Madagascar: o filme - do conforto do emprego à selva do empreendedorismo.



* Maria Bernadete Pupo
Este filme nos permite fazer analogia com o conforto do emprego x empreendedorismo. Podemos fazer um comparativo do processo de transição por que todos passamos quando saímos de um ambiente de conforto – emprego (zoológico) no qual as condições nos são altamente favoráveis para um ambiente selvagem no qual as condições não podemos controlar - deixar de ser empregado de uma empresa para tornar-se empreendedor.
A história gira em torno de quatro personagens que, além de engraçados, são muito unidos e demonstram desde o início até o fim o espírito de equipe, a união, o respeito e a sinergia. O leão Alex é típico empregado de multinacional que se julga o máximo sem se dar conta de que grande parte da sua motivação se deve às condições favoráveis que a empresa cria (literalmente o glamour, luzes, câmera, ação). O leão Alex é do tipo empolgado, feliz, todo motivado e que gosta de dar conselhos aos outros, de como agir e galgar postos dentro da organização. Ele é e se sente a estrela do time.
A zebra Martin tem o desejo de sair da rotina, mas se vê limitada pelo ambiente em que vive: o zoológico. Ela tem o espírito empreendedor, faz o melhor que pode no trabalho, embora não se empolgue muito com o sistema da empresa. É do tipo que se vê limitada pelas circunstâncias nas quais a empresa a coloca, mas, por forças exteriores,- os pingüins - a Zebra Martin acaba mostrando novos horizontes aos amigos. A hipopótama Glória é do tipo que não questiona muito a respeito da natureza das coisas, mas está sempre disposta a resolver problemas do momento. Trabalha bem e curte a vida e o que mais poderia querer? A girafa Nelman é aquela que detém conhecimento sobre muitas coisas, mas é hipocondríaca e tem medo de tudo; depende sempre de alguém para motivá-la. O perfil desses quatro personagens pode ser encontrado em qualquer empresa.
Toda a aventura começa quando a Zebra Martin toma a iniciativa de conhecer novos horizontes que vão para além do zoológico. Ela quer conhecer seu próprio potencial na selva, tal como um empreender deseja conhecer seu talento lidando direto com o mercado.
O Rei Alex , acomodado e feliz com sua situação de conforto, resiste à idéia de se aventurar na selva porque entende que não há nada de errado com o zoológico, tal como muitos que não vêem nada de errado em seu emprego. Segue as regras, recebe salário, cumpre seu horário e faz sua parte.
O fato é que o Leão Alex, tal como muitos de nós, só se sente o maioral quando está em um ambiente controlado e confortável. Quando estamos num ambiente assim nós também rugimos, nós também exibimos nosso cartão de visita; tornamo-nos auto-confiantes e muitas vezes sentimo-nos como se fôssemos o rei da selva. Claro que não podemos dizer que a Zebra Martin seja um exemplo de empreendedorismo. Ela mal sabe o que é de fato a selva, mas ela entende que é possível explorar novos horizontes. Isso lhe confere uma qualidade que é fundamental no empreendedor: a ousadia. Os outros dois personagens são levados pelos eventos, no entanto há um claro conflito entre a Zebra Martin e o Leão Alex a respeito de segurança-emprego, versus ousadia-empreendedorismo. Quando, por uma série de circunstâncias, os dois se vêem na selva, a divergência começa a ficar ainda mais séria. O leão Alex, tal como aquele que se acostumou a lidar apenas com situações da qual têm o controle total, sente-se inseguro e raivoso. A zebra Martin se sai bem melhor, pois ela demonstra alto grau de flexibilidade e se adapta rapidamente às situações inovadoras e inesperadas. Enquanto isso, o leão Alex procura remediar a situação buscando formas de voltar à segurança - a do zoológico. A zebra Martin já se adapta à selva e se acomoda. Em pouco tempo, a insegura girafa Nelman e a disposta hipopótama Glória, que antes haviam tomado partido pela volta da segurança-zoológico, aderem pela opção inovadora – a da selva.
O leão Alex tenta se adaptar, no entanto seu instinto começa a aflorar. Ele não consegue viver sem se alimentar de carne. A carne pode ser entendida como segurança do conforto - a de um bom salário mensal. Tanto a zebra Martin, quanto a girafa Nelman e a hipopótama Glória podem se adaptar às novas condições financeiras momentâneas, mas o leão Alex tem muita dificuldade, chegando até a colocar em risco a vida dos melhores amigos, querendo devorá-los. Neste caso, podemos comparar essa passagem à vida selvagem que muitas vezes enfrentamos em nosso ambiente de trabalho. Do ponto de vista do empreendendor, podemos comparar este ambiente selvagem, às dificuldades inerentes à competitividade no início de um negócio.
O leão Alex, não atendido em suas reivindicações - salariais-materiais, começa a se isolar e a ficar deprimido. Ele já não consegue ser o mesmo motivador de antes, diante da situação de escassez. Após um período de reflexão, decide mudar e nos dá a demonstração de quebra de paradigma ao abrir seu coração ao mudar a visão de mundo, chegando ao ponto de declinar do bife – seu principal alimento – emprego x salário, em favor do sushi – outras formas de trabalho.
Todos os efeitos colaterais de um empreendedor, no começo de carreira, podem ser vistos metaforicamente nas transformações do Leão Alex. O medo da transição da segurança para a ousadia.
No final, há uma lição notável para todo o empreendedor: o sucesso não depende apenas do instinto (Alex era um leão), mas sim da equipe que está a sua volta. Você pode não achar importante um funcionário zebra porque é ingênuo, ou um funcionário girafa porque é medroso, ou mesmo um funcionário hipopótamo porque não faz reflexão, mas na hora das dificuldades são esses que podem lhe auxiliar a tomar o rumo certo.
O Rei Alex, tão resistente a tudo, encerra a cena, demonstrando alegria e satisfação ao olhar para trás e dizer: sabe que eu iria gostar de voltar aqui outra vez? Já que é inverno em Nova York, vamos conhecer outros lugares? Demonstra então que geralmente só damos valor às coisas quando a perdemos, ou seja, embora estivesse no seu habitat natural ele resistiu, não curtiu, não viveu os momentos bons, podendo ter fechado portas, como ocorre conosco quando somos resistentes às mudanças.

*Maria Bernadete Pupo é consultora e gerente de RH do UNIFIEO),professora universitária da FAC-FITO, ambos em Osasco (SP), e autora do livro “Empregabilidade acima dos 40 anos” (ed. Expressão & Arte)- contato: [email protected]
Autor: Maria Bernadete Pupo


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