SOBREVIVENTES DESGRAÇADOS



Rio de Janeiro, 25 de Setembro de 2006

Você que está lendo esse texto certamente faz parte de um “seleto” grupo de pessoas que dribla balas perdidas em suas próprias casas, pessoas que saem com medo de casa todas as manhãs sem saber se retornam sãs e salvas, pessoas com medo de enfrentar os tão freqüentes assaltos com armas apontadas para suas cabeças como os pequenos furtos de pivetes nos sinais de trânsito entre outras situações desagradáveis que já fazem parte do nosso dia-a-dia. Enfim, somos todos sobreviventes desgraçados neste Brasil de promessas em época de eleição.

Na verdade, nós mesmos somos os culpados por tudo isso já que somos os chamados “patrões” desse bando de políticos que a cada quatro anos voltam à cena do crime. E digo crime porque realmente é apenas um. O crime da negligência. Somos facilmente esquecidos após tanta consideração durante as campanhas eleitorais.

Mas a burrice não é apenas nossa, desse povo que não tem a coragem de soltar a voz e mudar uma situação que vem ocorrendo desde os primórdios dessa politicagem vergonhosa, mas também dos próprios políticos que perdem seu tempo roubando e se acusando, perdendo um tempo precioso, sem fazer aquilo pra que foram eleitos. Poderiam pelo menos ser espertos e roubar de uma forma mais discreta.

Enfim, todos nós perdemos e a palhaçada continua. Continuamos orgulhosos por sermos chamados de povo alegre e pacífico, mas não queremos notar que vivemos uma guerra interna, uma guerra entre brasileiros, uma guerra que fere nossa dignidade sem percebermos, uma guerra que a cada dia muda nossa própria identidade. Uma identidade que nos torna cada vez mais desiludidos e inseguros em um país que se diz em desenvolvimento. Um desenvolvimento irreal e tão repugnante que muitos literalmente fogem para países com oportunidades reais.

Na última sexta-feira o Globo Repórter mostrou como muitas famílias brasileiras vivem em condições muito melhores do outro lado do mundo. A China oferece a eles empregos e a segurança que não imaginamos um dia poder ter no Brasil. E da mesma forma há muitos outros países onde brasileiros se exilam, fugindo da situação constrangedora de sobrevivência dentro de um país com tanto potencial.

E é nesse país que somos obrigados a votar em pessoas que não param de prometer melhorias sem ao menos saber se o que está sendo prometido poderá ser cumprido. E é por isso que penso se vale a pena participar desse circo.

Voltei ao Brasil há três anos, depois de ter ficado dois fora, por uma simples razão: o coração bateu mais forte. Estava com saudades dos parentes, amigos e do Brasil. Sentia muita falta das pessoas queridas e de estar junto delas, mas até que ponto o nosso Brasil de ilusões merece parte do meu coração que por tanto tempo se doou?

Será que eu tomei a decisão errada de voltar? Não sei. Só sei que, pelo Brasil, meu coração não bate mais tão forte como antes.
Autor: Felix Per Liebrecht


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