Os Professores e a Residência Pedagógica
*Prof. Maurício Apolinário
Em minhas palestras para professores que venho fazendo em escolas públicas, particulares e faculdades, tenho enfatizado a necessidade de um estágio consistente e prática para estudantes de Pedagogia e licenciaturas, a exemplo do que ocorre com a residência médica. Agora, vemos que tramita no Senado um projeto do ex-ministro da Educação no governo Sarney (que ficou apenas um ano no cargo) (1) e então Senador Marco Maciel. O Projeto prevê a residência pedagógica para os habilitados em Pedagogia que, “sob a supervisão de profissionais mais experientes, passarão por uma especialização obrigatória na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental”. Para as demais licenciaturas, a residência é facultativa (2).
O Projeto é bom (e deveria ter sido implantado quando seu autor foi Ministro da Educação em 1985), haja vista que exige 800 horas contra 300 do antigo estágio; entretanto, começa com duas grandes falhas: a primeira, a residência é para os habilitados, enquanto que deveria ser iniciada ainda no último ano; a segunda, a não-obrigatoriedade para as demais licenciaturas, como se não houvesse necessidade de professores de Português, Matemática, Ciências, Geografia, História, Física, Química, Biologia, entre outras, de se fazer um estágio prático bem feito, já que o próprio Marco Maciel afirma que “a residência pedagógica permitirá uma convivência maior” do futuro professor “com a escola, com os alunos e com o cenário” em que vai atuar (3).
Os estudantes de cursos de licenciatura necessitam e muito de uma residência por dois motivos: o primeiro é que as faculdades não formam professores de fato; o segundo é que boa parte desses estudantes está ali por falta de opção ou necessidade de um curso superior. Sem se levar em consideração esses dois fatores, a execução simplificada do Projeto deixará uma lacuna imensa na Educação Básica, gargalo que precisa ser tapado por uma ação de impacto e extremamente prática. As faculdades repassam apenas informações aos seus alunos, não gerando conhecimento e nem o canalizando a uma experiência pedagógica pautada na realidade de nossas escolas.
Além do mais, se não houver uma parceria séria e concreta entre as faculdades que formam professores e as escolas (de preferência públicas) – e aqui entram as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação -, onde os novatos se iniciarão no magistério, em que se crie “uma cadeia de colaboradores e responsabilidades para incluir os residentes na equipe e garantir a qualidade da formação” (4), deixando de lado ciúmes, picuinhas e filosofias político-partidárias, o projeto mal sairá do papel. E não apenas isso, mas também uma participação efetiva dos professores veteranos (membros de uma classe desunida e participantes de uma cultura resistente) e dos estudantes/residentes.
Referências:
(1) GHIRALDELLI JR., Paulo. “História da Educação Brasileira”. São Paulo: Cortez, 2006.
(2) DIDONÊ, Débora. “Por uma formação inicial com mais qualidade”. In. Revista Nova Escola nº 204. São Paulo: Editora Abril, 2007.
(3) Idem.
(4) Idem.
* Prof. Maurício Apolinário
é autor do livro “A arte da guerra para professores”
Autor: Prof. Maurício Apolinário
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