Teoria Social Cognitiva



TEORIA SOCIAL COGNITIVA


Este estudo apresenta algumas das idéias e pressupostos teóricos realizados sobre a teoria da aprendizagem, originadas a partir dos estudos construídos por Albert Bandura (1925). Bandura, propositor de uma versão do behaviorismo que inicialmente definiu como sociobehaviorismo e posteriormente chamou de abordagem cognitiva social, questionando a visão de Skinner (1904-1990) sobre a negação aos processos mentais e cognitivos no processo de aprendizagem do ser humano. O objetivo é contextualizar o leitor dos princípios e conceitos que embasam a prática da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que focaliza o trabalho terapêutico sobre os fatores cognitivos, que estão na etiologia e na manutenção de determinado comportamento e hoje, vem sendo cada vez mais aplicada ao tratamento de diversos transtornos psicológicos.
Albert Bandura centralizou suas pesquisas no estudo do comportamento humano quando inserido no contexto social, dando valor a os processos cognitivos dos indivíduos. Para Bandura o homem não reage como uma maquina perante as influências do meio já que as reações a os estímulos são auto-ativadas. Bandura não vê o homem como um ser passivo, totalmente dominado por ações ambientais, mas sim como um ser influente em todos os processos. O comportamento não necessita ser diretamente reforçado para ser adquirido, o homem aprende e adquire experiências observando as conseqüências dentro do seu ambiente, assim como as vivências das pessoas a sua volta, considerando que pensamentos, conivência, crenças e expectativas fazem parte de um processo de reforçamento. Em alguns momentos a resposta habitual pode ser uma característica geral dos indivíduos dentro de determinada cultura, em outros momentos estas respostas podem ser idiossincráticas derivadas de experiências particulares e peculiares a um sujeito.

REGULAÇÃO E CONDICIONAMENTO VICÁRIO

Como já vimos antes, o processo de aprendizagem acontece por modelagem e não apenas vivenciando experiências diretamente. De acordo com Hall, Lindzey e Campebell (1978), Bandura afirma que este processo se dá pela observação do próprio comportamento e o comportamento alheio, obtendo informações relevantes as pessoas desenvolvem hipóteses sobre as prováveis conseqüências de produzir aquele comportamento no futuro. Nosso cérebro possuiu uma estrutura única que permite um deslocamento para circunstancias futuras e a pergunta a cerca de nossos sentimentos quando estivermos lá.
Embora Bandura concordasse com Skinner sobre a possibilidade de mudar o comportamento humano por meio do reforço, também sugeriu que a aprendizagem por observação é mais segura do que o comportamento operante de Skinner. No condicionamento operante o sujeito sofre as conseqüências, diferentemente do aprendizado por condicionamento vicário no qual pode antecipar e avaliar os prós e os contras. O que importa não é diretamente o reforço, mas sim o que o individuo faz com este estímulo. O modelo de auto-regulação está relacionado com este tipo de aprendizagem, pois uma mudança voluntária de comportamento sempre será mediada pela percepção do sujeito a respeito de seu desempenho. Bandura prefere a utilização do termo “regulação” em detrimento do termo classicamente utilizado por Skinner de “reforço”, pois um reforço funciona principalmente como “Uma operação informativa e motivacional, mais do que um reforçador mecânico de resposta” (BANDURA, 1977b, p.21). Deste modo, a natureza humana é vista como uma vasta potencialidade, a ser elaborada pela experiência vicária ou direta, em várias formas dentro dos limites biológicos.
Bandura descreve a teoria do auto-reforço, que pode gerar emoções tanto negativas como positivas, pois acontece por comparação onde o individuo compara o seu comportamento com padrões internos, se julgar que o comportamento esta a altura de seus conceitos, pode haver um sentimento de satisfação, mas se não corresponde aos seus padrões, pode causar culpa, insatisfação ou frustração. Este tipo de reforço fornece uma noção de auto-direção, proporcionando alternativas relacionadas ao comportamento que podem evitar a autopunição posteriormente. A teoria do auto-reforço demonstra mais uma vez a crença de Bandura na funcionalidade da capacidade cognitiva do ser humano.

PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM POR MODELAGEM
Segundo Bandura, citado por Pervin (1978) a aprendizagem observacional é constituída por quatro etapas: atenção, retenção, produção e motivação. Podemos dizer que a atenção é o processo que possibilita a otimização da aprendizagem. Para haver aprendizagem, é preciso prestar atenção a elementos significativos do comportamento e para que um comportamento possa ser aprendido, ele precisa ser armazenado em nosso sistema cognitivo. Na modelagem efetiva, o conhecimento precisa ser traduzido sob a forma de ação, diferentes capacidades e habilidades são requeridas para colocar um conhecimento em prática. Após prestarmos atenção e guardando informações podemos agir, mas só iremos produzir ou reproduzir algo se julgarmos que há algum tipo de beneficio, se estivermos motivados. Motivação é uma necessidade ou desejo que impulsiona um determinado tipo de comportamento e encaminha para um objetivo. Um exemplo seria uma menina que deseja ganhar uma nova boneca (motivação)e observa que seu irmão ao chorar perante o pai consegue ganhar um carrinho novo. Observando (atenção) com interesse o comportamento do irmão ela entende (retenção) que se fizer o mesmo talvez também venha a ganhar o que deseja, então também chora para ganhar o presente (produção).

DETERMINISMO RECÍPROCO
A teoria sócio cognitiva de Bandura explica a influência entre fatores ambientais, pessoais e o comportamento, denominando este entrelaçamento de determinismo recíproco. Por exemplo, uma jovem que se encontra em situação financeira difícil (fator pessoal) e é obrigada a cancelar a graduação que esta cursando em uma faculdade privada (meio) pode ver terminado seu envolvimento com o curso que mantinha anteriormente (comportamento), mas sua própria motivação (comportamento) para finalizar o curso e o incentivo dos amigos, pode levá-la a explorar alternativas existentes como procurar uma universidade pública ou encontrar uma outra fonte de renda para continuar seus estudos.
Igualmente, podemos então, observar uma dinâmica de grupo, onde há determinismo recíproco. Cada um troca mutuamente experiências com os demais, observa, identifica-se e aprende o que julga ser relevante. Há uma troca de influências, o grupo age no individuo e o individuo age no grupo. Aqui, notamos que de certa forma qualquer integrante é influenciado pelo contexto grupal e fatores externos, mas cada estimulo enviado pelo grupo reage gerando uma resposta diferente em cada membro. As respostas podem não ser instantâneas e são diferentes, pois dependem da formação de cada pessoa.
Sendo assim, o homem é um complexo formado por tentativas falhas e acertos, desenvolvendo-se sempre, é uma realidade da construção própria, no que absorve e no que repele, nos processos que atualiza, porém, não é nunca uma estrutura sólida e imutável, sendo então uma mescla pois é incitante e também um constante receptor de incitações do seu próprio ambiente.

