Civismo fajuto



Uma coisa que eu sinceramente não entendo é o tal civismo de cantar hino, cultuar a bandeira e assistir a desfiles militares. Eu mesmo nunca apreciei essa coisa de "atos cívicos". Ainda mais pelo dilema que eu iniciei: em quê esse tal civismo faz de diferença ao Brasil?

Diz o Priberam, um dos únicos dicionários de língua portuguesa gratuitos da internet, sobre civismo: s.m. dedicação pelo interesse público, pela pátria; patriotismo. Não entendo... o que dedicar-se verdadeiramente ao interesse público e a pátria tem a ver com hino, culto à bandeira, torcer pelo desempenho brasileiro em eventos esportivos internacionais? O que essas coisas fazem de diferença ao país, ao desenvolvimento da pátria? Me digam, cívicos e nacionalistas ufânicos de plantão: o que cantar hino traz de investimento, em obras públicas, em saúde/educação/segurança/etc., ou em atividades filatrópicas de ONGs ou pastorais? Quantos miseráveis, quantas crianças famintas foram beneficiadas pelo ato de assistir ao desfile de 7 de Setembro de uma réplica de exército do século XIX - com direito a mosqueteiros devidamente uniformizados, dragões da independência, etc.? Cantar hino e torcer pela seleção já alterou algum aspecto da situação dos males do Brasil? Se você conhece alguém que foi beneficiado por esse tipo fajuto de civismo, me mandem um e-mail.

Dizem que cantar hino, assistir ou participar de desfiles militares, torcer pro Brasil na copa, essas coisas, são atos de amor à pátria. Mas tenho visto ao longo de minha vida que é o único "ato de amor a pátria" da grande maioria dos brasileiros. Aliás, é o único "civismo" que as escolas ensinam, desde épocas remotas. Repito a essa massa as perguntas feitas logo acima. E indago: o que esses atos têm de superior aos atos de trabalho voluntário, ativismo, doação de recursos - dinheiro ou equipamento - para quem ajuda os que precisam? E por que as escolas pouco ou nada ensinam o verdadeiro civismo, a verdadeira dedicação ao interesse público e pátrio, que é justamente o que eu acabei de citar (trabalho voluntário, ativismo, doação de recursos)? Por que não se referem a esses atos tão nobres como civismo propriamente dito, em vez de hino, saudação à bandeira, desfiles militares e outras coisas do tipo que crianças e adolescentes só fazem e chamam de atos cívicos porque são obrigadas pela escola?

Temos que mudar essa antiquaria nas escolas e na sociedade. Vamos mudar o conceito que temos de ato cívico. Em vez de simplesmente cultuar símbolos referentes a um pedaço de terra como se fosse uma religião obrigatória, vamos mostrar que civismo de verdade é trabalhar pela pátria, dar o sangue civilmente por ela, lutar para erradicar esses flagelos de miséria, corrupção, violência, desmatamento e poluição, etc. Em vez de apenas cantar o hino achando que isso é suficiente pra "amar" a pátria, vamos cuidar dela. Esse é o verdadeiro civismo que o Brasil pede.
Autor: Robson Fernando


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