A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO MÉDICA



DENGUE *Bia Lopes



A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO MÉDICA



Notícia veiculada na mídia (Amazônia Jornal, Portal ORM, O Liberal) relata a morte recente de uma criança, sexo feminino, 10 anos, em Belém, tendo o óbito ocorrido logo após sua chegada no Hospital Pronto-Socorro Municipal dia 24 de abril de 2007. Em seu prontuário consta como causa 'morte desconhecida' embora os sintomas descritos pela família apontavam para dengue hemorrágica! Após o óbito, o corpo da criança foi encaminhado para exame no IML para verificação da causa-mortis.
.O fato é um, entre muitos outros e é preocupante e grave o despreparo de muitos profissionais da área de saúde (médicos) que, em plena epidemia, com o relato de sintomas indicativos para dengue coloquem como “morte desconhecida”! Existe uma epidemia? Os sinais apontam para a dengue? Tratamento de urgência para repor as perdas do organismo, cuidados intensivos, e retirada de material para SOROLOGIAS e ISOLAMENTO VIRAL, a investigação junto à família sobre sintomas apresentados anteriormente, sobre o uso de algum medicamento pode auxiliar a elucidar o quadro.
No caso desta criança, o resultado apresentado pelo laudo do IML aponta como causa morte “insuficiência respiratória aguda e pneumonite hemorrágica bilateral” e segundo o plantão de notícias fica descartada a possibilidade de morte por dengue hemorrágica! Ora, este é um dos absurdos que cercam a dengue! A criança estava com dengue, que é uma patologia viral, os vírus penetraram no organismo enquanto o mosquito suga o sangue da pessoa, diretamente no capilar sangüíneo e imediatamente inicia-se o processo de replicação viral, isto é, a reprodução de milhares de vírus (antígenos) no interior dos capilares desencadeando as ações do sistema imunológico (produção de anticorpos). No caso de uma primeira dengue (DEN1 ) as reações são diferentes de uma segunda dengue, onde já existe um registro no organismo de uma dengue anterior, o sistema imune é ativado imediatamente pelo organismo e inicia-se a produção de anticorpos específicos e as reações apresentadas são: aumento de temperatura (febre intensa), inquietação, dor nos ossos e articulações (o vírus multiplica-se de forma intensa na medula óssea), dor no abdome (vírus se multiplicando no fígado, órgão ricamente vascularizado), intensa dor na cabeça e nuca, onde o vírus se multiplica e, toda esta agressão viral causa o rompimento dos capilares e estas perdas sanguíneas disseminadas por todo organismo levarão se não houver atendimento rápido e adequado, a um quadro de choque evoluindo rapidamente para o óbito.
O mais grave é a criança ter sido atendida por um médico infectologista, isto é, especializado em infectologia que não detectou os sintomas de dengue... ora, se no laudo do IML consta “insuficiência respiratória aguda e pneumonite hemorrágica” fica claro que é necessário uma atenção para o quadro que o paciente apresenta e o relato da família falando em dengue.
Outra ocorrência semelhante vitimou M.A.S., 23 anos, em Campo Grande-MS., dia 15/01/2007. A jovem havia sido internada dia 30 de dezembro, no Hospital Universitário de Campo Grande, com sintomas de dengue, vindo a óbito no dia 15. O resultado do laudo do IML só ficou pronto no dia 19/02 e atestou como causa da morte falência pulmonar e pneumonia, conseqüências da dengue.
Vou citar o caso do paciente C. adulto do sexo masculino, com sintomas de dengue clássica, no quarto dia passa a apresentar pequenos sangramentos, e a febre desapareceu repentinamente, apresentando epiderme fria e inquietação, sinal de evolução para um quadro hemorrágico grave. Levado às pressas para a Capital recebeu atendimento eficiente e rápido diagnóstico: AVC (acidente vascular cerebral), com cirurgia para a remoção de líquido (sangue). Novamente neste caso a dengue ficou esquecida, omitida como causa principal desencadeadora do AVC. Realmente se faz necessária uma atenção maior nas evoluções que ocorrem durante e depois da dengue.

Paciente adulto, sexo masculino E., apresentou sintomas de dengue (já fora infectado anteriormente-DEN 1), febre alta, cefaléia intensa, dor retroorbicular, dores nas articulações, desmaios e internação de urgência. Ao ser sugerido o quadro de dengue ao médico plantonista a princípio este pareceu sequer ouvir a sugestão, pois escrevia de cabeça baixa e de cabeça baixa permaneceu. Só levantou os olhos ao ouvir minha sugestão: Dr., solicite a sorologia para dengue e também o Isolamento Viral (exame este que detecta quantas dengues o paciente já passou sendo informação esta importante para o futuro, em função da epidemias seqüenciais que estão ocorrendo no Brasil). Realmente, foi confirmado: dengue.

