Não Contrate Preguiçosos



- Viu? Olha lá! – fez apontando para uma pilha de exemplares na livraria – ... o cara tá falando pra contratar gente como eu!

Sim, eu sei que tem gente preguiçosa que viu o título do livro e encontrou a justificativa pela qual esteve esperando a vida inteira. E aí, relaxou.

Gente que não se deu ao trabalho (trabalho? Cruz credo!) de pegar o livro na mão, de sequer ler o sub-título ou a mensagem na contracapa.

Nem abriu o livro. Não leu os comentários nas orelhas, a apresentação dos editores, o prefácio, nem minha introdução.

Todos textos simples, pequenos, produzidos porém com muito cuidado e com muito esforço (esforço?! Cruz credo!) para esclarecer rapidamente um leitor interessado.

Não! Ia dar muuuuuuito trabalho. O livro é muuuuuito pesado: duzentas e vinte e quatro gramas. U-fa!. Ler caaaaaansa. Mais fácil é tirar conclusões só pela capa. Menos. Só pelo título.

Concorda comigo? Você também não conhece gente assim? Incapaz do menor esforço. De mover um músculo. De usar meio neurônio. Fazer qualquer pequeno movimento para crescer, se desenvolver, para cumprir com as suas obrigações, para atender como deve as necessidades dos outros?

Gente como:

Aquele médico que em vez de se manter atualizado e fazer exame clínico mais rigoroso: apalpar, auscultar, medir pressão, levantar o histórico do paciente. Mal você começa a descrever os sintomas, já sai prescrevendo uma lista immmmensa de exames cujo custo, obviamente, é problema seu.

Apenas para receber os resultados todos bonitinhos, já com os numerosinhos do lado dizendo se você está ou não dentro da faixa saudável. Coisa que, convenhamos, nós leigos, conseguimos sozinhos.

Aquele professor que dando a mesma matéria há anos, nunca preparou uma aula, não leu sequer um capítulo daquele único livro que indicou para a classe para o semestre inteiro e foge do batente transferindo aos alunos a responsabilidade de dar as aulas, pseudo-promovidas a Seminários.

Aquele aluno que só pensa em passar, não em aprender. Só quer diploma, canudo. Não cultura, discernimento, sabedoria, capacidade de ajudar o próximo. Não assiste aulas. Em vez disto é mestrando em botecologia, cevada gelada e papo furado. Investe dez milhões de dólares por mês em xerox do caderno dos colegas e só tem energia para ficar pulando de grupo em grupo para meter sua assinatura no trabalho dos outros.

Aquele fornecedor que reclama do esfriamento do mercado, da retração acentuada da curva de demanda, mas não retorna recados deixados com a pobre da secretária com calo na orelha de tanto ouvir reclamação de cliente. Prestador de desserviço. Caro, mal feito, com defeito.

Aquele palestrante que copia palestra bonita de “famosão estrangeiro” mas nem se dá ao trabalho de compreender as ilustrações sobre beisebol nem de adaptá-las à cultura dos ouvintes. Palestrante especialista em mudar nome de palestra, cujo conteúdo é sempre o mesmo, independente da audiência ou dos objetivos do evento.

Aquele juiz que não se dá ao trabalho de ler os autos (muitos detalhes, muitas páginas, muitos volumes) e dá ganho de causa para a parte errada.

Aquele advogado que promete que vai nos defender mas que só se esforça mesmo para defender o dele.

Aquele político que entope o gabinete de gente para trabalhar para ele que trabalha tão pouco quanto ele.

Aquele atendente que responde “não é comigo” quando você pede uma informação, ou “é assim mesmo, não posso fazer nada” quando você tenta argumentar. Atendente que esquece que quando o problema é com ele reclama indignado do atendimento recebido.

Aquele motorista que pára em vaga de deficiente “só por um minutinho”, porque não quer se cansar procurando vaga nem andando 20 metros, mas obriga cadeirante tomar chuva.

Aquele governante que diz que trabalha para resolver os problemas do povo mas que nunca soube ou já faz muito tempo que esqueceu o que é ser povo e o que é trabalhar, e descansa enquanto usufrui do ar-condicionado, dos banquetes, das viagens e de tantas outras mordomias do poder.

Aquele candidato que repete sempre o mesmo discurso, as mesmas promessas e que adora palanque porque o deixa longe e acima do povão. Candidato que está louco para ganhar a eleição, para encostar o burro na sombra, o parente no gabinete, o filho na estatal e o carrinho de mão na boca do cofre.

Aquele jornalista que é excelente para escrever manchete sensacionalista, mas não bate perna, não esquenta a orelha no telefone para checar as fontes, não pesquisa a fundo antes de expor um inocente à execração pública.

Aquele artista que não se esforça para transmitir uma influência positiva, não se importa com a mensagem que representa, não quer saber das conseqüências do mal exemplo dado para seus fãs. Quer só fama e grana.

Aquele funcionário público que reclama que ganha pouco, mas esquece que ganha muito comparado com a falta de atenção e o serviço mal prestado ao público.

Aquele funcionário privado que reclama que ganha pouco, mas esquece que ganha muito comparado com a falta de atenção e o serviço mal prestado ao cliente (e ao patrão).

Aquele colaborador que não colabora, se encosta, se esconde, que só participa de reunião, que tem desculpa para tudo, “não fui eu.... não fui eu” e não foi mesmo, nunca é. Não faz nada, não cria nada, não se prepara, não se desenvolve, não se esforça. Vale muito menos do que pesa.

A respeito desses todos, digo claramente: não os consulte, não os (re-)eleja, não os contrate. São preguiçosos.

Por outro lado, meu prezado amigo, se achou que eu disse o que eu não disse, fique tranqüilo, eu não disse o que eu não disse. Eu disse que devia contratar um tipo muito especial de preguiçosos.

Preguiçosos com raiva de mesmice, pasmaceira. Ódio de reunião improdutiva (com perdão pelo pleonasmo). Preguiçosos muito especiais. Especialistas em mudar o status quo, em revolucionar, em fazer mais com menos.

Mais e melhores resultados. Com menos dor, menos sofrimento, menos dificuldades, menos erros, e sim, porque não, com menos esforço. Preguiçosos que nos ajudam todos os dias tornando nossa vida mais saudável, mais segura, mais prazerosa de ser vivida.

Gente que respeita gente. E a gente.

Gente que cria soluções fantásticas, às vezes até bem simples, para resolver problemas complicados e atender muito bem as necessidades dos outros: vacinas, elevador, escada rolantes, cadeiras de rodas... e, sim, as vagas para deficientes.

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Eduardo Cupaiolo é autor de Contrate Preguiçosos - Conselhos pouco ortodoxos que tornam o ambiente de trabalho mais humano e produtivo,lançamento nacional da Editora MC em 2006.
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Autor: Eduardo Cupaiolo


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