Por quilo. E por que não por página?



Perdi um colega.

Não, não, ele não morreu. Eu o encontrava na academia que freqüento e hoje soube que não virá mais. O motivo: por ir somente duas vezes por semana, pediu desconto na mensalidade e a academia negou. Com diversas opções próximas no bairro, resolveu mudar de academia.

Conheço todas as academias na região e sei que a que freqüento tem o melhor preço (além da facilidade de ser na esquina do quarteirão onde moro e só ter gente legal - e modesta). Meu colega deve ter trocado não por ter encontrado mensalidade menor, mas por ter ficado chateado com a negativa de desconto. Provavelmente pensou que, após tantos anos assiduamente pagando pelo "mês cheio" e utilizando os serviços apenas uns oito ou dez dias no mês, poderia merecer alguma atenção especial.

Esse exemplo pontual mostra como ainda estão distantes da prática diária tudo o que se lê sobre segmentação, CRM, fidelização de clientes, customização e outras que, infelizmente, vagam entre a ficção científica e utopia para a maior parte das empresas.

Lembro que uma academia na região do Morumbi que instituiu planos como os de telefones pré-pagos. O aspirante a atleta comprava um crédito de, digamos, 25, 50, 100 ou 150 "entradas" na academia (com descontos progressivos), controlada por carteirinha com código de identificação do aluno. Ao atravessar a roleta, passava o cartão e o sistema debitava sua entrada. Desse modo todos podiam pagar o mesmo valor por aula. A quantidade de vezes que cada um freqüentava a academia por mês é que ditava quando o aluno deveria recomprar créditos, ou melhor, entradas.

Apesar de não ter feito contas, me pareceu um sistema justo e se a academia que utilizo tivesse um sistema assim teria evitado a perda de um cliente. Ajustes nos planos de contas da academia talvez fossem necessários, provavelmente alicerçados por um replanejamento e estudos de progressão e cenários, mas acredito que daria certo.

O mais importante é perceber que mais e mais clientes desejam pagar somente por aquilo que usam, como o sucesso dos celulares pré-pagos no país claramente evidencia. Aliás, nessa linha estão também os restaurantes "por quilo". O correto é "por peso", mas o que importa é o conceito.

Mas não são apenas pequenas empresas ou academias de bairros que sofrem dessa miopia. Há exemplos que me dão arrepio. Algumas das mais prestigiadas publicações sobre gerenciamento como a Harvard Business Review e HSM Management, que publicam diversos artigos com o state of the art do marketing mundial, também andam precisando de óculos.

Viciado na leitura de artigos de marketing, volta a meia fuço a internet atrás de novidades e acabo indo parar, por algum link, numa dessas publicações. Quando tento ler o artigo surge o indefectível convite a assinar a revista. Já fui assinante das duas e confesso que, como meu colega de academia, me incomodava pagar pela revista toda e ler apenas um ou dois de seus artigos.

Sim, concordo que é burrice minha, que deveria ler as revistas de capa a capa pois trazem o supra-sumo dos pensadores em diversas áreas que englobam nossa vida corporativa, mas há o inexorável fator tempo envolvido. Se não precisasse tomar banho, trabalhar o dia todo, comer, dar um mínimo de atenção à esposa e dormir 5 horas por noite talvez tivesse mais tempo para ler, mas não é o caso. Preciso filtrar, escolher o que ler e, assim, um ou dois artigos de uma, um ou dois de outra, pronto, acabou meu tempo para leituras.

Outra coisa me incomodava (e ainda incomoda): por que não há a possibilidade de assinar uma edição virtual, dispensando a impressa? Mais: por quê não há a opção de pagar somente por artigo lido?
Mesmo a excelente InfoExame, nacional e voltada às questões informáticas, "internéticas" e eletrônicas não nos dá essa possibilidade.

Essas publicações, que através de seus articulistas divulgam as mais recentes teorias sobre marketing, segmentação, CRM e outras, não as colocam em prática. A maior publicação nacional sobre o universo digital ainda se baseia e sustenta na venda de sua versão impressa.

Não me lembro de melhor lugar para usar o ditado "casa de ferreiro, espeto de pau".

Seus representantes se defenderiam dizendo que ao assinar a versão impressa o assinante tem direito ao acesso completo à versão eletrônica. Oras, isso é o mínimo, não? Meio lusitano também (perdão patrícios d'além mar, é uma expressão politicamente incorreta mas se encaixa no contexto). Se posso ler na tela, salvar para ler depois ou imprimir, não preciso da impressa nem pra calçar pé de mesa.

Assim como na tal academia do Morumbi, os restaurantes "por quilo" e os telefones pré-pagos, poderíamos (deveríamos poder) assinar tais publicações comprando créditos. Eu poderia adquirir crédito para leitura, pela internet, de um certo número de artigos por semestre. Um sistema simples faria a contagem de quantos artigos acessei, não cobraria quando eu voltasse no mesmo artigo, me avisaria para "recarregar" antes de meus créditos acabarem, etc., etc.

Existem muitas pessoas que preferem ler no papel. Precisam da sensação física de lamber o dedo para virar a página. Um outro monte de gente e eu, não. Somos, provavelmente, parte daqueles que colocam o Brasil no primeiro lugar em tempo de navegação na rede.

Detalhe importante: ao dispensar a versão impressa e assinar somente a eletrônica o leitor dispensa também os custos de impressão, logística de armazenamento e distribuição. Portanto, os valores para estes deveriam ser bem inferiores aos da versão física.

Talvez exista o receio de que, como ocorre com a música, haja distribuição indiscriminada dos artigos entre não-pagantes. Bem, esse é um problema para o pessoal de tecnologia resolver. Certos tipos de arquivos não permitem copiar a tela, já vi isso (tentei copiar um arquivo de um site e abriu um pop up dizendo que não era permitido).

Assim como no caso das academias, não fiz contas pra saber se estou propondo coisa de maluco ou se descobri o fogo, a roda, até porque não tenho dados para fazer tais contas.

Idea killers de plantão irão refutar essas idéias de imediato. Mas minha esperança está naquele que, de curioso e com algum tempo criativamente ocioso, resolverá fazer umas continhas, umas projeções, mostrará "sua" idéia ao seu chefe, que mostrará "sua" idéia ao seu superior e, quem sabe um dia (que não seja muito distante pois já não sou tão jovem assim) eu possa escolher o que ler e pagar somente por aquilo que consumi.



Luís Henrique de M. Paulo
Autor: Luís Henrique de Mendonça Paulo


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