SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA: ONDE SE ESCONDEU A SAÚDE?



SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA: ONDE SE ESCONDEU A SAÚDE?


© Dr. Alessandro Loiola
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Vez ou outra, sou pego de surpresa pela estranha semelhança da Medicina com outros nichos produtivos da economia. Por exemplo, a Indústria Automobilística. Periodicamente, os Congressos Médicos, assim como os Salões do Automóvel, lançam doenças de última geração seguidas de remédios idem. Lamentavelmente, nem sempre este casamento funciona a contento – vide escândalos recentes envolvendo alguns antiinflamatórios e vacinas contra rotavírus.

Outro exemplo de similaridade: o Setor de Serviços. Os Administradores passaram a denominar “Otimização do Tempo” o processo de mandar o funcionário fazer tudo simultaneamente, e “Motivação” a técnica para arrancar o couro do sujeito fazendo-o sentir-se culpado caso não esteja feliz com a situação - antigamente, tudo isso se chamava apenas “exploração” mesmo. Na Medicina, alguns especialistas também se dedicam batizar velhos problemas com novos nomes, tentando reduzir toda a complexidade da condição humana a um único diagnóstico.

Mais uma possível maravilha deste mundo fashion reducionista foi publicada há algumas semanas no prestigiado jornal médico The Lancet. No artigo, os Drs. Prins, Van Der Meer e Bleijenberg, da Holanda, chamam atenção para a Síndrome da Fadiga Crônica, ou SFC.

A SFC se caracteriza por fadiga com persistência de pelo menos 6 meses, não relacionada à doença orgânica ou esforços contínuos, que não diminui com o repouso e associada à redução das atividades diárias, prejuízo da memória ou da capacidade de concentração, dores de cabeça, musculares ou articulares, e mal-estar após os exercícios. A duração média dos sintomas varia de 3 a 9 anos. Segundo os autores, a incidência da SFC vem aumentando nas últimas duas décadas, principalmente em mulheres entre os 29 e 35 anos de idade (elas respondem por 75% dos casos).

Apesar da ainda não se saber o que exatamente causa a SFC, parece que o estresse tem uma participação importante. Além disso, os sintomas podem ser perpetuados por fatores psicológicos e sociais. Por exemplo: o aumento nos níveis de ansiedade e a falta de apoio social (p.ex.: pessoas com poucos amigos) contribuem para intensificar o quadro. Felizmente, a psicoterapia é capaz de solucionar mais de 70% dos casos, afirmam os médicos holandeses.

Meu incômodo foi observar que, juntamente com a popularização do diagnóstico de Síndrome da Fadiga Crônica (saliente-se: uma “doença” de manifestações vagas, causa indeterminada e tratamento inespecífico), está tendo início toda uma cadeia de eventos, notícias, encontros, seminários, palestras, liberação de verbas para pesquisa, e (principalmente) desenvolvimento de material promocional para tudo que for relacionado a SFC. A justificativa - politicamente correta e muito válida, por sinal - é a necessidade de “construção do conhecimento”.

Presenciar mais uma vez este fenômeno quase mercantilista leva à inevitável pergunta: onde termina a ciência pura e começa o simples comércio na medicina do Século XXI? Estamos atravessando tempos perigosos, onde um paciente corre o risco de ser visto apenas como a soma de seus sintomas elevada à potência do seu poder de compra, um consumidor esperando ser seduzido por campanhas publicitárias abordando doenças da moda, e não como um organismo vivo, complexo e repleto de idéias e vontades.

Nada contra o comércio ou o progresso da medicina, mas, quando lidamos com saúde, é preciso ter muito bem traçada a linha que divide o “lucro-a-todo-custo” do benefício honesto de quem ainda confia na ciência. É aquela velha história: um ser humano ainda é o melhor remédio para outro ser humano – pelo menos, até a hora em que a ganância nos transforma em nosso pior veneno.

O diagnóstico de Síndrome da Fadiga Crônica e o emprego dos avanços científicos de um modo em geral devem sempre obedecer ao Princípio Universal da Cautela. Prevenção e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Não procure doenças e remédios de última geração como se fossem botes salva-vidas capazes de lhe salvar de todas as suas angústias. Ao invés, busque auto-conhecimento, equilíbrio e harmonia. É aí que a verdadeira saúde se esconde.
Autor: Alessandro Loiola


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