perdemos enfim,
credibilidade.

Seja sincero, se você fosse um investidor internacional, colocaria seu dinheiro num
lugar assim?


Não assumir os erros (e ainda desejar o paternalismo estatal...)
Os erros que cometemos, jamais são de nossa responsabilidade. Ou é a sociedade, que
nos faz virar ladrões e assassinos ou são as grandes nações, com suas multinacionais,
que querem nos lesar e por isso não há crescimento no PIB e na renda interna, ou
mesmo as leis injustas, que nos obrigam a sonegar os impostos e blá, blá, blá.

Essa imaturidade social, desculpa institucionalizada, serve como freio ao crescimento
pessoal e inevitavelmente incentiva o individualismo predatório e origina a grande
parte de nossas mazelas nacionais.

O brasileiro reclama, mas se conforma, como na fábula de La Fontaine de A Raposa e
as Uvas: se algo é difícil e trabalhoso, menospreze-o. Assim, o fato de não conseguí-lo
parece não importar.

O acidente na construção da linha amarela do Metrô de São Paulo, ocorrido no dia 12
de janeiro último, é um claro efeito dessa atitude, aliada à da “Lei de Gerson”, as
culpas são lançadas tal qual batata quente, de um responsável a outro (o caso do
choque do Legacy da Embraer com o vôo 1907 da Gol é outro exemplo).

O mínimo esforço é a meta da nação. Um estado paternalista, que incentiva a
preguiça, que é um cabide de empregos para uma minoria egoísta e parasítica, que tal
qual os velhos coronéis do sertão continua distribuindo esmolas a troco de votos e que
incentiva a educação e o espírito empreendedor de sua gente apenas da boca para
fora, estipulando risíveis metas de crescimento do PIB, aceitáveis apenas pelo papel
em que estão escritas e pelos demagogos que as recitam, não pode ser levado a sério
por ninguém.

Perdoemos as dívidas dos incompetentes e ladrões. Premiemos as escolhas erradas e
os egos inflados. O bolso do contribuinte não tem fundo.

O Brasil, tal qual folha seca ao vento, apenas segue o caminho que lhe é imposto pelo
ambiente. E essa deriva apenas nos leva, cada vez mais, para longe de nosso destino.


***

Evite ler este texto de forma preconceituosa ou negativa. A intenção não é ofender
ninguém, visto que o autor também faz parte da sociedade brasileira. O único intuito é
fazer o leitor refletir sobre essas atitudes e pensar, se é correto agir dessa forma e o
quanto essas atitudes enraizadas tem prejudicado nossa nação e a cada um de nós
particularmente.

Haverá é claro os que dirão que não agem assim. Peço a estes, que reflitam ainda
mais profundamente suas atitudes e que atirem a “primeira pedra” se jamais fizeram
algo que prejudicou a outrem.

Isso é humano. Desde que Caim matou Abel por um prato de lentilhas, como nos
ensina a bíblia, os homens tem agido de forma egoísta uns com os outros. Para mudar
essa maneira de ser dos humanos, ainda faltam muitas e muitas gerações (se é que
ocorrerá), entretanto, não precisamos fazer disso uma instituição nacional e, muito
menos, nos orgulharmos do fato.

Cabe a nós modificarmos a visão que o Mundo tem do Brasil. Isso não é uma tarefa
exclusiva do governo ou de uns poucos empresários e esportistas. Muito pelo
contrário! É uma atitude que tem de ser tomada por todos nós !

Desde que me conheço por gente, o Brasil é chamado de “o país do futuro”. Só que
esse futuro jamais chega. Por que será?

Afinal, quando o então presidente francês, Charles De Gaulle supostamente disse na
década de 1960, que “o Brasil não é um país sério”, ele não estava nos elogiando.
Autor: Henrique Montserrat Fernandez


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