OUVIR O PACIENTE, OUVIR A FAMÍLIA FAZER PERGUNTAS, INVESTIGAR

Quando questionei o motivo do atraso do ônibus que saiu de Cuiabá para São Paulo fui informada que havia uma passageira com dengue hemorrágica passando mal, e que, ao chegar a Rondonópolis o motorista tivera que passar no PS para socorrer a paciente que estivera internada em hospital de Cuiabá com dengue e, no primeiro dia sem febre (que pode evoluir para lenta melhora ou para dengue hemorrágica ou síndrome de choque por dengue), a mesma, assustada pedira alta hospitalar para voltar para São Paulo, sem perceber que estava se iniciando o processo hemorrágico. No PS, o médico disse ser “uma virose” e liberou a mesma, sem maiores questionamentos. No ônibus, aguardei ela acordar e perguntei como estava se sentido: “mal”, respondeu ela. Perguntei se estava fazendo uso de algum medicamento afirmou que não. Insisti: nem um comprimido? Ah, sim eu tomo AAS infantil, receita de meu cardiologista...(Acido Acetil Salicílico)! Imagine, a paciente passara por dois médicos e nenhum fez esta pergunta básica!
A pequena G., com 18 meses de idade apresentou febre repentina, mal estar geral, dor no corpo e na cabeça, levada ao Pronto Atendimento, o diagnóstico, em plena epidemia: “é uma virose”... Receitou um antitérmico e mandou embora. Pois bem, a pequena foi levada mais duas veses ao Atendimento, e em nenhuma delas o médico solicitou as sorologias. Outros sintomas apresentados: pele toda avermelhada, manchada (são os focos hemorrágicos nos capilares), e durante dois dias não conseguia ficar de pé ou andar, só gemia “dói minha cabecinha e minhas perninhas”, reclamava. Pois bem, fomos ao Lacen para que fossem realizadas as sorologias, foi coletado o sangue que deveria ser encaminhado a Cuiabá (estava faltando material no Lacen local), pois se passou 1 mês, dois e no 3º mês recebi a informação: O EXAME NÃO FORA ENCAMINHADO A CUIABÁ! Fatos como estes que relato neste artigo colaboram negativamente, somando-se aos erros no combate ao inseto vetor, que ano após ano é repetido: visitas eventuais de agentes, pessoas já me disseram: “nunca foi ninguém da dengue na minha casa”, os milhares de terrenos e imóveis baldios recebem visitas? Um sapato velho jogado no lixo num lote vazio é um dos locais em que a fêmea do Aedes irá depositar seus ovinhos e de onde surgirão centenas de mosquitos adultos, prontos para disseminar o vírus da dengue.
O Brasil, que convive com a dengue desde 1986 (primeiros relatos depois do retorno do vetor), isto é, há mais de 20 anos, não tem estrutura para eliminar o vetor e muito menos para o atendimento da população, que é infectada e reinfectada a cada 04 anos com milhares de óbitos ocorrendo sem a identificação correta da causa, sem providências para o atendimento urgente do paciente, sem a capacitação de mais profissionais em Medicina Tropical, a fragilidade da estrutura para o atendimento médico-hospital é muito grande!
"A dengue no Brasil ainda é considerada surpresa. E a morte em conseqüência da infecção, fatalidade. Está errado. A morte é perfeitamente evitável", diz o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e integrante do comitê assessor do Ministério da Saúde para dengue Rivaldo Venâncio da Cunha.(Agência Estado).
ENQUANTO AS AUTORIDADES DA SAÚDE PÚBLICA não se conscientizarem da necessidade de eliminar o inseto adulto, fazendo o uso correto do “fumacê” as epidemias continuarão fazendo vítimas ano após ano, com milhões de pessoas infectadas e milhares de mortes, anualmente.
OS FATOS QUE ENVOLVEM A DENGUE E O COMBATE AO VETOR

Interesses estranhos fazem com que o inseticida entregue pelo governo federal seja desperdiçado, não utilizados, fique com a data de validade vencida, o desconhecimento do uso adequado, (em determinado estado os funcionários lavaram as paredes com o Malathion, sofrendo grave contaminação com evolução a óbito) falta de capacitação de funcionários para a execução correta do trabalho de aplicação do “fumacê” (a aplicação deve ser feita com luvas, óculos de proteção e roupa apropriada, não pode se alimentar ou fumar em hipótese alguma durante a aplicação, banho com água e sabão abundante, troca da roupa toda que deverá ir para lavar SEPARADAMENTE de outras roupas. O “fumacê” aplicado da forma correta irá eliminar o mosquito adulto, ele será prepara utilizando a dose adequada do inseticida, água e óleo, por que óleo? Para dar aderência às microgoticulas durante a aplicação que, aderido à folhas de árvores, paredes, manterá o poder residual e o efeito e cada Aedes aegypti que ali pousar será eliminado, o erro de avaliação é utilizar inseticidas destinados à baratas, aranhas, pulgas ou outros insetos, pois o Aedes não será afetado. Falta uma ação efetiva do Ministério da Saúde, exigindo a utilização destes insumos, bem como a capacitação, mas desde que o controle foi repassado da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para as secretarias estaduais e municipais de saúde quem assumiu o controle foi o mosquito...
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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