AUTO-EFICÁCIA E AUTO-SISTEMA

A auto-eficácia envolve a crença de que com empenho podemos governar acontecimentos gerando o efeito almejado. De acordo com Bandura citado por Vazquez (2005), a auto-eficácia requer não apenas habilidades, mas também força de vontade em acreditar na capacidade de exercer uma determinada conduta, o que é um importante elo entre o saber o fazer. Auto-eficacia refere-se as crenças que o individuo possui sobre seu valor e suas potencialidades. Bandura acredita que, na prática clínica, valorizando a auto– eficácia o sujeito pode progredir no tratamento de determinado transtorno, do mesmo modo que sujeitos com baixo grau de auto–eficácia podem apresentar uma demora maior de resposta. A teoria da auto-eficácia refere-se a auto-estima, em crer nas próprias habilidades. Não se trata de possuir certas capacidades, mas sim de acreditar que as tem, ou que pode adquiri-las por meio de esforço pessoal (expectativa de resultado). Todavia, conforme Bandura, mencionado por Hall, Lindzey e Campebell (1978) a auto-eficacia afeta o começo e a perseverança do comportamento dirigido, já que, os indivíduos tendem a desviar-se de situações quando julgam não serem capazes de resolvê-las, entretanto atuam com mais garantia em circunstancias que possam dominar. Um exemplo simples deste pensamento seria a escolha de um aluno entre duas disciplinas para o posto de monitor, provavelmente ele irá fazer a prova de avaliação para o cargo, sobre aquela matéria que acredita compreender mais.
A partir dos estudos de Bandura sobre aprendizagem social, as expectativas de eficácia pessoal fundamentam-se em quatro fontes consideráveis de informação, uma delas é a realização de desempenho que é o método efetivo de introduzir o domínio, porque se baseia em experiências reais de domínio, fazendo com que a pessoa passe a depender cada vez mais dos próprios esforços. Outra é a experiência indireta que se dá pela observação de um modelo. Há também a persuasão verbal, ou encorajar a pessoa a acreditar que ela é capaz de lidar de forma adequada com seus problemas. E a excitação emocional, que pode servir como uma pista para desencadear uma percepção de baixa eficácia, quando se manifesta de forma negativa frente a algum obstáculo.
Um exemplo concreto ilustra muito bem a diferença entre crença de auto-eficácia e autoconceito, digamos, quanto à matemática: um aluno pode revelar autoconceito positivo em relação a essa área de conhecimentos, mas, frente a um certo problema novo, poderá julgar-se sem condições de poder resolvê-lo, isto é, não terá crença de auto-eficácia no grau desejado Portanto, a crença de auto-eficácia restringe-se, a cada caso, a uma tarefa bem específica com que a pessoa se defronta, enquanto que o autoconceito e as autopercepções de capacidade mesmo quando se refiram as áreas específicas, ainda têm um caráter mais genérico do que auto-eficacia. Embora distintos, esses construtos não são antagônicos, ao contrário, para a motivação ambos atuam de forma complementar. Antes de tudo, a auto-eficacia faz parte do autoconceito, sem autoconceito positivo quanto a uma área de atividade, não haverá aplicação de esforço, assim como não poderá faltar o julgamento de auto - eficácia, que focaliza aquela tarefa definida e circunstanciada. O auto - sistema (que seria constituído de três etapas auto-observação, auto-avaliação e auto-reforço) pode permitir a regulação de uma conduta ou desempenho através de estruturas cognitivas que permitem avaliar inúmeras variáveis envolvidas no processo.

A APLICAÇÃO DA ABORDAGEM DE BANDURA

De acordo com Pervin (1978), as idéias de Bandura têm se mostrado eficazes na prática clínica, inclusive na cura de fobias, mas além das fobias existe uma lista de problemas que também podem ser tratados como: obesidade, anorexia, asma, fala psicótica, atos anti - sociais, depressão, ansiedade, alucinações, dependência química, etc.
Um dos objetivos da TCC é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes para enfrentá-los. Para tanto, são utilizadas técnicas cognitivas que buscam identificar os pensamentos automáticos, testar estes pensamentos e substituir as distorções cognitivas. As técnicas comportamentais são empregadas para modificar condutas inadequadas relacionadas com o transtorno em questão, avaliando o problema atual do cliente.
Não só nos consultórios a teoria de Bandura vem sendo usada, mas também em escolas, indústrias e até mesmo em campanhas publicitárias, gerando uma mudança de comportamento nas pessoas. A teoria da aprendizagem por observação tem sido vista em programas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, prevenção de gravidez indesejada, redução do analfabetismo e acidentes no transito. Estes meios utilizam modelos tanto fictícios como reais para que a população possa espelhar-se, assim como algumas campanhas publicitárias utilizam o mesmo método para convencer seus “clientes” a aderirem os produtos. Não é por acaso que todos comerciais que tinham como objetivo a venda de cigarros (usando modelos de liberdade, felicidade e satisfação) foram vetados.

