Faculdades: muita bitolagem capitalista, pouca formação humana e científica
Explicando melhor a coisa: o Chip da Bitolagem Capitalista é uma metáfora da doutrinação capitalista-consumista trazida por essas faculdades. Os concluintes recebem todo um aparato psicológico, desde a leitura do anúncio do vestibular até a obtenção do diploma, para que sirvam ao “Deus Mercado” e orientem a vida inteira em torno dele. Leia-se neste último: viver nos objetivos únicos de ganhar dinheiro e comprar sua “felicidade” e “dignidade” através de bens de consumo muito desejados. E as faculdades mostram-se valorosos laboratórios de implante desses chips.
Vejam só os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Turismo, Ciência da Computação e Publicidade & Propaganda, os exemplos mais célebres de cursos oferecidos com orientação radicalmente capitalista e com alta exaltação salarial. Procure quantas faculdades particulares os têm. Você achará dezenas! E quando você procura por bacharelados de Ciências Sociais, Filosofia, Física, Química, Artes (plásticas ou cênicas), Arqueologia, Geografia e Geologia – só para dar os exemplos mais fortes – que exaltam por natureza a intelectualidade, o pensamento profundo, o senso crítico sócio-político e as pesquisas científicas... Uma, duas, no máximo três. Com o agravante de que alguns desses nenhuma ou quase nenhuma faculdade particular oferece. Uma comprovação de que o ensino superior está orientado em sua maior parte para a implantação de Chips da Bitolagem Capitalista, com muito preparo mercadológico e pouca orientação intelectual, científica e crítica.
Em suma, a maioria das pessoas não procura mais conhecimento científico humano ou exato, os quais têm poder legítimo de mexer com a essência do ser humano e com a sua evolução, mas sim quase que somente conhecimento estritamente profissional para chegarem ao mercado e levarem muito dinheiro para casa, sendo esta última opção perpetuadora do instante evolutivo atual e séria limitadora de nosso progresso como seres pensantes e ávidos por harmonia global.
Juntando os cacos dessa catastrófica situação de escanteio da intelectualidade, notamos a formação de um horrível ciclo vicioso: como as pessoas se influenciam pelo capitalismo onipresente, elas recorrem muito a cursos mercantilistas e muito pouco para cursos intelectualistas. Como poucos escolhem cursos intelectualistas, não é lucrativo uma faculdade neles investir. A formação mercantilizada dos diplomados e a prosperidade dos cursos mercantilistas enchem de ar a atmo$fera capitalista, o que influencia as pessoas a escolherem cursos mercantilistas em detrimento dos intelectualistas, estimulando o crescimento dos cursos capitalistas e o desprezo à outra categoria, e assim por diante. Notando que, abastecendo esse ciclo vicioso, há o duto de entrada de novos jovens, oriundos daquelas mesmas escolas que, com sua didática majoritariamente tosca, não estimulam a procura por conhecimento intelectual e científico.
E para piorar a coisa, essas pessoas “chipadas” têm sua capacidade de mudança social e de pensamento crítico levada ao mínimo, se não a zero. É aquela turminha das classes A, B e C que não quer nem chegar perto de favelas e embriaga-se de novelas, bebebês, shows, etc. como sua diversão alienante, em vez de lerem livros de conteúdo construtivo. Os pobres, à exceção dos felizardos que fazem um bom ENEM e ganham uma vaguinha nas faculdades via Prouni, ficam à margem desse círculo em que gira a sociedade que teoricamente teria mais condições de investir-se na universalização da harmonia social mas na prática só investe em si mesma. Nem ganham dinheiro, nem são exortados a pensar mais. Resultado: mobilidade social desprezível e estagnação do estado existencial (conjunto de intelecto, pensamento e desenvolvimento científico) da humanidade.
A solução disso é uma reforma educacional generalizada, com a mudança nos padrões de qualidade didática do ensino básico público e privado, incluindo a promulgação de diretrizes que obriguem as escolas a valorizarem as ciências humanas de intelecto e o estudo científico e a desenvolverem estratégias educacionais que mitiguem a má reputação dos métodos padrão de ensino existentes aqui. Com uma educação básica decentemente formativa, virão mais jovens pensadores e aptos a serem cientistas humanos ou exatos. Assim, a vazão do duto de jovens a receberem o Chip da Bitolagem Capitalista vai diminuir e as próprias faculdades particulares começarão a abrir gradualmente cursos intelectualistas e científicos. Só assim o país abandona a estagnação intelectual e científica e começa a se encher de pensadores, cientistas valorosos e agentes que trabalham em prol da sociedade. Então o desenvolvimento humano universalizado irá nos levar a um novo patamar de humanidade, pelo menos no Brasil, que se tornaria um país mais ético, harmonioso e de sociedade evoluída. A atmo$fera de dinheiro, que limita nosso desenvolvimento como pessoas, seria suplantada pela atmosfera de conhecimento científico-intelectual universalizado. Em outra frente, pararíamos o detrimento do Ser em relação ao Ter.
E tenho um apelo às universidades públicas: uma vez que elas, até onde percebemos, não têm essa compulsão de “chiparem” seus alunos para torná-los servos do “Deus Mercado”, seria de bom grado se começassem a divulgar seus vestibulares como portas para o desenvolvimento do conhecimento, das ciências e da humanidade. O que inclui lançar mão das frases ideais que eu citei bem acima.
Só assim a sociedade média daqui irá declarar apostasia da “religião” do “Deus Mercado”, parar de excluir as pessoas mais humildes de sua vivência e cuidar do interesse global de nos tornarmos seres humanos melhores e mais evoluídos e sábios. Pararemos de pedir bênçãos em dinheiro do “Deus Mercado” e pediremos sabedoria da “Deusa Evolução”. E com certeza as faculdades particulares e públicas estarão envolvidas nessa mudança, uma vez devidamente estimuladas. A humanidade não quer “vantagem no mercado de trabalho” para evoluir, e sim conhecimento intelectual e científico.
Autor: Robson Fernando
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