ÚLTIMO SUSPIRO



Em um barraco qualquer da favela uma linda mulher ainda menina -moça avalia seus dotes diante do espelho sonhando com a fama sem que note o que acontece ao redor.
O batom vermelho na boca é toda a maquiagem que usa.
A sandália de salto, a calça marrom e uma blusa de renda branca com um degote generoso contornam seu corpo de curvas perfeitas que arranca suspiros de qualquer cidadão comum.
O mundo lá fora continua na mesma rotina com o zum-zum-zum de sempre, com o corre-corre, com o barulho de tiros no alto do morro, com alguém gritando por socorro na esquina, uma cena comum para aquela menina, pois na favela quem mata quem morre é só um detalhe, esse é o retrato da violência local, ela avista isso diariamente de sua janela.
Passista da mangueira ela é verde-rosa desde que nasceu, seu sonho dourado é ser porta-bandeira da escola, desfilando na avenida ao lado do namorado
Sobre a cama a fantasia para o teste da manhã seguinte está preparada, por isso a menina sonha acordada.
A vida na favela é um saco sempre a mesma rotina, e de repente um tiro de fuzil disparado a esmo pelo traficante, só para experimentar a arma, uma bala perdida que atravessa a janela do barraco e atinge aquela menina-moça, manchando sua blusa de renda branca que ganha o tom de vermelho sem que ninguém ouça o ultimo suspiro que ela dá diante do espelho.
Autor: Salvador Mario Camphora


Artigos Relacionados


Sonha Que És Feliz

Menina-moça

Rosa Divina

Esquina Do Crake

A MoÇa De MemÓria Falsa

Sou Menina

Hemorragia Da EsperanÇa