A Encruzilhada do Econômico e Ambiental



Autor: Marçal Rogério Rizzo*

O recente estudo divulgado pelo Painel Interministerial sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que os impactos do aquecimento global podem ser dramáticos.

De certa forma será injusto, pois estudos revelam que os efeitos das mudanças climáticas serão sentidos, mais profundamente, pelos mais vulneráveis que, sem dúvida, são os menos responsáveis por esse problema.

Entretanto, cabe lembrar que esse não é o único problema ambiental que o mundo atravessa. Vemos que há problemas relacionados com a contaminação da água, do solo, do ar e a extração indevida e excessiva dos recursos naturais.

Esses problemas vêm ocorrendo há séculos, já que prioridades da sociedade são o lucro e a expansão econômica. A conservação do meio ambiente não é colocada em prática, não é pensada, nem mesmo debatida como deveria. Parte dos governantes, dos tomadores de decisão e dos detentores de capital, em especial os norte americanos, se omite, quando o assunto é meio ambiente e continuam privilegiando o lucro e a exploração do mesmo.

Sabemos que o choque entre o econômico e o ambiental é inevitável. De um lado, vem a economia que necessita de crescimento e expansão, criando novas necessidades e desejos nas pessoas, usando o marketing e a propaganda para “iludi-las” e torná-las sempre carentes por algo, até mesmo reféns do consumismo ocidental.

Entretanto, para que haja essa expansão, é necessária a extração de recursos naturais, matérias-primas, uso de recursos hídricos, consumo de combustíveis e energia.

Na contramão da economia, surge a busca pela preservação ambiental, defendendo o uso racional dos recursos naturais e da energia. Porém, para que isso ocorra, é necessário “pisar no freio” da economia.

Mas, como fazer isso, se vivemos num mundo capitalista? Por outro lado, como deixar de fazer isso, se os recursos naturais e a energia são escassos? Até quando o meio ambiente do Planeta Terra irá suportar as pressões do capitalismo?

É inegável e inevitável que a humanidade deva refletir sobre qual o caminho a ser seguido. Estamos em uma encruzilhada, diante de um paradigma que deve ser superado.

Gilberto Dupas, nas páginas da Folha de São Paulo (23/10/2007), cita Joan M. Alier, onde identifica quatro correntes que buscam defender a interação homem-meio ambiente, sendo elas: os ecologistas profundos, os ecoeficientes, os ecologistas sociais e os antiecologistas. Cada uma delas tem um modo de interação e um objetivo.

Iniciamos com os ecologistas profundos que, segundo Dupas, são “os cultivadores da vida silvestre e do amor aos bosques primários e cursos d’água, julgam imperiosas as ações que visem a preservar o que sobrou da natureza original fora da influência do mercado”.

Já os ecoeficientes “temem os efeitos do crescimento econômico sobre as áreas nativas e os impactos ambientais ou riscos à saúde decorrentes da industrialização, da urbanização e da agricultura moderna”. Esta corrente acredita no desenvolvimento sustentável.

Os ecologistas sociais são “adeptos da justiça ambiental ou do ecologismo dos pobres, alertam para os impactos da degradação do meio ambiente sobre excluídos e para o deslocamento geográfico das fontes de recursos e das áreas de descarte dos resíduos em direção aos países periféricos”.

A corrente antiecologista defende o crescimento econômico de curto prazo, mas, para que isso ocorra, partem para a arena política, pressionando os governos. Na realidade, hoje há uma luta política e econômica dessa corrente que coloca, no centro da discussão, a necessidade de geração de empregos, renda e impostos. Essa corrente conta com um forte apoio do setor privado.

O que devemos deixar bem claro neste artigo é que há uma urgência na busca de ações para a preservação, pois o meio ambiente não pode esperar e ficar assistindo à “briga” dessas correntes ideológicas. Estamos nos referindo a dar e ter condições de manter a vida, ou seja, respeitar os limites do Planeta Terra.

O período em que acreditávamos que existiam recursos naturais em abundância acabou, no entanto, se teimarmos em manter esse modelo de exploração e acumulação de capital, iremos pôr a continuidade da vida em risco.

Já é comprovado e amplamente divulgado que todas as catástrofes ambientais que nos assola têm como causa a ação humana e a única opção sensata é mudar esse modelo econômico. Não podemos perder a oportunidade de compartilhar na busca de mudanças para esse modelo.

* Marçal Rogério Rizzo: Graduado em Ciências Econômicas , Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas/SP (CESIT/IE/UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras/MG (UFLA), Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas/SP (IE/UNICAMP) e doutorando em Geografia na área de Dinâmica e Gestão Ambiental pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP) – Campus de Presidente Prudente/SP.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


Artigos Relacionados


O Mundo E O Meio Ambiente

Precisamos De Mudanças Urgentes

Eleições Versus Meio Ambiente

Ecoturismo – Uma Atividade Que Deve Implementar O Desenvolvimento Sustentável

Colapso Hídrico

O Consumismo, O Meio Ambiente E A Violência

GestÃo Ambiental