Brasil: Ricos Poderosos, Pobres Acomodados



Autores: Carlos Tadashi Tamaoka* e Marçal Rogério Rizzo**

Concentração de renda! Esse “termo” é conhecido por todos, visto que já está socializado, falado e divulgado. Continuamente, tem sido motivo de discussões, estudos e pauta das políticas públicas.
Porém, as raízes dessa patologia social encontram-se na base histórica, já que, desde a “descoberta” do Brasil, passando por sua “independência”, proclamação da República, períodos ditatoriais e até a democracia dos dias atuais, a concentração de renda permanece presente. Durante o período colonial, os portugueses, tidos como os “donos desta terra de ninguém”, se aproveitaram das oportunidades e obtiveram enriquecimento fácil, aponderamento dos excedentes e, claro, concentraram renda. Atualmente, isso não é diferente. A elite, “dona dos meios de produção” e do poder político, tem ficado cada vez mais rica e a grande massa cada vez mais pobre.

Há várias visões e explicações para esse fenômeno:

Uns afirmam que isso ocorre por termos sido uma colônia de exploração, outros responsabilizam, única e exclusivamente, os governantes por tamanha desigualdade econômica e social. Entretanto, não extraindo a parcela de responsabilidade de quem exerce o poder, toma as decisões, administra o país, a outra parcela cabe a sua população, em especial os eleitores, que, por muitas vezes, se “abstêm” do direito do voto, vendendo-o, trocando-o por “picuinhas”, favores, interesses exclusivamente pessoais que os tornam reféns dos maus políticos.

Para uma população que negocia o seu voto, símbolo máximo da democracia, como se negocia uma mercadoria como, por exemplo, uma penca de bananas, ou mesmo, o troca por uma cesta básica, por uma dentadura, por uma viagem de lazer de fim de semana, não é merecedora de um autêntico governante ético, honesto e digno, mas sim, terá de uma corja de raposas famintas, prontas para dar o bote no dinheiro público. Com ressalva ao extremo, não se aplica essa afirmação como regra para toda classe de governantes, como também, nem a todos os eleitores.

Temos que levar em conta que a base histórica do Brasil criou algumas especificidades ao longo de sua trajetória econômica, política e social, já que não houve uma revolução, uma mudança social e persistem até hoje, duas classes sociais: os ricos acumulando mais e mais riquezas e, em contrapartida, os pobres se iludindo com três refeições diárias prometidas e continuando pobres, porém, em partes, alimentados.

Diante disso, cabem vários questionamentos: Ainda temos chance de mudar esse país? Como se tornar uma nação de verdade? Até quando essa desigualdade persistirá? Como acabar com essa patologia social?
Para responder a essas questões temos que pensar na ética e nos valores que a sociedade tem adotado. O Brasil, hoje, possui grande parte de seus governantes corruptos, “encrencados” de alguma forma com a justiça, preocupados apenas com as reeleições, com o “engordar” de suas contas bancárias e patrimônio pessoal em detrimento da construção de uma nação digna para toda a população. Não se vêem (com raríssimas exceções) políticos que defendam, fora do período eleitoral, a educação, a saúde, o saneamento básico entre tantos pontos importantes para o Brasil.

Outro ponto que acreditamos ser o principal é que nossa população não é preparada para votar adequadamente, uma vez que é iludida e até mesmo ludibriada facilmente pela mídia, pelos governantes e políticos. Isso a torna acomodada com a situação e atribui aos políticos a condição de definir os rumos do país. Os brasileiros depositam a confiança nos políticos e aguardam, acomodados, as “cenas” dos próximos capítulos de suas vidas e do país. Em contrapartida, a passividade do povo brasileiro acomoda os políticos e os deixa livres e soltos, para defender seus interesses pessoais (veja os casos do Senador Renan Calheiros e dos mensaleiros).

Investir em educação, preparar a população para a construção de um Brasil melhor seria o ideal, entretanto isso, desagradaria a maioria dos maus políticos e da própria elite.

Infelizmente, o que temos, atualmente, é uma massa manipulada aos interesses dessa classe dominante. A mídia brasileira (movida pela elite) deu mais ênfase à queda para a segunda divisão do péssimo time do Corinthians do que a impunidade do caso de Renan Calheiros. Parece que, no Brasil, o crime compensa!
Os brasileiros são marionetes e não conseguem se dar conta disso. É preciso sair deste espetáculo de ilusões, show de horrores, em que há exploração e elevação da concentração de renda. Idéias mirabolantes não faltam, o que falta é vontade política, respeito com a população e, claro, mobilização das entidades de classe, dos estudantes e dos próprios políticos sérios deste país para, juntos, realizar uma verdadeira revolução social.

Cadê o povo brasileiro de bem? Será que estão torcendo para o time Corinthians, assistindo às novelas ou esperando o próximo carnaval? Acordem do sono eterno em berço esplêndido!

*Carlos Tadashi Tamaoka: aluno do 4º Ano de Administração da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

**Marçal Rogério Rizzo: Economista, Professor Univeristário, Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas/SP (IE/UNICAMP) e doutorando em Geografia na área de Dinâmica e Gestão Ambiental pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP) – Campus de Presidente Prudente/SP.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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