COMO SONDAR A DISLEXIA



Atualmente, os principais pesquisadores, na área de Psicologia cognitiva, Neurolinguística, Psicolingüística e Psicopedagogia, entre os quais destacaria as investigações de Anne Van Hout e Françoise Etienne autores Dislexias: descrição, avaliação, explicação e tratamento ( Porto Alegre: Artmed, 2001) consideram que a dislexia, ou mais exatamente as dislexias, são um conjunto de déficits cognitivos que têm sua origem na alteração cerebral que afeta uma ou mais funções que participam do processamento da leitura.

A rigor, a dislexia vem ocupando a atenção dos dislexiólogos não apenas na vertente de aquisição e desenvolvimento da lectoescrita, mas o processamento de informação e do acesso do leitor ao código escrito.

Se a má leitura tem sido adquirida em decorrência da alteração cerebral ou neurológica, fala-se em dislexia evolutiva ou desenvolvimental. Se o déficit aparece uma vez adquirida a leitura, fala-se em dislexia adquirida ou contraída. Seja lá como for, a dislexia não é uma doença, é uma síndrome
e sua etiologia, hereditária ou neurológica, levam-nos a crer que, dada sua raridade, não é tão simples seu diagnóstico. Por isso, a maioria dos médicos, prefere falar em déficit e não adotam o conceito dislexia.

No meu entender, dislexia é um termo que pertence ao campo da lingüística clínica ou mais precisamente da psicolingüística ou psicopedagogia da educação escolar. Assim considerada, o que se tem observado, no meio escolar, em grande parte, não é a dislexia evolutiva ou adquirida, mas uma dislexia pedagógica que poderíamos chamar aqui simplesmente de dificuldade de
aprendizagem relacionada com a leitura (DAL).

Nos últimos anos, venho analisando relato de pais, especialmente das mães, quanto ao desempenho leitor de seus filhos. O caso mais recente é de Gadelha (nome fictício que dei ao sujeito de minha análise para preservar nome verdadeiro da criança).

A mãe relata que Gadelha tem 12 anos de idade, mas ainda não lê bem nem escreve corretamente. Seguindo ela, Gadelha é portador de uma síndrome ainda não identificada pelos geneticistas.
Atualmente, o tratamento de Gadelha é feito com um especialista em genética do Instituto Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro. O último neuropediatra consultado, segundo a mãe, chegou
à conclusão de que ele apresenta um foco de gliose no cérebro. O certo é que a criança tem um atraso no desenvolvimento, principalmente escolar, mas para outras atividades, como videogame e jogos de computador ele está bem avançado, a não ser quando os jogos dependem de leitura.
A mãe de Gadelha acrescenta que a criança freqüenta a escola desde os 03 anos de idade, e, ainda, faz terapia fonoaudióloga, e mais, já teve acompanhamentos com psicopedagoga e psicólogos.


Ele está cursando a 2ª série, mas não tem capacidade para acompanhar o ritmo da turma que freqüenta. A mãe, a todo custo, busca formas de conseguir melhorar o aprendizado escolar de Gadelha, pois um dos seus grandes objetivos é o de tornar Gadelha um adulto independente e
capaz.
Outros relatos que chegam às minhas mãos , por e-mail, com uma certa freqüência, são do tipo da dificuldade de aprendizagem apresentada por Juanito. A criança, de 9 anos, está matriculado na 2a. série do primário.

Juanito apresenta dificuldades de leitura e principalmente de escrita desde a alfabetização.
Aos 5 anos, segundo mãe, Juanito foi estudar em uma escola particular. Lá, as professores disseram para mãe que Juanito tinha dificuldades visuais e escrevia com as duas mãos perfeitamente, inclusive numa mesma linha, dando continuidade ao assunto e desenhava de ponta cabeça todos os desenhos.
Diante desse quadro, a mãe de Juanito achou que fosse uma fase escolar, de aquisição de aprendizagem, e por isso, não deu tanta importância.

Aos 7 anos, Juanito, na 1a. série , depara-se com as estagiárias da escola da rede estadual de
ensino e estas alegam para mãe ele tem escrita espelhada. Informaram-na que ele troca letras, escrevia ao contrario, apresentava dificuldades na escrita, no entanto, aprendia todo conteúdo mas nas provas escritas, não conseguia notas por não conseguir interpretar e passar para o papel aquilo que entender os textos, no entanto, assegurava, a mãe, se as provas fossem orais, o rendimento seria, decerto, nota 10.

São dezenas de relatos dessa natureza que diariamente tenho recebido, lido e analisado. E isso me levou a preparar, na verdade, a adaptar uma proposta de protocolo informal para o diagnóstico da dislexia pedagógica, isto é, que resulta, em grande parte, do modelo ou metodologia adotada pela escola para o ensino de leitura. Baseia-se a proposta em os critérios de exclusão, como baixo Q.I, privação cultural e método ruim de ensino da leitura na escola. Uma criança, com retardo, por exemplo, tem dificuldade de ler porque é retardada, mas suas limitações estendem-se para outras atividades da vida cotidiana.

Vicente Martins é professor da UVA, em Sobral, Estado do Ceará. E-mail: [email protected]
Autor: Vicente Martins


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