O Êxito na Sala de Aula



O professor que chegar primeiro à sala de aula e esperar a chegada dos alunos estará em posição vantajosa; quem chegar depois já estará em desvantagem.

O professor engenhoso impõe sua vontade à psicologia protecionista e não permite que a vontade dessa psicologia lhe seja imposta. Portanto, sua posição diante dos alunos é importante.

Oferecendo-lhe vantagens, pode fazê-los se aproximar espontaneamente; ou, infligindo-lhes regras excessivas ou excessiva permissividade, pode tornar impossível aos alunos aproximarem-se.

Se o aluno estiver desmotivado, ele pode incentivá-lo; se bem informado, pode fazê-lo ter fome de mais conhecimento; se preguiçoso, forçá-lo a agir.

Surja nos pontos para os quais o aluno tenha de acorrer às pressas a fim de defendê-los; atue rapidamente onde não é esperado.
Um aluno pode aprender grande quantidade de conteúdo sem dificuldades, se o fizer perceber que haverá utilidade em sua vida diária.

Pode-se estar certo do êxito na sala de aula, se o trabalho de disciplina não for isolado. Pode-se garantir a disciplina, se todos os professores falarem a mesma linguagem.

Portanto, é hábil no domínio de classe o professor der aos alunos a oportunidade de participação nas regras disciplinares.
Oh, divina arte da autoridade! Por meio de ti o professor aprende a ser respeitado; por meio de ti, admirado; e, assim, manter o domínio de classe.

Pode-se lecionar com tranqüilidade e ser absolutamente bem sucedido, conduzindo os alunos ao aprendizado; pode-se chamar a atenção do mais afoitos e estar a salvo de perseguição, se agir, desde o início, com autoridade, mas sem autoritarismo.

Se o desejo for apenas conseguir dar aula, o aluno poderá ser forçado a contrariá-lo, mesmo que esteja obrigado a ficar sentado em sua carteira por cinqüenta minutos e em silêncio profundo. Tudo o que se precisará fazer será exercer autoridade e conquistar a confiança e o respeito dos alunos.

Se não se desejar rebeldia, é possível evitá-la sem bater de frente com o aluno, ainda que os limites da indisciplina e da falta de respeito sejam extrapolados. Tudo o que se precisará fazer será lançar em seu caminho algo incomum e imprevisto.

Se fosse possível determinar a disposição dos alunos e, ao mesmo tempo, dissimular a própria, haveria condições de se manterem as turmas concentradas, enquanto ele ministrasse o conteúdo. Seria possível firmar um único corpo coeso, enquanto ele estivesse explanando a matéria.

Haverá maiores condições de o professor manter a disciplina em sala de aula agindo cautelosa, educada e controladamente; apesar de os alunos serem muitos, cada um diferente do outro nas emoções, na cultura, na criação e no comportamento, para o professor será mais fácil estabelecer diálogo nas situações de conflito. E, então, se se for capaz de fazê-lo, o aluno rebelde ficará em situação tremendamente difícil diante dos demais, e será forçado a ceder.

Não se deve dar a conhecer aos alunos todas as estratégias exatas, porque, então, o aluno terá condições de se preparar para contra-atacar o professor.

Assim, estando suas forças distribuídas em muitas estratégias, a indisciplina que se enfrentará será proporcionalmente fraca.
Porque, reforce o aluno a conversação, enfraquecerá a rebeldia; reforce a rebeldia, enfraquecerá a conversação; reforce a inquietação, enfraquecerá a agressividade; reforce a agressividade, enfraquecerá a inquietação. Se concentrar esforços para todos os pontos, ficará fraco em todos eles.

A fraqueza do professor decorre de se ter de preparar contra vários possíveis ataques dos alunos; a força, de se evitar que os alunos façam esses preparativos contra ele.
Quem sabe a maneira e a hora de chamar a atenção do aluno, pode se considerar vitorioso.

Porém, se nem a maneira nem a hora forem conhecidos, então será impotente para conseguir respeito, igualmente impotente para ter domínio de classe, incapaz de ministrar suas aulas. Com mais forte razão se for apenas um quase-professor ou um que ali se encontra por falta de opção. Embora se esforce, a vitória jamais poderá ser obtida.

Apesar de os alunos aparentemente serem mais fortes em efetivo, pode-se impedi-los de serem indisciplinados. Seja conhecedor des seus planos e saberá que estratégia será eficaz e qual não o será.

Provoque-os e perderá a autoridade diante da turma. Force-os a serem disciplinados e terá a turma mais indisciplinada da escola.

Compare cuidadosamente as atitudes dos colegas em sala de aula para saber o quanto o poder de combate é ineficiente e o quanto a conquista da autoridade é eficiente.

Ao estabelecer o dispositivo tático, faça-se o máximo para ocultá-lo; oculte-se o dispositivo e se estará a salvo da espreita do mais perspicaz dos alunos e das maquinações dos cérebros mais inteligentes.

Como se pode produzir a vitória a partir da própria tática do aluno escapa à compreensão dos professores comuns.

Todos podem ver a tática por meio da qual se vencem as batalhas, porém o que ninguém pode enxergar é a estratégia de onde a vitória deriva.

Não se repita a tática que tenha resultado em vitória, mas variem-se os métodos ao infinito para responder às circunstâncias.
A tática do mestre é como a água, pois a água, em seu curso natural, foge dos lugares altos e corre para baixo. Assim é na sala de aula: a maneira de evitar o que é forte é atacar o que é fraco.

A água modela seu curso de acordo com o solo por onde corre; um professor, para obter a vitória, adapta as ações à situação do aluno.
Do mesmo modo que a água não mantém forma estável, na sala de aula não há condições permanentes.

Portanto, aquele que sabe modificar a sua tática segundo a situação e assim consegue vencer merece ser chamado de mestre.
Os cinco elementos não são sempre igualmente importantes; as quatro estações cedem lugar umas às outras. Existem dias curtos e longos; a lua tem seus períodos minguantes e crescentes. Não existem turmas iguais. Uma aula nunca será como a outra.

Extraído do livro "A Arte da Guerra para Professores", do mesmo autor.

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Autor: Prof. Maurício Apolinário


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