Saúde X Segurança de Vôo



Saúde X Segurança de Vôo



Aldo P. C. Silvestre


No setor aeronáutico, o exame de saúde é realizado pelo Centro de Medicina Aeroespacial - CEMAL , anual ou semestralmente, e tem por finalidade verificar as condições de saúde dos aviadores e afastá-los ou aprová-los conforme o resultado.

Não obstante a freqüência com que aviadores são submetidos ao cito exame, dados do CEMAL, citados por D’Acri (1991) revelam que o maior percentual de causas de incapacidade ao trabalho decorrem de problemas psiquiátricos. Esta mesma autora aponta o cansaço físico e a irritabilidade como os sintomas e sensações mais percebidas pelos aeronautas entrevistados.

Também, Assis e Palma (1995) destacam que, em estudos recentes desenvolvidos “a obesidade foi encontrada em mais de um terço dos avaliados e 72% apresentavam adiposidade acima de 15% do peso corporal. A inatividade física apareceu em 53,85 da amostra” e que os valores médios de colesterol total encontrados em comandantes foram de 222,8 mg.dl e da fração LDL, de 147,4mg.dl, quando os valores desejáveis estão, respectivamente, abaixo de 200 e 130.

O sedentarismo é considerado um dos fatores de risco à saúde do homem moderno e sua manutenção facilita o aparecimento de doenças e distúrbios que podem levar até a morte. As doenças cardiovasculares, responsáveis pela principal causa mortis no Brasil em 1988 (Chor et al., 1995), a obesidade e a osteoporose são alguns exemplos (Pollock e Wilmore, 1993).

Coelho, citado no manual de saúde do DIESAT, (1995, p.6) sugere que “a profissão dos aeronautas tem sido associada com litíase renal (cálculo renal), o que tem sido relacionado à exposição a baixa umidade do ar, associada a condições de sedentarismo, impostos pela própria atividade de trabalho”.

Verifica-se, em tais estudos, que os problemas de saúde são decorrentes de inatividade física, principalmente.

A prática de exercícios físicos regular pode, então, contribuir para reduzir a morbidade e a mortalidade, exercendo um efeito benéfico sobre a saúde e qualidade de vida do homem (Borms, 1991; Costa, 1991).

Considerando que o aeronavegante submete-se a toda série de condições adversas de trabalho, tais como exposições a radiações, variações de temperatura, transposições de fusos horários, altos níveis de ruídos, baixa pressão atmosférica, posições desfavoráveis ao repouso, que são fatores contribuintes para aumentar os riscos à saúde, não me parece racional o aeronavegante limitar a submeter-se a exames anuais ou semestrais, conforme determina a Instrução Reguladora de Inspeção de Saúde - IRIS, apenas com o intuito de averiguar se a saúde está dentro dos parâmetros previamente determinados.

O conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) é o de “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (World Health Organization, citado por Lewis, 1986,p. 1.100)., Essa conceituação está associada a estratégias que envolvem alimentação saudável, atividade física para a saúde, num processo de prevenção contínua.

Segundo o dicionário Aurélio, prevenção significa: ato ou efeito de prevenir(-se), disposição ou preparo antecipado e preventivo.

Prevenção, aqui enfocada, envolve cuidados rotineiros com a saúde do piloto, com vistas a se obter ou contribuir para a segurança de vôos, o que demanda, então, o estabelecimento de ações preventivas, fundamentadas em atividades físicas, direcionadas ao bem-estar físico, mental e social deste profissional.

Percebo que donos e diretores de empresas aéreas estão conscientizando-se de que a segurança de vôo é a alma da organização, mas por outro lado, não basta investir milhares de dólares em Treinamentos, Simuladores, Ground School , EGPWS , TCAS , GPS , RVSM , CRM , CSV , PPAA , se o homem, que é exatamente o operador e ou o executor de todo este aparato, não vem recebendo a devida atenção.

Tendo recentemente participado de Curso de Segurança de Vôo - CSV, pude observar que nenhum PPAA das empresas as quais tive acesso, possuía um sub-programa que tratasse das atividades físicas de seus pilotos ou funcionários ligados diretamente com segurança de vôo e suas vantagens na prevenção de doenças como epilepsia, infarto do miocárdio, angina pectoris, diabetes melittus, tabagismo, mal súbito, estresse, entre outras, o que certamente opõe-se a segurança de vôo e, conseqüentemente, contra a prevenção de incidentes e acidentes aeronáuticos.

Nenhum ser humano é capaz de utilizar 100% de seus conhecimentos e experiência se estiver com a saúde deteriorada.

O PPAA de qualquer empresa será sempre deficiente se nele não houver um sub-programa que dê atenção à saúde de seus funcionários, de modo preventivo ,não limitando-se apenas a inspeções periódicas que fatalmente têm levado a uma situação de remediar, aumentando os custos e comprometendo a segurança.

O sedentarismo deve ser abolido definitivamente da vida do aeronavegante e da vida de todos aqueles que estão envolvidos diretamente com a segurança.

È oportuno salientar que o Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica - CIAA, de Belo Horizonte, no dia 06/11/2005, deu clara prova de sua preocupação com a aptidão física do aeronauta, promovendo a 1ª Corrida do Aviador, iniciativa que, aliás, deveria se estender em nível nacional.

É preciso que haja essa conscientização por parte de todos aqueles que desenvolvem algum tipo de trabalho ou programas de prevenção de acidentes aeronáuticos, em suas empresas, pois o assunto é de extrema seriedade e merece a atenção de todos nós que estamos compromissados com a segurança de vôo.



Referências bibliográficas

ASSIS, M. & PALMA, A. A circulação do poder sobre o corpo no espaço social da aviação. In: VOTRE, Sebastião José (org.). Cultura, atividade corporal e esporte. Rio de Janeiro : Editoria Central da Universidade Gama Filho, 1995.

BORMS, J. Exercício físico, aptidão física e o paradigma da saúde. In: BENTO, Jorge &
MARQUES, Antonio (orgs.). Desporto, saúde e bem-estar. Porto : Universidade do Porto, 1991.

CHOR, D.; FONSECA, M. J. M.; ANDRADE, C. R. WAISSMANN, W. & LOTUFO, P. A. Doenças cardiovasculares: panorama da mortalidade no Brasil. In: MINAYO, Maria
Cecília de Souza (org.). Os muitos Brasis: saúde e população na década de 80. São Paulo :
Hucitec/Abrasco, 1995.

COSTA, O. Desporto e qualidade de vida. In: BENTO, Jorge & MARQUES, Antonio (orgs.). Desporto, saúde e bem-estar. Porto : Universidade do Porto, 1991.

D’ACRI, V. Volere Volare. Rio de Janeiro : CESTEH/ENSP/FIOCRUZ, 1991.

DIESAT (Departamento Intersindical de Estudo e Pesquisa de Saúde e dos Ambientes de
Trabalho). Aeronautas: condições de trabalho e de saúde. São Paulo : DIESAT,
1995.
LEWIS, A. Saúde. In: SILVA, B. (org.). Dicionário de ciências sociais. Rio de Janeiro :
Fundação Getúlio Vargas, 1986.

POLLOCK, M. & WILMORE, J. H. Exercícios na saúde e na doença. Rio de Janeiro : Medsi, 1993.
Autor: Aldo P. C. Silvestre


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