TRÁFICO DE LIXO NO MUNDO



Há diferentes motivações que me levam a escrever um artigo e, quando envolvem as questões ambientais, escrevo mais motivado, uma vez que alertar as pessoas para os problemas ambientais é um comprometimento com a continuidade da vida. Também costumo escrever com a intenção de transmitir o conhecimento e os conceitos éticos que aprendi através de estudos ou mesmo simples leituras. Acredito que o homem tem que ser um multiplicador e transmissor de idéias e de conhecimento.

Decidi escrever este texto, a partir de uma leitura que fiz, tempos atrás de uma matéria da revista Eco Spy Brasil (Ano 2, no. 6, edição de set. e out./2006) – aliás, ótima matéria – que tratava do tráfico de lixo no mundo. Confesso que fiquei espantado com o que li.

Falar de lixo é sempre estar tocando no problema que parece não ter solução. Pelo contrário, a humanidade tem produzido cada vez mais lixo e o problema tem se tornado maior.

Mesmo para os olhos dos mais otimistas, há um consenso que os países ricos têm ampliado o consumo e, conseqüentemente, gerado mais lixo. Entretanto, o que se pode fazer com montanhas de lixo cada vez maiores? Onde colocar tanto lixo? Em se tratando de países da Europa que, normalmente, possuem extensões territoriais pequenas, onde irão acomodar seus descartes cada vez mais crescentes? Qual é a solução mais barata e prática para esses países?

Tem ocorrido uma rápida expansão no tráfico internacional de lixo. Essa modalidade ilegal coloca a saúde de todos em risco, já que, de uma forma geral, o lixo que é traficado é lixo, existindo ainda o tóxico e o lixo radioativo. Para terem êxito nesse “negócio sujo”, muitas vezes, eles mascaram o lixo na forma de material reciclável que está sendo importado por algum país pobre ou emergente. Já houve registros de carregamentos de lixo para países da África, do sudeste asiático, México, Chile, Bolívia, Argentina e Brasil.

Isso ocorre em razão de a legislação ambiental da Europa ter amadurecido e endurecido quanto à produção e à disposição de lixo. Para não perderem a competitividade, grupos criminosos encontraram soluções rápidas e baratas, despachando seus resíduos para outros países com pouca ou nenhuma legislação ambiental e até mesmo para o fundo do mar. O lucro líquido desse negócio tem crescido de 30 a 40% ao ano no mundo.

Para termos um comparativo de negócios ilícitos (levantamento europeu), no ano de 2003, o tráfico de lixo rendeu 15 bilhões de euros, contra 100 bilhões de euros do tráfico de drogas, 5 bilhões de euros da pedofilia, 290 milhões de euros do tráfico de armas.
No entanto, isso não é novo. Esse problema já havia sido levantado em 1989, na Convenção da Basiléia (onde criou o acordo que proíbe a exportação de lixo tóxico dos países ricos para os países pobres e emergentes). Em 2000, na abertura da Convenção de Palermo, o então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, também alertou para a existência desse negócio ilegal bilionário que estava crescendo ano a ano.

Sabe-se que é complicado combater esse negócio em razão de movimentar bilhões de euros. A matéria da revista apresenta números interessantes: Para eliminar um quilo de lixo perigoso, no mercado legal, o valor do quilo é de 1 dólar. Já nos negócios sujos e ilegais, os traficantes cobram 10 centavos. Para alcançar os objetivos, essas empresas ilegais usam de todas as artimanhas como desviar rotas, falsificar notas, utilizam-se de navios pesqueiros para jogar o lixo no mar, trocam de nomes entre outras.

Para encerrar, vamos refletir sobre essas ações individualistas e nada ambientalistas dos países desenvolvidos e fechar o texto com os seguintes questionamentos: Será que a África, o sudeste asiático e até mesmo o Brasil são considerados os latões de lixo dos países desenvolvidos? Aliás, o latão de lixo tóxico e radiativo (aquele que causa surtos de doenças) dos países desenvolvidos? Cabe o alerta de que não há meio ambiente individual, esse é um problema que pode prejudicar todo o mundo!

* Marçal Rogério Rizzo: Economista, professor universitário, especialista em Economia do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas/SP. (UNICAMP), especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras/MG. (UFLA), mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Campus de Presidente Prudente (SP).
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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