Carta para A.



Sei que você tem as qualidades suficientes para despertar a paixão repentina. Não só de plumas e ensaios vive uma pessoa como você. Há, em todos os cantos visíveis - até então - pedaços de sensibilidade.

Ah se o amor fosse feito de escolhas, de razão na hora de dizer sim - ou não. Se fosse somente uma peça de teatro em uma noite fria de domingo. Ah, se fosse simples esquecer, apenas para recomeçar. Simples seria também te amar. Te desejar.

É essa mania do destino de colocar as pessoas mais incríveis justo na hora em que a vida da gente tá toda bagunçada. Também me pergunto o que você viu em mim, sendo assim tão mais interessante que a minha simples pessoa.

Quando te vi - e vi - senti que deveria ter ficado em casa, mas não por você - por mim, que não tenho o direito de te fazer viver a confusão que vivo atualmente. Nada justo comigo, nada justo contigo. Nada justo esse tempo que sempre te dá outra chance quando é somente a hora de chorar.

E agora a confusão que já era grande ficou infinita. Feito a alegria do carnaval - só que sem samba. É uma música sem sentido que fica nos ouvidos sem querer sair.

Sei quão raro é quando os olhos cruzam o mesmo caminho - no primeiro instante em que se percebem. Raro feito arco-íris. Mas como dar cor aos seus olhos azuis se os meus cor de mel estão cinzas? Como dar a chance que me pede tão intensamente se acabei fechando as portas do meu coração sem previsão de esperança?

"Não te prive das coisas" - ouvi no momento em que repetia a taça de vinho azul. Talvez estivesse certa, mas nada certo seria estar junto sem estar. Deixar o momento agir sem refletir as consequências daquele ato.

Apesar de tudo que poderia ter sentido - se não houvesse me privado - não seria justo comigo, contigo nem com o que me deixa confusa. Porque a vida real não termina como na peça, onde as coisas são tão simples.

Não sei. Mas talvez não seja eu quem vai dar a resposta. E sim o tempo, mais uma vez o tempo, que não para mais. Deixa o sol agir queimando nossas peles e descascando o que me faz dizer não sei.

Esse não sei é apenas um medo absurdo de dizer sim e uma incapacidade incontrolável de dizer não. É um talvez que espera uma luz sem previsão de chegada.

Acho que estou viajando para bem longe. Mas eu prometo que, se resolver estacionar ao teu lado, será honesto. Enquanto ainda não chego a destino algum, o talvez continua a ser o melhor combustível.
Autor: Juliana Farias


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