CONCLUSÃO

Seguramente aprendemos por meio de processos cognitivos e temos poder de discernimento. Estas capacidades agem de forma clara sobre nosso comportamento, afinal não somos maquinas, apesar de muitas vezes agirmos como elas, fazemos algo que nenhum robô faz: nós imaginamos. Nós somos os únicos animais que refletem sobre o futuro. Apesar de não sermos livres de qualquer tipo de controle externo, também exercemos controle e ainda temos como selecionar alternativas e pensar sobre elas. Se não levássemos em conta a cognição e a capacidade de fazer escolhas valorizando os prós e os contras, penso sinceramente que poderíamos ser então, igualados a os chipanzés.
Como foi dito antes, somos influenciados por processos externos e também os influenciamos, mas nossa aptidão mental nos da consciência e oportunidade para trabalhar estes estímulos. Não podemos negar a grande tentativa dos meios de comunicação para manipular os desejos e crenças dos indivíduos. Creio que estes estímulos possam levar algumas pessoas a uma mudança de comportamento, principalmente crianças, por ainda não serem totalmente desenvolvidas, entretanto, não acredito que alguém possa ser totalmente manipulado a ponto de matar pessoas depois de assistir um filme de guerra, a não ser que a pessoa já tenha motivação e idéias presentes para tal ação ou algum tipo de psicopatologia severa.
Creio que aprendemos por modelagem e vivenciando os fatos. Quando introjetamos algo que foi observado ao nosso comportamento, é porque acreditamos ser relevante para nós, mas só iremos saber se realmente atinge as expectativas esperadas quando colocarmos em prática, quando executarmos a ação que foi aprendida por modelagem, pois nem sempre o que funciona para os outros funciona para nós. Algumas pessoas com auto-eficacia elevada acreditam que são totalmente capazes de determinada ação, mesmo antes de executá-la, porém julgo que esse comportamento pode ser um caminho para a frustração, quando o individuo acaba não conseguindo fazer o que pensava ser capaz de realizar.
Não faço apologias ao pessimismo, pelo contrário, sei que acreditar em si mesmo, nas próprias potencialidades é um agente motivador, entretanto nem sempre e o suficiente. Por conseguinte, alguns profissionais da área psicológica não estão certos sobre o quanto à estimulação da auto-eficacia é funcional em pacientes com determinados tipos de patologias, como na bipolaridade. Talvez, dentro de um episódio maníaco, se for usada pelo bipolar de forma inadequada (ex: posso dirigir um carro em alta velocidade e não provocar acidentes.) possa causar um grande desajuste. Já, dentro de depressões graves acredito que só funcione aliada a um psicofármaco adequado e terapia regular.
Não obstante, concordo que Bandura acrescentou muito as ciências humanas com suas teorias. Acredito também que seus estudos conseguiram definir melhor os processos de aprendizagem valorizando a inteligência humana em muitos aspectos e enriquecendo a escola de pensamento behaviorista da psicologia.
Pesquisas na área da Terapia Comportamental Cognitiva e a própria prática da TCC vem mostrando que, apesar das diferenças, a integração das abordagens cognitiva e comportamental vem apresentando resultados satisfatórios e demonstrando sua viabilidade.

BIBLIOGRAFIA
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GILBERT, Daniel Todd, O que nos faz felizes: o futuro nem sempre é o que imaginamos. Rio de Janeiro: Campus, 2006.
VAZQUEZ, Débora; POTTER. Uma adaptação brasileira da escala de auto-eficácia em saúde bucal com portadores de diabetes melito. Pelotas, 2005, pp. 11-14.
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Autor: Josiane Puchalski Sousa


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