O Natal nosso de cada dia



Outra vez é Natal. As pessoas vivenciam a data mais materialmente que espiritualmente, sendo generalizadas a ignorância a respeito e as adaptações aos interesses individualistas e corporativos. Prevalece Papai Noel, que tem origem cristã, travestido de garoto propaganda da sociedade de consumo, tal qual se faz com o coelho, na Páscoa.

Quem deveria ser festejado, Jesus Cristo, é relegado a plano inferior e descartável; até pelos seus seguidores. Com honrosas exceções, padres, pastores e fiéis das suas comunidades, celebram missas, cultos, novenas ou campanhas, discursam a importância de viver o real significado da data, bem como do tempo que a precede e sucede. Porém, igualmente às demais épocas, não se comprometem efetivamente com os verdadeiramente pobres e necessitados; seguem o que é atribuído ao Cristo, só que costumam navegar em águas rasas e calmas. Suas ações são superficiais ou pontuais, mais profissionais e sociais do que vocacionais; se o cerco aperta, em que pese haver alguma verdade, atribuem ao Governo, nas suas três esferas, a obrigação de agir pelos mais excluídos. Governo, qual seja, é formado por gente, na maioria, dita cristã. Então, governantes e cidadãos, quase todos empurramos com a barriga a chance de sermos solidários concretamente, habitualmente, e atribuímos responsabilidades ou culpas a terceiros: a gente só vai se incomodar e preocupar quando se sentir excluída e injustiçada. Sociedade e famílias só fazem refletir o que as pessoas realmente são. Inclusive, repito, a maioria dos cristãos, especialmente, os praticantes; sendo os piores aqueles nocivos chatos que têm certeza da posse da verdade, em nome de Deus: só eles sabem, só eles se salvarão. O outro, só será certo e salvo se converter-se ao rebanho deles: aí, suas falhas, safadezas e até dívidas financeiras serão perdoadas (coitados dos seus credores).

Está estarrecido comigo? Participe ativamente de alguma comunidade religiosa. Com atenção e bom senso, quanto mais duradoura e intensa a sua participação, verá que nelas proliferam a fofoca, a inveja, o individualismo, a sede pelo poder, a hipocrisia, a falta de conhecimento, o faz de conta, as comilanças e confraternizações natalinas e os belos discursos; nada muito diferente do que costumam fazer os políticos politiqueiros, por exemplo.

Felizmente, existe o outro lado. Se a humanidade dependesse só dos obtusos, acomodados, acovardados e pessimistas, nem a roda teria sido inventada. E se existissem somente hipócritas, corruptos, cínicos, egoístas e materialistas, talvez, há séculos o planeta seria desabitado de qualquer ser humano.

Religiosos ou não, dentro das religiões sérias e estruturadas, e nas outras, sempre surgirá gente realmente abnegada, séria, sensata, corajosa, solidária e útil ao próximo mais necessitado, não somente materialmente. Em geral, minoria, suficientes como testemunhos exemplares. Tenho convicção que o sustentáculo da humanidade sempre foi e será aquela gente capaz de dar até a vida pelo próximo, do qual, tantas vezes, sequer o nome se sabe: nem todos serão reconhecidos mas não é o que buscam. Nem todos entrarão para os livros de história mas não haveria história se não fossem pessoas como eles.

Somos todos naturalmente propensos ao o bem e tentados para o outro lado. Sobre esta balança passamos a vida.

O Natal de Jesus convencionou-se festejar em vinte e cinco de dezembro. O nosso, claro, é o dia do aniversário. Confesso o atrevimento de sentir que me proporciono outros natais cada vez que melhoro sentimentos e ações boas, notadamente, as benéficas à pessoas que sequer conheço, ou, conheço, não gosto ou não me querem bem. É loucura? É um desafio gratificante. Experimente: a vida é uma só mas se pode nascer um pouco melhor todo dia. O quanto é bom nascer melhor para as pessoas que a gente gosta, nem é preciso dizer!

Pratique uns natais para si mesmo: que presente se dar? Mais conhecimento, vontade, solidariedade, paciência, humildade, atitude, empatia, bom senso... Há fartura de presentes do gênero, não são supérfluos, nem perecíveis, estão sempre na moda, não têm preço. Ao se dar tais presentes, quanto mais os saiba usar mais ganhará de presente o convívio com consumidores e usuários dos ‘produtos’ dessas mesmas ‘lojas’. Se imaginar e saborear o que esta troca de presentes provoca, há de tornar-se feliz e fiel ‘cliente’. Precisa dum encarte com as promoções e produtos? Já que é Natal, sugiro um: atende pelo nome de Evangelho, encartado num livro chamado Bíblia.

Feliz Natal, todo dia.
Autor: José Carlos de Oliveira


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