Sem hipocrisisa!



Estava em dúvidas sobre o que escrever. Pensei que talvez pudesse escrever sobre o dia de hoje, mas depois de algumas palavras bem escritas, elas pararam de surgir. Então desisti desolada. Pensei em escrever uma carta a Deus, mas já tinha feito isso hoje e meus argumentos estavam tornado-se repetitivos. Tive medo Dele se cansar. Então pensei em escrever sobre minha profissão. Sobre a vontade que me faz seguir como professora. A fé que meus pupilos se tornem homens de bem, com senso de cidadania e vontade de mudança. Aquela vontade pela qual me apaixono todo dia, vontade de viver em um país melhor. Mas se eu fosse falar sobre isso acabaria falando de política, coisa que eu não gostaria, pois me remete a nossa atual apatia, e me revolto. É por isso que dou aulas. Não pela revolta, mas pela esperança. Esperança de moldar uma sociedade melhor, composta por homens éticos, com caráter e engajados na vida de sua sociedade, com a consciência de que é diretamente responsável por aquilo que acontece com ela. Mas não logrei êxito. Apesar da paixão, faltaram-me palavras. Foi quando pensei em falar de música. Não seria muito bom. Afinal, penso que não se faz mais música boa nesse país. O povo tem mais escola, porém menos conteúdo. Não seria bom que eu falasse de música, porque acho que nossa febre cultural passou junto com a ditadura. Eu poderia ofender alguém. Prefiro me calar. Mas eu ainda gostaria de escrever. E nada melhor do que um tema abrangente como a mídia para explanar. Notícias como o “menino que invadiu a casa em chamas para salvar uma pequena criança achando que realmente era o homem aranha” ou ainda, “a mulher que foi assassinada após dizer um não a um pedido de casamento feito em um programa de tv”. É melhor que eu não fale. Porque não poderia me calar diante da hipocrisia da dos meios de comunicação, que são capazes de humilhar, condenar antes mesmo que a justiça, influenciar, e expor, e ainda, se dizem vítimas do sistema! Oras, que ridículo. São eles quem criam o sistema, ou pelo menos o manipulam. Não sou contra progresso e globalização, mas não posso simplesmente fechar os olhos e ignorar os malefícios que a mídia traz, principalmente quando os pais já não colocam limites em seus filhos. Crianças moldadas por canais. Homens mecanizados com sentimentos televisivos e idéias globais. Melhor não falar sobre a mídia. Vamos falar de moda. Não! Muito fútil! De carros? Muito poluentes. Talvez vocês me achem muito crítica. Mas hoje decidi não escrever, justamente porque sei, que hoje, não conseguirei “tapar o sol com a peneira”, e ver o lado bom, sem ao menos apontar os estragos que ele pode fazer. Não posso fechar os olhos para a função social da escola, e para a minha função social, para a função social do Estado. Não posso simplesmente ignorar a ausência de explicação para o emprego do dinheiro da CPMF, ou o aumento de mortes nas estradas em razão da péssima manutenção prestada pelo Estado, toda falta de leito e UTI nos hospitais brasileiros, ou ainda, a precariedade das escolas, a falta de vagas e a baixa qualidade do ensino, não consigo ignorar político corrupto, o crescimento do tráfico e a marginalização da polícia. Hoje eu não vou escrever, já que não vou conseguir ser hipócrita.
Autor: Aline de Freitas Queiroz Louzich


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